terça-feira, 13 de novembro de 2012

ABC DO CEARÁ - LANÇAMENTO

O poeta Rouxinol do Rinaré e o artista Kazane lançam "ABC do Ceará",viagem poética e visual pelo Estado
O cearense é famoso por seu engenho e, como todo brasileiro, por sua falta de memória. O poeta Rouxinol do Rinaré quis valorizar o primeiro atributo combatendo o segundo. É dele o "ABC do Ceará", que será lançado amanhã, às 11 horas, no Auditório Moacir Jurema, na X Bienal Internacional do Livro do Ceará - evento que acontece até dia 18, no Centro de Eventos do Ceará. O artista plástico e músico Kazane completa a obra, providenciando ilustrações para acompanhar as histórias em verso de "cearenses ilustres de renome nacional" (como anuncia o subtítulo).

"Quem nos uniu nesse projeto foi a editora, a Imeph. Fiquei muito feliz com a proposta, porque gosto muito de falar da nossa terra, sobretudo da nossa literatura, dos nossos artistas, cientistas", conta Rouxinol do Rinaré. Nascido em Quixadá, o poeta é movido pela curiosidade. É um dos mais prolíficos e elogiados cordelistas cearenses contemporâneos. E é assim, na métrica da poesia de folhetos, que ele faz desfilar figuras de relevo da história, remota e recente, do Ceará.

A lista de personalidades incluídas no ABC inclui figuras do passado colonial ao presente. Há espaço para escritores (José de Alencar, Rachel de Queiroz, a Padaria Espiritual), da música (o maestro Eleazar de Carvalho, o compositor Humberto Teixeira, o forrozeiro Messias Holanda, Fagner e Ednardo), religiosos (os padres Cícero e Ibiapina), militantes (o Dragão do Mar, Bárbara de Alencar, Dom Helder Câmara), cientistas (Rodolfo Teófilo, Expedito Parente) e empreendedores (o industrial Edson Queiroz e a presidente do Grupo que leva o nome dele, Yolanda Queiroz).
Tradição repaginada
"O ABC é uma forma poética antiga, tradicional na literatura de cordel. O mais comum era que tivesse só 23 estrofes (correspondente às 23 letras do antigo alfabeto adotado no Brasil) e fosse publicado como folheto. O meu trabalho com o Kazane é um ABC diferente: são muitas estrofes para cada letra, para poder incluir mais personagens", explica Rouxinol do Rinaré.

O resultado é uma coleção de versos e imagens sobre o Ceará que ocupam quase 50 páginas - complementados por mais 70 páginas, com perfis das figuras históricas citadas. "É um trabalho pensado para ser usado em sala de aula. E pode ser utilizado por alunos e professores em diversas disciplinas, já que não escrevi somente a respeito dos escritores e dos artistas. Ali, os versos citam todos os 184 municípios cearenses, fala de políticos, empresários, cientistas, intelectuais. Me preocupei, por exemplo, em inclui tanto figuras ainda não conhecidas, que são famosas, e outros que quase ninguém lembra. Por exemplo, quando você fala em Moura Brasil (1846 - 1929), as pessoas pensam logo do colírio, mas esquecem que ele foi um cientista cearense, conhecido como ´o príncipe da cirurgia oculista na América Latina´", detalha o poeta.

Outro critério do autor foi incluir não apenas os "heróis mortos" de nossa história, mas personagens ainda em atuação. Chico Anysio, por exemplo, foi incluído no time daqueles que ainda travavam seus combates. Morreu, no entanto, quando o livro já havia sido fechado.
Pesquisas
Da encomenda da editora à finalização das ilustrações, o projeto levou mais de um ano para ser concluído. Foram meses de leitura e de escrita. A parte mais difícil para o poeta foi, sem dúvida, fazer a seleção de quem entraria no "ABC". Quem vê o livro, sente falta desta e daquela figura importante. "Claro que não estão todos lá. Se eu fosse escrever sobre todo cearense importante, ia dar um livro mais volumoso que a ´Bíblia´. Talvez pudéssemos fazer um segundo volume", brinca Rouxinol com as possibilidades.

Rouxinol do Rinaré e Kazane já haviam trabalhado juntos em outro projeto. O artista criou a representação visual do romance (o gênero narrativo longo do cordel) "O preço da liberdade", que trata do alcoolismo na juventude.

