LEANDRO GOMES DE BARROS
Por: ARIEVALDO VIANA*
Leandro Gomes de Barros nasceu na fazenda Melancia, em Pombal-PB, no dia 19 de novembro de 1865 e faleceu em Recife-PE, no dia 4 de março de 1918, segundo alguns pesquisadores, vitimado pela Influenza espanhola. Era filho de José Gomes de Barros Lima e de dona Adelaide Xavier de Farias, irmã do padre Vicente Xavier de Farias, que ajudou a criá-lo. Por causa dos maus tratos que o padre lhe infligia, fugiu de casa ainda na adolescência, tendo passado muitas privações. Qualquer semelhança com a história de Cancão de Fogo e Alfredo talvez não seja mera coincidência:
“Fui um menino enjeitado,
Fui triste logo ao nascer,
Nenhuma ave noturna
Tão triste não pode ser
Eu sou igual ao deserto
Onde ninguém quer viver”
Fui triste logo ao nascer,
Nenhuma ave noturna
Tão triste não pode ser
Eu sou igual ao deserto
Onde ninguém quer viver”
Leandro residiu, até os 15 anos de idade, no Teixeira, na Paraíba (berço dos grandes cantadores do passado), tendo se mudado após esse período para Vitória de Santo Antão-PE, onde casou-se com dona Venustiniana Eulália de Barros, com quem teve quatro filhos, segundo apurou a conceituada pesquisadora Ruth Brito Lemos Terra em sua obra , Memórias de Lutas: Literatura de Folhetos do Nordeste 1893 1930. Os filhos de Leandro eram Rachel Aleixo de Barros Lima, Herodias (Didi), Julieta e Esaú; este último seguiu a carreira militar, tendo participado da Revolução de 1924 e da Coluna Prestes. Na década de 1970 Ruth Terra conseguiu entrevistar Julieta Gomes de Barros, uma das filhas de Leandro, tendo colhido excelentes informações sobre a família do poeta. Um dos filhos, Esaú, assinou juntamente com a mãe o documento de venda da obra de seu pai ao poeta João Martins de Athayde.
Ele foi o fundador da poesia popular no Brasil e o mais importante poeta de seu tempo, conforme o testemunho do poeta Francisco das Chagas Batista. É também autor de dois folhetos, dos três que serviram de inspiração para Ariano Suassuna compor O Auto da Compadecida. São eles: O Dinheiro - O testamento do cachorro -, de 1909, e O Cavalo que Defecava Dinheiro. Estima-se que sua vasta produção literária, iniciada em 1889, no estado de Pernambuco, atinge cerca de 600 títulos, dos quais foram tiradas mais de 10 mil edições. Entre 1906 e 1917 foi proprietário de uma pequena gráfica para impressão e distribuição de seus próprios folhetos, em Recife-PE, tendo vendido o seu prelo ao amigo Francisco das Chagas Batista, da Popular Editora. Após a sua morte, em 1918, seu genro Pedro Batista (irmão de Chagas Batista e esposo de Rachel Aleixo de Barros, filha de Leandro), continuou editando a sua obra em Guarabira-PB, fazendo algumas revisões de linguagem.
Em 1921 ocorreu a venda dos direitos autorais de Leandro Gomes de Barros, pela viúva do poeta, a João Martins de Athayde, que passou a publicar os folhetos omitindo nas capas o nome do autor e alterando o acróstico na estrofe final de muitos folhetos. Leandro escreveu folhetos de cordel de grande aceitação popular, como História da Donzela Teodora, Juvenal e o Dragão, História de Pedro Cem, A Vida e o Testamento de Cancão de Fogo, Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, A Força do Amor Alonso e Marina, Antônio Silvino, o Rei dos Cangaceiros e O Boi Misterioso. Pioneiro na produção de literatura de cordel no país, Leandro Gomes de Barros foi considerado por Luís da Câmara Cascudo "o mais lido de todos os escritores populares. Escreveu para sertanejos e matutos, cantadores, cangaceiros, almocreves, comboieiros, feirantes e vaqueiros. É lido nas feiras, nas fazendas, sob as oiticicas, nas horas do 'rancho', no oitão das casas pobres, soletrado com amor e admirado com fanatismo. Seus romances, histórias românticas em versos, são decorados pelos cantadores". No poema abaixo, o poeta faz uma interessante auto-descrição de seu tipo físico:
LEANDRO POR ELE MESMO
A cabeça um tanto grande e bem redonda,
O nariz, afilado, um pouco grosso;
As orelhas não são muito pequenas,
Beiço fino e não tem quase pescoço.
Tem a fala um pouco fina, voz sem som,
De cor branca e altura regular,
Pouca barba, bigode fino e louro.
Cambaleia um tanto quanto ao andar.
Olhos grandes, bem azuis, da cor do mar;
Corpo mole, mas não é tipo esquisito,
Têm pessoas que o acham muito feio,
Mas mamãe, quando o viu, achou bonito!
* In "Acorda Cordel na Sala de Aula", segunda edição, Editora Queima-Bucha, 2010.
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