O PROTESTO DE JOÃO GRILO CONTRA A FOME
A FOME é um problema secular. Milenar, certamente. A ganância dos poderosos faz com que haja grande desperdício de alimentos na mesa de uns poucos privilegiados e falte o pão na mesa de muitos. A Bíblia se reporta a isso com frequência, na visão crítica incisiva de seus profetas. A ONU, Organização das Nações Unidas, vem propondo, através da FAO o consumo de insetos para resolver definitivamente o problema da fome mundial. Gasta-se bilhões com guerras, armas quimicas e nucleares, projetos espaciais, colônias em Marte, mas o alimento sagrado, o pão nosso de cada dia ainda é um problema para os nossos governantes. Indignados com essa proposta das Nações Unidas, os poetas Arievaldo Viana e Pedro Paulo Paulino imaginaram um bem humorado protesto, dando voz e vez ao irrequieto JOÃO GRILO, o pícaro por excelência, o Anti-Herói "amarelinho" mais querido do Brasil. Vejam alguns trechos do poema. A capa é provisória e utiliza montagem em cima de uma xilogravura do grande artista Stênio Diniz.
Todos sabem que João Grilo
É o quengo mais completo.
Há muito tempo que João
Andava bastante quieto.
Mas agora ele voltou,
Depois que a ONU mandou
O povo comer inseto.
Já sabemos que a ONU,
Um tribunal soberano
Cuja sede está plantada
Lá no solo americano,
A fim de matar a fome
Desse povo que não come,
Desenvolveu mais um plano.
No continente africano
A fome ainda campeia
Em muitas tribos, coitadas,
A situação é feia:
Têm brisa pra merendar,
Sobejos para almoçar,
Pastel de vento pra ceia.
Enquanto isso o Japão,
Por escassez de alimento,
E, também, de certo modo
Falta de discernimento,
De dinheiro fez aporte
E quer que o Brasil exporte
Carne de burro e jumento.
Até
aí, nada novo,
O
povo estava tranqüilo.
Porém,
depois que a ONU
Recomendou
comer grilo,
João
Grilo ficou passado,
Anda
muito revoltado,
Só
se ouve o seu estrilo.
Voltou
fazendo protesto,
Por
sinal, muito feroz.
Amolou
suas antenas,
Afinou
mais sua voz,
E
do reinado onde estava,
Com
a cuca muito brava,
João
Grilo partiu veloz.
É
que João Grilo cantava
Tranquilo
dentro da mata,
De
repente ouve a notícia
Que
de raiva quase o mata:
“A
ONU anuncia, enfim,
Que
o povo coma cupim,
Besouro,
grilo e barata”.