"Já trabalhei com muitos bons ilustradores, como Rafael Limaverde, Eduardo Azevedo, Jabson Rodrigues e Fred Macêdo. Mas, para mim, o ´ABC do Ceará´ tinha a cara do Kazane. Gosto muito de trabalhar com ele, porque é um artista que sempre procura referências para seu trabalho", conta o poeta.

Kazane trabalhou sobre o poema pronto de Rouxinol. A partir dele fez uma exaustiva pesquisa de referências visuais, das imagens fáceis de achar na internet a retratos que teimavam em não ser encontrados. "Quem me deu mais trabalho foi o abolicionista Solon Pinheiro (1863 - 1943). Ficamos esperando ele aparecer, nas minhas idas a bibliotecas, arquivos. Mas, apesar das dificuldades, foi um trabalho prazeroso. Ser um livro sobre a terra empolga a gente", revela o artista.

Mais informações: X Bienal Internacional do Livro do Ceará. Até 18 de novembro de 2012, no Centro de Eventos do Ceará - Fortaleza. Horário de visitação: das 9 horas às 22 horas. Entrada gratuita. Programação completa em www.bienaldolivro.ce.gov.br
LIVRO
ABC do Ceará - Cearenses ilustres de renome nacional

Rouxinol do Rinaré (poemas) e Kazane (ilustrações)

Editora Imeph

2012, 124 páginas

R$ 70

5 comentários:

  1. Jamais desmereceria a obra de um poeta do porte de Rouxinol do Rinaré, entretanto, penso que fazer literatura popular ao preço de 70,00 (mais de 10% do salário mínimo) acaba comprometendo o acesso da maioria dos apreciadores. Será que existem dois tipos de cordel, um em formato de livro para as elites, outro em forma de folheto para o povão? O cordel está passando por um processo de COISIFICAÇÃO?
    Um abraço.

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  2. Caro leitor anônimo, obrigado pela visita e pelo comentário, no entanto permita-me discordar do seu ponto de vista.

    Na verdade não existem dois tipos de cordel, existem vários tipos de SUPORTE. Folhetos tradicionais, livretos, folhetos com capa colorida e ilustrações internas (Editora Luzeiro e afins), o chamado 'cordelivro' infanto-juvenil e até mesmo edições luxuosas, em capa dura e fino acabamento, como este excelente ABC DO CEARÁ. Além da pesquisa criteriosa e dos versos magnificos de Rouxinol, temos a arte do Kazane e textos em prosa sobre a biografia dos cearenses mencionados na obra. Nada impede, contudo, que continuemos publicando nossos textos no formato tradicional ao preço de 2 'minréis' o exemplar. Agora mesmo, estivemos na X Bienal Internacional do Livro do Ceará e 80% do material exibido era folheto. Inclusive textos que foram lançados no formato livro, como "O crime das três maçãs" e "O Rei do Baião, do Nordeste para o mundo", estavam impressos em simples folhetos, em preço mais que acessível. Diga-se, de uma vez por todas, que Literatura de Cordel é um GÊNERO LITERÁRIO e que o suporte no qual está impresso é que o menos importa, desde que sejam seguidas rigorosamente as regras básicas traçadas desde os tempos do velho mestre Leandro Gomes de Barros.

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  3. Sim, a literatura de cordel é um gênero literário e, diga-se de passagem, um dos mais importantes do Brasil. Não questionei os suportes nos quais um cordel pode ser apresentado, mas os preços praticados quando uma obra recebe um "roupagem" melhor. Quanto ao processo de COISIFICAÇÃO, creio eu, está cada vez mais explícito. Muitos poetas estão deixando de lado a criatividade e a inspiração para se transformarem em VERSEJADORES, tudo isso, para atender aos interesses de editoras que têm os olhos voltados apenas para o MERCANTLISMO, seja colocando nas prateleiras das grandes livrarias ou distribuindo, de forma muito lucrativa, através de órgãos ligados ao governo.

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  4. Sou obrigado a concordar que existem muitos "versejadores" produzindo coisas de má qualidade (70% do que se produz atualmente é lixo), mas não é o caso do poeta Rouxinol do Rinaré, um dos mais inspirados da nova geração de poetas cordelistas. Toda a sua obra é marcada por um traço de qualidade inconfundível.

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  5. Sei que o poeta Rouxinol do Rinaré pertence ao rol dos grandes poetas da atualidade, conheço, de ter lido e não ouvido falar, vários trabalhos dele.
    Como lhe disse, no primeiro comentário, jamais desmereceria o trabalho de um poeta da grandeza de Rouxinol do Rinaré, questionei outras coisas, não o valor da obra.

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