A GAIATICE DE DOM ARIEVALDO
Passei ontem na Winner’s da Praça Osório para comer uma empada e um suco de cupuaçu e lembrei-me invariavelmente da minha viagem ao nordeste. Não saiu ainda da minha cabeça a idéia de escrever as memórias da Expedição Cordel, mas as proporções épicas e mitológicas do que tenho a dizer simplesmente me esmagam.
Como, por exemplo, falar do Arievaldo, engenhoso fidalgo, nosso irmão e supremo contato em Fortaleza, cuja casa virou nosso quartel-general? Nada, absolutamente nada, que eu disser sobre o Arievaldo pode dar uma idéia de como ele é na vida real. João Grilo? Robin Williams? Agoniado, energizado, maluco, bem-humorado, malandro, figuraça, gaiatíssimo?
Assisti recentemente ao filme Madagascar, animação da Dreamworks, e decidi que a única imagem que pode sugerir uma sombra do que é experimentar o Arievaldo em primeira mão é a do rei dos lêmures, Julien, dançando e cantando “Eu me remexo muito”. O rei Julien é uma versão serena, pacatíssima e domesticada do Arievaldo.
Cordelista, radialista, poeta, cartunista, leiauteiro, dançarino, xilogravurista, publicitário, comediante, dramaturgo, declamador, pesquisador, piadista, escritor, palestrante e figurinha difícil, Dom Arievaldo Viana é atualmente o menino-prodígio da literatura de cordel, seu talento e sua cruzada louvados de Bezerros no agreste pernambucano a Santa Teresa no Rio de Janeiro.
Assim que chegamos a Fortaleza o Ari deu-me de presente um exemplar da segunda edição do seu livro mais recente, O Baú da Gaiatice – um apanhado de “causos”, versos, memórias e crônicas de humor nordestino. Confesso aqui, como já confessei pessoalmente a Dom Arievaldo, que não esperava nem de longe que o livro fosse tão bom. Inquiro apenas dois parágrafos, o primeiro e oitavo da crônica PRODUTO EXTERNO BRUTO É COM NÓS:
Bastou a revista Newsweek publicar o caput da mais recente descoberta do professor Nikin Kando – baba de calango em jejum como o mais poderoso sucedâneo da gasolina aditivada -, para o vereador oposicionista Procópio Straus (vereador por Apuiarés, mas nascido no distrito de Cipó dos Anjos) requerer junto ao IBAMA, com o consentimento do Green Peace e da Associação de Macumba Senhor do Engenho, licença para criar em cativeiro as “n” espécies do retromencionado lacertílio – família dos teídos, os tais do “monossílabo” torto.
Fincado em área de 22 quilômetros quadrados e população que beira os 200 habitantes, Cipó dos Anjos possui quatro bancos, sendo um de sangue e três de cimento localizados na praça Alferes Claudemiro Quaresma (ilustre antepassado do intrépido Procópio), herói da Guerra do Juazeiro, condecorado com a Medalha da Ferradura por haver salvo a vida de um jumento canindé do Dr. Floro Bartolomeu.
E por aí, senhoras e senhores, vai.
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VER TAMBÉM crônica de PEDRO PAULO PAULINO
no site Recanto das Letras: O Baú do século
E vocês me perguntam:
ResponderExcluir- Quem diabo é PAULO BRABO??
Paulo BRABO era o cicerone do inglês Julian Crouch (será que escrevinhei certo o nome do grimgo?), cenografo, ilustrador, autor da capa da primeira edição do HARRY POTTER. Pois bem, para quem não sabe, estes ilustres personagens estiveram hospedados na minha humilde casa em 2004. Eles estavam pesquisando CORDEL e XILOGRAVURA, duas artes de que gostamos.