Dizem
que o mês de agosto tem uma aura de mistério. Mês do desgosto, segundo os supersticiosos... Não é a toa que os poetas tem um
certo receio do dia 24, dia de São Bartolomeu. Vejamos o que diziam Leandro
Gomes de Barros e José Pacheco:
“Vinte quatro de agosto
Uma data duvidosa
Dia em que o diabo se solta
E pode dizer uma prosa,
Nesse dia foi o parto
Da Vaca Misteriosa”
(O boi misterioso – Leandro)
A vinte quatro
Do oitavo mês do ano
Todo pessoal ‘romano’
Teme a São Bartolomeu...
(Peleja de um cantador de coco com o
diabo – José Pacheco)
Justamente
nesse mês, que ainda está na metade, morreram três grandes expoentes da poesia
popular.
Por
e-mail, o poeta Geraldo Amâncio nos informa sobre o falecimento de dois grandes
repentistas: “Nos últimos dois dias, perdemos dois poetas repentistas,
coincidentemente ambos tinham o nome de Luiz, Luiz Campos de Mossoró e Luiz
Bonifácio de Campina Grande. A notícia da morte do primeiro eu soube através do
poeta Zé Lucas de Barros e do segundo através do poeta Moacir Laurentino. Luiz
Campos foi de uma verve invejável, de uma criatividade ímpar em termos de
improviso. Como seria bom se os novos cantadores se espelhassem
nesse exemplo, perdessem o medo de improvisar, esquecessem a mania de escrever,
cujo gesto denigre a história da cantoria improvisada.Há centenas de estrofes
de Luiz Campos sendo declamadas, recitadas, lembradas de boca em boca, e não há
ninguém declamando estrofes dos cantadores que só cantam o que escrevem. Moacir
Laurentino diz com muita precisão, que a cantoria decorada é condenada pela
própria natureza. Siginifica dizer que morrendo o decoreba nada fica na memória
do povo. Luiz Campos além do improviso, também escrevia poemas matutos de belo
feitio.
Luiz
Bonifácio era um bom improvisador. A sua obra mais conhecida foi o poema
"Ninguém cortou meu destino" muito cantado nos programas de rádio e
nas cantorias em épocas passadas.
MORTE CRUEL ASSASSINA,
CARREGOU DE UMA VEZ SÓ
UM LUIZ DE MOSSORÓ,
OUTRO LUIZ DE CAMPINA.
NO MUNDO DO DESAFIO
FICA UM ETERNO VAZIO
DE CAMPOS E BONIFÁCIO.
GORGEIAM DOIS SABIÁS
NOS SALÕES CELESTIAIS,
LÁ NO DIVINO PALÁCIO.
(Geraldo Amâncio)”
Do poeta Marco Haurélio recebemos
também por e-mail a notícia da morte do poeta baiano Antônio Alves da Silva:
Morreu ontem, 14 de agosto, aos 85
anos, um dos maiores poetas da literatura de cordel brasileira, Antonio Alves
da Silva. Extraordinário romancista, dominava todas as formas fixas do verso
popular e tinha no humor seu traço mais marcante. Admirador do poeta, autor de
clássicos como João Terrível e o Dragão Vermelho e Maria Besta Sabida, incluí
um romance seu, João sem Destino no Reino dos Enforcados, na Antologia
do Cordel Brasileiro, publicada pela Global Editora. Em 2003, venceu o
concurso temático do Metrô e da CPTM, idealizado por Assis Angelo, com o
cordel A Maldição das Serpentes no Sítio do Velho Chico.
Durante os dois anos
em que trabalhei na Editora Luzeiro, editei vários de seus textos,
adquiridos por esta casa publicadora, entre eles Maria Besta Sabida, João
Azarento na corte da rainha Maravilha, As Palhaçadas de João Errado, Últimos
Dias de Antônio Conselheiro na Guerra de Canudos, A Matança de
Corisco Para Vingar a Morte de Lampião, Horácio de Matos, Herói da
Chapada Diamantina, João Corta-Braço e O Encontro
de Lampião com Antônio Silvino no Inferno.
Lamento a morte dois grandes poetas.
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