domingo, 5 de maio de 2013

CORDEL "REDESCOBRE" A AMAZONIA

 
 
No início do século XX o Pará teve intensa participação na publicação de folhetos de cordel através da GUAJARINA, editora de Francisco Lopes, na qual pontificou o poeta Firmino Teixeira do Amaral. Por sugestão do folclorista Vicente Salles, recém-falecido, a Feira Pan-Amazonica do Livro, realizada em Belém, abriu espaço para os cordelistas. Vejam a seguir, matéria publicada no jornal DIÁRIO DO PARÁ, cujo exemplar me chegou às mãos através do editor Gustavo Luz, de Mossoró, um dos entrevistados na matéria. Notem que alguns folhetos de minha autoria aparecem na foto que abre a matéria:

LINK: http://www.diariodopara.com.br/N-168307-TRADICAO+E+PALAVRA+AFIADA.htm




Você – DIÁRIO DO PARÁ, Sexta-feira, 3 de maio de 2013

Tradição e palavra afiada

Rima simples para ecoar tradições populares, estórias que permeiam o imaginário de um país. A literatura de cordel, conhecida expressão que surgiu no seio da região nordestina, começa na oralidade para desembocar em folhetos bem humorados e singelos – uma manifestação criativa e bem humorada do saber de um povo simples. O universo lúdico construído por meio destas publicações tem espaço cativo na Feira Pan-Amazônica do Livro. Amanhã, durante o dia, será realizado o III Encontro de Cordelistas da Amazônia, com uma programação que conta com palestra, oficina e uma feirinha de cordéis.

A literatura de cordel tem origem longínqua. Considerada uma das formas literárias mais populares do Brasil, sua ideia base vem da época do Renascimento, quando se popularizou o costume de produzir publicações escritas na tentativa de eternizar relatos orais. “O cordel como uma publicação é apenas o resultado físico de uma produção literária que é falada. É uma literatura que é recitada, cantada, para depois ganhar o papel”, explica Cláudio Cardoso, editor de cordéis e um dos organizadores do Encontro. E a inspiração já atravessou o oceano pacífico batizada. Em Portugal, os folhetos eram conhecidos como cordel, pois eram expostos para venda em cordas ou barbantes. No nordeste brasileiro, a tradição do varal foi mantida, mas também criou-se uma nova forma de escoamento: os populares livretos começaram ser vendidos expostos em bancas, vendidos no famoso modo “corpo a corpo”.

Autores travam luta contra o esquecimento

E no nordeste também se construiu uma estética própria da manifestação, com temas e visual mais próximos da realidade brasileira.Com a vinda dos nordestinos para a região amazônica no final do século XIX - movimento ocasionado por causa dos ciclos da Borracha, do Peonato (construção da Rodovia Transamazônica) e do Minério – o cordel veio na mala. Em 1914, um pernambucano monta a primeira editora de cordel da região, a Guajarina, que ajuda na propulsão do trabalho dos cordelistas que já começaram a despontar por essas bandas. De lá para cá, surgiram diversos cordelistas na capital e nos municípios paraenses. Uma produção que resiste às dificuldades de se fazer poesia popular, cheia de requintes artesanais.

Salve os cordelistas da Amazônia

Este é o terceiro ano consecutivo que o Encontro de Cordelistas da Amazônia é realizado, sempre dentro da Feira do Livro. A ideia de promover um evento para saudar a classe artística local partiu do pesquisador Vicente Salles. “Vicente era um dos maiores pesquisadores e colecionadores de cordéis da região. Em uma conversa, ele nos deu essa ideia, de criarmos uma ocasião para discutir e promover essa arte. Tinha que vir dele, não é mesmo?”, conta Juraci Siqueira, cordelista que junto de João de Castro e Cláudio Cardoso organiza o encontro.

Com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado, o grupo conseguiu fazer a primeira edição em 2011, que contou com a modesta participação de 15 pessoas na plateia. No ano seguinte, o número de público aumentou consideravelmente, para 150 participantes. “Com essa visibilidade ficou provado que as pessoas têm interesse pelo assunto e assim a Secult nos disponibilizou um espaço maior. Neste ano, a palestra do Encontro será na sala Marajó, às 10h, e terá participação do professor e poeta Jesus Paes Loureiro e do doutorando Hiran Possas, que pesquisa os cordéis amazônicos. Os organizadores do encontro também participam do debate.

Esse crescente interesse do público e do próprio Estado anima os cordelistas. Organizados em uma associação, o interesse deles é que o cordel seja finalmente reconhecido como um instrumento didático de ensino. “Há tempos a gente busca a inserção do cordel tanto como conteúdo literário nas escolas, como ferramenta para o aprendizado. Nossa intenção não é comercial, é mais de promover esse conhecimento popular, às vezes esquecido”, argumenta Cláudio.

Um bom exemplo dessa luta está na participação do potiguar Gustavo Luz. Ele é fundador da editora “Queima Bucho”, que publica cordéis do Rio Grande do Norte, do Ceará e de outros estados do Nordeste. “Montei a editora para publicações diversas, mas há cinco anos montei a coleção só para cordéis. A gente sente que está acontecendo uma ‘revitalização’ dessa expressão. Temos muitos cordelistas e as pessoas consomem os folhetos. A grande dificuldade é mesmo a distribuição, daí a importância de feiras e encontros”, esclarece Gustavo. A “Queima Bucho” participa do encontro com a exposição de pelo menos 200 títulos diferentes.

João de Castro nasceu em Palmares, no Pernambuco, mas já mora no Pará desde 1972. Conhecido por ser um cordelistas crítico – sua última publicação foi “Belo Monte, o belo de destruir”, com escritos contrários à construção da Hidrelétrica em Altamira -, João acredita que o ponto alto do encontro são os contatos e ideias que surgem a partir dos papos. “Os cordelistas trabalham vendendo de forma independente, se esforçam para produzir e normalmente contam apenas com pequenas editoras. Então, numa situação como a do encontro, podemos tanto conversar com outros como nós, como com o público também. E isso só fortalece nossa rede”, diz.

Além da palestra, haverá também uma oficina de cordel, com duas turmas, entre as 16h e 18h. Durante todo o dia, no estande do Escritor Paraense, haverá a feira de cordéis. “Teremos aí pelo menos 300 títulos diferentes e estarão presentes em torno de 20 cordelistas – alguns de Belém e outros de demais municípios. Vamos aproveitar a oportunidade para discutir a realização da 1ª Feira de Cordel da Amazônia no segundo semestre deste ano”, antecipa Cláudio.
 LINK: http://www.diariodopara.com.br/N-168307-TRADICAO+E+PALAVRA+AFIADA.html

 

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