quinta-feira, 16 de maio de 2013

NOVO CORDEL


 
O PROTESTO DE JOÃO GRILO CONTRA A FOME
 
 
A FOME é um problema secular. Milenar, certamente. A ganância dos poderosos faz com que haja grande desperdício de alimentos na mesa de uns poucos privilegiados e falte o pão na mesa de muitos. A Bíblia se reporta a isso com frequência, na visão crítica incisiva de seus profetas. A ONU, Organização das Nações Unidas, vem propondo, através da FAO o consumo de insetos para resolver definitivamente o problema da fome mundial. Gasta-se bilhões com guerras, armas quimicas e nucleares, projetos espaciais, colônias em Marte, mas o alimento sagrado, o pão nosso de cada dia ainda é um problema para os nossos governantes. Indignados com essa proposta das Nações Unidas, os poetas Arievaldo Viana e Pedro Paulo Paulino imaginaram um bem humorado protesto, dando voz e vez ao irrequieto JOÃO GRILO, o pícaro por excelência, o Anti-Herói "amarelinho" mais querido do Brasil. Vejam alguns trechos do poema. A capa é provisória e utiliza montagem em cima de uma xilogravura do grande artista Stênio Diniz.
 
Todos sabem que João Grilo
É o quengo mais completo.
Há muito tempo que João
Andava bastante quieto.
Mas agora ele voltou,
Depois que a ONU mandou
O povo comer inseto.
 
 
Já sabemos que a ONU,
Um tribunal soberano
Cuja sede está plantada
Lá no solo americano,
A fim de matar a fome
Desse povo que não come,
Desenvolveu mais um plano.
 
 
No continente africano
A fome ainda campeia
Em muitas tribos, coitadas,
A situação é feia:
Têm brisa pra merendar,
Sobejos para almoçar,
Pastel de vento pra ceia.
 
 
Enquanto isso o Japão,
Por escassez de alimento,
E, também, de certo modo
Falta de discernimento,
De dinheiro fez aporte
E quer que o Brasil exporte
Carne de burro e jumento.
 
Até aí, nada novo,
O povo estava tranqüilo.
Porém, depois que a ONU
Recomendou comer grilo,
João Grilo ficou passado,
Anda muito revoltado,
Só se ouve o seu estrilo.
 
 
Voltou fazendo protesto,
Por sinal, muito feroz.
Amolou suas antenas,
Afinou mais sua voz,
E do reinado onde estava,
Com a cuca muito brava,
João Grilo partiu veloz.
 
 
É que João Grilo cantava
Tranquilo dentro da mata,
De repente ouve a notícia
Que de raiva quase o mata:
“A ONU anuncia, enfim,
Que o povo coma cupim,
Besouro, grilo e barata”.
(...) 
LANÇAMENTO EM BREVE! AGUARDEM!!!

QUEM É JOÃO GRILO - O famoso amarelinho que protagoniza a principal obra do dramaturgo brasileiro Ariano Suassua - O auto da Compadecida - é oriundo da Literatura de Cordel mas está presente nos contos populares africanos e europeus. Segundo Théo Brandão, folclorista alagoano, João Grilo aparece em contos populares de mais de 60 países, muitas vezes como um bobalhão que se dá bem graças a sua sorte incomparável. No Brasil ele adquiriu caracteristicas próprias do povo nordestino:

Porém o Grilo criou-se
Pequeno, feio, sambudo
As pernas tortas e finas
Magro, amarelo e beiçudo
No sítio aonde morava
Dava notícia de Tudo.

(In 'As proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima)