quinta-feira, 22 de setembro de 2011

POEMA DE LUIZ CAMPOS


O velho deus da fome
e o politico mentiroso
Autor: Luiz Campos (Mossoró-RN)

Se a deusa inspiradora
Não negar-me inspirição
Eu vou versar uma cena
Que me chamou a atenção
De um velho e um político
Numa época de eleição.

Numa noite eu ia às trelas
Sem saber pra onde ia
Fui sair numa hodega
De uma periferia
E vi uma multidão
Fui saber o que havia.

Cheguei lá era um político
De paletó, de colete,
O bucho cheio de Whisky,
Caviar e rabanete
Improvisando um comício
Trepado num tamborete.

Como essas coisas chamam
Atenção do curioso
Eu pensei com meus botões
Não é hora de repouso
Eu vou ouvir meia hora
O político mentiroso.

O moço falava bem
Devido ter muito estudo
Puxava os “érres e ésses”
Caprichava o ponto agudo
Mas para iludir matuto
Nem precisa disso tudo.

No discurso prometia
Que se ganhasse botava
Água e luz em todo canto
Até emprego arranjava
Mas só da boca prá fora
Porque nisso nem pensava.

E prometia também
Fazer a Maternidade
Praça com parque infantil
Melhorar toda a cidade
E o povo de boca aberta
Pensando que era verdade.

De vez em quando ao outro
Candidato ele atacava
Partido bom, era o dele;
O do outro, não prestava
Apontava erros alheios
Mas os dele não mostrava.

De vez em quanto uma salva
De palmas aparecia
Porém um batia palma
Mas já outro, não batia
Um dizia: - Já ganhou;
Mas já outro não dizia.

E ele continuou
No rosário de promessa
Dizendo: - Vamos mudar
Pra melhor, a vez é essa.
Só porque todo político
Só confia na conversa.

Pedia voto pra ele
E pra outro candidato
E saiu mais de um moleque
Distribuindo retrato
Eu até recebi um
Mas joguei logo no mato.

Fiquei prestando atenção
Ouvi tin-tin por tin-tin.
Um dizia: - O homem é bom;
Outro dizia: - ele é ruim
Porque se ele prestasse
Não tava mentindo assim.

Ouvi um negor dizer:
 - Vamos votar no rapaz
outro negro respondeu
 - Quem votar nele só faz
retirar Jesus do trono
pra colocar satanás.

Vendo o povo dividido
Eu fiquei meio indeciso
Nisso falou um senhor,
Desses que possuem juízo
Quem votar em qualquer um
O povo tem prejuízo.

E ele continuou:
 - Faço isso, faço aquilo
pois político demagogo
nem pra falar tem estilo
quando fala é “intirisse”
como cantiga de grilo.

Nesse momento um velhinho
Da idade de Noé
Desses que só dá um metro
Depois que se põe em pé
Gritou no meio do povo:
 - me dê licença, seu Zé.

O senhor já falou muito;
Sei que o senhor fala bem
Mas se o senhor tem direito
Eu acho que a gente tem
Dê licença dez minutos
Que eu quero falar também.

Eu sou do século passado
Nem da minha idade eu sei.
Me criei sem ter escola
Não cresci, atrofiei
Mas em mulher e político
Até hoje não confiei.

O senhor vai desculpando
Que eu sou meio arigó
Político é como menino
Desses criado por vó
Que quer tudo quanto vê
Pede muito e come só.

Você prometo água e luz
Dizendo que é prá JÁ
Eu tenho plena certeza
Que não acontecerá
Mas se isso acontecer
De nós pobres, o que será?

Se o senhor botar luz
Todo mês cobra uma taxa
E só chega taxa alta,
Nunca chega taxa baixa
Que água e luz só dão certo
Pra quem tem grana na caixa.

E a luz tem outro troço
Entre os outros mais nojentos
Todo mês chega um papel
Cada papel, um aumento
E a gente fica sem luz
Se atrazar o pagamento.

Aumento em cima de aumento
Que de nós ninguém tem dó
Água e luz já estão mais caros
Do que mesmo o ouro em pó
Garanto que ninguém paga
Dois papéis de um preço só.

A água é do mesmo jeito
Dia tem, oito não tem
O órgão que distribui
Nunca explicou pra ninguém
Mas todo final de mês
Espere o papel que vem.

E se o asfalto passar
Acaba o nosso aveloz
Depois do tapete preto
O carro passa veloz
Pra matar nossas crianças,
Passar por cima de nós.

E essa maternidade
Isso é um plano perdido
Porque mulheres daqui
Quase todas têm marido
E as que não são ligadas
Só vivem no comprimido.

Quando o velho falou isso
O povo reconheceu
E quem gritou: - Já ganhou
Ai gritou: - já perdeu
E ele desconfiado
Do tamborete desceu.

Ainda tentou falar
Porém tudo foi em vão
Trepado não ganhou nada
Avalie tando no chão
Ainda estirou o braço
Mas ninguém pegou na mão

Ele meio desajeitado
Pegou o carro e saiu
Com tanta velocidade
Chega a poeira cobriu
Em menos de um segundo
Numa curva se sumiu

Mas como a derrota é triste
Eu sentí pelo rapaz...
Falar tanto, ganhar nada,
Mas quem promete e não faz
Só é bom que seja assim
Goze menos, sofra mais.

Me aproximei do velho
Perguntei: - como é seu nome?
Ele disse: - Sou José,
Mas me chamam “Deus da Fome”
Porque vivo revoltado
Com quem trabalha e não come.

Aí voltei para casa,
Fui dormir e não dormi
Passei a noite acordado
Pensando no que ouvi
E como estava sem sono
Este folheto escrevi.

FIM

Desenho: JÔ OLIVEIRA

2 comentários:

  1. Está de parabéns o autor do blog pela coerência com que edita o mesmo, sem desviar da vereda, ora pisando em boioterismo, ora no mato...

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  2. O poeta Luiz Campos faleceu em Mossoró no dia 13 de agosto de 2013, no Hospital Regional Tarcísio Maia. Estava com a saúde frágil e com as vistas comprometidas.

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