quarta-feira, 6 de março de 2019

SONETO DAS CINZAS




O VOO DA MORTE

Na parede dos fundos da bodega
Na brancura da cal toda lavada
A rolinha que voava, encandeada,
Cai ferida, ensanguentada e cega.

Ouço a voz animada de um colega
De brinquedos, comigo na calçada:
— Já que nunca as mataste em caçada
Aproveita, come esta, vamos, pega!

Fui menino e não tive a mão certeira
Se algum dia atirei de baladeira
Não me lembro de acertar u’a pedrada.

Pego o pobre pássaro e considero:
— Hoje é quarta de Cinzas, eu não quero.
Saio mudo, dali, não digo nada.

Arievaldo Vianna



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