Santo Antônio na Literatura de Cordel
Porque Santo Antonio é considerado o Santo Casamenteiro? Esse antigo folheto de João Melchíades Ferreira, o Cantor da Borborema, poeta nascido em 1869 e falecido em 1933 conta uma antiga lenda corrente em Portugal de um milagre atribuído a Santo Antonio que fez uma pobre órfã casar-se com o homem mais rico de Lisboa. Vejamos, a seguir, os principais trechos deste poema:
AS QUATRO ORFÃS DE PORTUGAL
Autor: João Melchíades Ferreira da Silva
Na capital de Lisboa
Havia uma união
De quatro donzelas órfãs
Sem pai, sem mãe, sem irmão
Servindo a moça mais velha
Como mãe de criação
(...)
A irmã mais velha morre e as outras, ainda menores, ficam desamparadas. Maria, a mais jovem, não agüentando mais a fome sai vagando pelas ruas, disposta a prostituir-se para arranjar o que comer:
Maria arrumou a roupa
E deixou anoitecer
O pedido das irmãs
Em nada quis atender
Se despediu com a noite
Dizendo vou me vender
A noite era muito escura
Porém a moça seguia
Num oitão de uma igreja
Um vulto lhe aparecia
Esse vulto era de um padre
Pegou na mão de Maria
O padre disse: filhinha
A essa hora onde vai?
O que é que tu procura
Que daqui não passa mais
Volta que tuas irmãs
Ficaram chorando para trás
Padre é porque sou pobre
Uma órfã desvalida
Abandonei minhas manas
Para salvar minha vida
To atrás de uma pessoa
Que me dê roupa e comida
O padre disse: filhinha
Tu precisa é caridade
Então me diz se conhece
Na alta sociedade
Qual é o homem solteiro
Mais rico dessa cidade
Tem o Coronel Paulino
Que é um homem solteiro
Negociante na praça
Capitalista e banqueiro
O governo deve a ele
Grande soma de dinheiro
O padre tirou um lápis
Num papel pôs a escrever
Dirigindo o bilhetinho
De acordo a seu saber
Para o Coronel Paulino
Essa questão resolver
(...)
Quando o dia amanheceu
Maria no mesmo tino
Foi levar um bilhetinho
Ao coronel Paulino
Para saber da resposta
Qual seria o seu destino
No armazém de Paulino
Estava negociando
Uma sessão dos mais ricos
Sobre a negócio tratando
E viram aquela mocinha
Que vinha se aproximando
Eles se combinaram
Cada qual o mais ladino
Maria interrogou-se
Com o seu olhar feminino
Qual é aqui dos senhores
O grande coronel Paulino?
O coronel levantou-se
Chegou-se para Maria
Pronto, sou eu seu criado
Enquanto a moça dizia:
Trago esse bilhetinho
Para vossa senhoria
Dizia assim o bilhete:
“ - Meu honrado coronel
Dê para essa moçinha
O valor desse papel
Depois pese na balança
Até chegar ao fiel...”
O coronel ainda riu-se
E disse: hora muito bem
Isto não é precisão
Que se ocupe ninguém
O peso desse bilhete
Só pesa igual um vintém
Ele pegou o bilhetinho
Pois na balança um tostão
E foi botando dinheiro
Como quem pesa algodão
E a concha do bilhetinho
Só pesava para o chão
O coronel botou todo
O ouro que possuía
Botou dinheiro em papel
Que a balança não cabia
E a concha do bilhetinho
Mais pesada não subia
Ele arredou o dinheiro
Pesou-se com o papel
A concha do bilhetinho
Subiu e mostrou fiel
Era a honra da donzela
Que valia o coronel
O coronel disse: moça
Você é misteriosa
Qual é a sua oração
Na vida religiosa?
Este bilhete foi feito
Por uma mão milagrosa
Coronel, a minha mãe
De criação me ensinava
Santo Antonio é meu padrinho
A ele me entregava
Tomava a benção o santo
De noite quando rezava
Coronel essa noite
De casa vinha saindo
No oitão de uma igreja
Um vulto desconhecido
Mandou esse bilhetinho
Conforme vem dirigido
O coronel baixou a vista
E disse quando pensou
Então o bilhete foi
Santo Antonio quem mandou
Pra você casar comigo
Como o santo me apontou
Você é uma mocinha
Que vive em grande pobreza
A sua honra pesou
Mais do que minha riqueza
No dia que nos casar
Sou feliz por natureza
Desde ai o coronel
Tomou conta de Maria
Convidou os seus amigos
Casaram no outro dia
Mandou ver as duas órfãs
Para a sua companhia
FIM
Se isso é verdade eu não sei... apenas estou repassando a história pelo preço que colhi... Na certa o general não era devoto de Santo Antônio.
Oi Arievaldo,
ResponderExcluirObrigado por mais esse cordel de João Melchíades. Chegou a ver o quadro de Flávio Tavares em homenagem a ele e ao Romance do Pavão Misterioso? Abraço.
Olá VLADIMIR, ainda não vi o quadro de Flávio Tavares. Você tem como me enviar por e-mail?
ResponderExcluirAbs
ARIEVALDO VIANA
Arievaldo,
ResponderExcluirVou te passar o link para o post que escrevi sobre o quadro. Lá você terá acesso à imagem: http://www.principiodoescrever.com.br/2011/04/joao-melchiades-ferreira-por-flavio.html
Abraço!