Apresentamos um folheto raríssimo do mestre Leandro Gomes de Barros, publicado em 1907. A grita é contra a cobrança abusiva de impostos na República Velha. Pelo visto, as coisas não mudaram muito de lá para cá... Um detalhe importante: na capa da publicação aparecem alguns agentes (revendedores) dos folhetos de Leandro. Tudo indica que ele foi o primeiro a criar esse sistema de distribuição e chegou a ter agentes até no Acre. Como o leitor pode notar, mantivemos a grafia original do folheto:
O dezréis do Governo
(Leandro Gomes de Barros)
Conversavam dous vizinhos
Moradores de um sobrado
Exclamou, um oh! vizinho!
Já viu o que tem se dado?
O quê? - Perguntou o outro
Os 5 réis do estado.
Pergunta outro vizinho
Não é esse do vintém?
É um imposto damnado
Que não escapa ninguém,
É peior do que bexiga
Não repara mesmo alguém.
Bexiga ainda tem vacina
Que um outro sempre escapa
Mais esse imposto d’agora!
Só a doutrina do Papa
Qualquer cousa que se compra
Os fiscais dão mão de raspa.
Não me recordo do dia
Já estraguei a lembrança
Meu tio tem avó em casa
Foi fazer uma mudança
Pois para tirar a velha
Foram com ella a balança.
Morreu uma italiana
No pateo de São José
Pesavam cento e dez quilos
Os bichos de cada pé,
Foi pesada e pagou tudo
Veja o mundo como é.
O carcamano pai d’ella
Humilde que só um réu
Dizia senhor perdoe-me
Isso faz chamar o céo,
Disse o fiscal faz lá nada
Isto aqui é um pitéu.
Senhor! Exclamava o velho
Não tem isso nem aquilo
Dizia serio o fiscal
Aqui não escapa um grilo,
Á de pagar o estado
Cinco réis por cada kilo.
Outro italiano velho
Que vivia aqui na praça
Com dez kilos de remendo
Que tem no fundo da calça,
Quis sahir para a Italia
E não pode sahir de graça.
O gringo velho exclamava
Lançando um olhar no mundo
Oh! Senhor! este Brasile
É um abismo profundo,
Eu hei de levar a calça
Mas hei de deixar o fundo.
Comprou 3 caixas de flandre
Um funileiro atrasado
Ia sahindo escondido
Levando o flandre guardado
Disse um fiscal não senhor
Seu flandre á de ser pesado.
Nosso Brasil hoje está
Como quando inda era inculto
Quem foi quem já viu pagar
Por um meio absoluto?
Pesar-se em meio da praça
Até fumo de matuto!
Eu já tive uma idéia
Encuti no pensamento
Quando entrar outro governo
A novo regulamento,
Eu creio que inda se pesa
Chuva, sol, poeira, e vento.
Não sei o que descubram mais
Para acabrunhar o povo
É medonho o disparate
Que traz o governo novo
Fica tudo igual ao pinto
Que morre dentro do ovo.
Antes de haver eleição
Só vê-se é prometimento
Dizerem tudo melhora
Muda-se o regulamento
A melhora é augmentarem
Do que está sento por sento.
O mundo vai tão errado
E a cousa vai tão feia
A garantia do pobre
É ponta-pé e cadeia,
As creanças já não sabem
O que é barriga cheia.
A Semana tem seis dias
Quem quiser andar direito
Há de dar dous ao estado
E dois e meio ao prefeito,
E não á de se queixar
Nem ficar mal satisfeito.
O commercio nada perde
Ganha com isso tambem
Cresse cinco réis de imposto
Elle cá sobe um vintem,
E diz: chore quem chorar
Eu não sou pai de ninguem.
Entretanto o Brasileiro
Tem muito o que padecer
O governo que era o unico
Que podia proteger,
Diz: eu enchendo a barriga
Tudo mais pode morrer.
Assim mesmo ha homem
Inda esperando melhora
E vê que a justiça é cega
Disse hontem e nega agora,
E surda não ouve o echo
Do pobre aflicto que chora.
(Leandro Gomes de Barros)
Conversavam dous vizinhos
Moradores de um sobrado
Exclamou, um oh! vizinho!
Já viu o que tem se dado?
O quê? - Perguntou o outro
Os 5 réis do estado.
Pergunta outro vizinho
Não é esse do vintém?
É um imposto damnado
Que não escapa ninguém,
É peior do que bexiga
Não repara mesmo alguém.
Bexiga ainda tem vacina
Que um outro sempre escapa
Mais esse imposto d’agora!
Só a doutrina do Papa
Qualquer cousa que se compra
Os fiscais dão mão de raspa.
Não me recordo do dia
Já estraguei a lembrança
Meu tio tem avó em casa
Foi fazer uma mudança
Pois para tirar a velha
Foram com ella a balança.
Morreu uma italiana
No pateo de São José
Pesavam cento e dez quilos
Os bichos de cada pé,
Foi pesada e pagou tudo
Veja o mundo como é.
O carcamano pai d’ella
Humilde que só um réu
Dizia senhor perdoe-me
Isso faz chamar o céo,
Disse o fiscal faz lá nada
Isto aqui é um pitéu.
Senhor! Exclamava o velho
Não tem isso nem aquilo
Dizia serio o fiscal
Aqui não escapa um grilo,
Á de pagar o estado
Cinco réis por cada kilo.
Outro italiano velho
Que vivia aqui na praça
Com dez kilos de remendo
Que tem no fundo da calça,
Quis sahir para a Italia
E não pode sahir de graça.
O gringo velho exclamava
Lançando um olhar no mundo
Oh! Senhor! este Brasile
É um abismo profundo,
Eu hei de levar a calça
Mas hei de deixar o fundo.
Comprou 3 caixas de flandre
Um funileiro atrasado
Ia sahindo escondido
Levando o flandre guardado
Disse um fiscal não senhor
Seu flandre á de ser pesado.
Nosso Brasil hoje está
Como quando inda era inculto
Quem foi quem já viu pagar
Por um meio absoluto?
Pesar-se em meio da praça
Até fumo de matuto!
Eu já tive uma idéia
Encuti no pensamento
Quando entrar outro governo
A novo regulamento,
Eu creio que inda se pesa
Chuva, sol, poeira, e vento.
Não sei o que descubram mais
Para acabrunhar o povo
É medonho o disparate
Que traz o governo novo
Fica tudo igual ao pinto
Que morre dentro do ovo.
Antes de haver eleição
Só vê-se é prometimento
Dizerem tudo melhora
Muda-se o regulamento
A melhora é augmentarem
Do que está sento por sento.
O mundo vai tão errado
E a cousa vai tão feia
A garantia do pobre
É ponta-pé e cadeia,
As creanças já não sabem
O que é barriga cheia.
A Semana tem seis dias
Quem quiser andar direito
Há de dar dous ao estado
E dois e meio ao prefeito,
E não á de se queixar
Nem ficar mal satisfeito.
O commercio nada perde
Ganha com isso tambem
Cresse cinco réis de imposto
Elle cá sobe um vintem,
E diz: chore quem chorar
Eu não sou pai de ninguem.
Entretanto o Brasileiro
Tem muito o que padecer
O governo que era o unico
Que podia proteger,
Diz: eu enchendo a barriga
Tudo mais pode morrer.
Assim mesmo ha homem
Inda esperando melhora
E vê que a justiça é cega
Disse hontem e nega agora,
E surda não ouve o echo
Do pobre aflicto que chora.
Recife, 1907
LINK - Para visualizar a edição original do folheto:
http://docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=RuiCordel&pasta=&pesq=LC6077
O espaço criado pelo poeta Arievaldo Viana enriquece sobremaneira o banco de dados sobre a literatura de cordel, na internet, afundando de vez as naus fenícias, cartaginesas e saxãs da ignorância dogmatizada.
ResponderExcluirNossa que reliquia, o folheto que resgatei do poeta José Amancio e bem parecido, mas ja foi na decada de 70, porém a capa é bem semelhhante, nossa adorei !!
ResponderExcluirProf. Cris Moura