PADRE NOSSO DO IMPOSTO
Autor:
Leandro Gomes de Barros
Nunca se viu tanto imposto
Num país como esse nosso
Cobra-se até de quem reza
Padre Nosso.
Nos falta calçado e roupa
Quem compra mais um chapéu?
Acode-nos, pai da pobreza
Que estás no céu.
Olhe que o pobre matuto
Que vê o milho encostado,
Não pode guardar nem um dia
Santificado.
Carne fresca e toucinho
O pobre matuto não come,
Ainda que, o que ele implore
Seja o vosso nome.
Meu Deus! Temos esperança
Só no socorro de vós,
Fazei que um bom inverno
Venha a nós.
De rato, lagarta e formiga
Vos pedimos, defendei-nos
Imploramos todos os dias
Ao vosso reino.
Livrai-nos que contra nós
Caia a ira do prefeito
E o mercado da cidade
Seja feito.
Fazei que caia o imposto
Da municipalidade
Mas, queira Deus eles façam
A vossa vontade.
O estado nos oprime,
O município faz guerra,
Nunca se viu tanto imposto
Assim na terra.
Queixa-se o povo em geral
Que vive como tetéu
E o governo vive aqui
Como no céu...
Os deputados da Câmara
Conservam-se com grande “roço”
Por terem por honorários
O pão nosso.
Quando querem nossos votos
Nos tratam com cortesia
Os impostos aumentando
De cada dia.
O dinheiro do tesouro
Some-se como quem foge,
A fortuna dos prefeitos
Nos dai hoje!
Destes impostos d’agora
Por caridade livrai-nos
As censuras que fizemos
Perdoai-nos.
Não temos mais o que fazer
As cousas vão tão insípidas!
Que não podemos pagar
As nossas dívidas.
Impostos por toda forma
O governo nos traz atroz
Deus queira que ele fique
Assim como nós.
O procurador nos cobra
Nós tão pobres nos vexamos
Mas quando ele nos deve
O perdoamos.
Os do governo se unem
Fazem como vós, com os vossos.
É preciso que vós auxilies
Aos nossos.
O governo nunca deu
Ouvido aos nossos clamores
Aceita queixas dos nossos
Devedores.
Por qualquer coisa nos multam
Só para nos perseguir
Nas unhas desses tiranos
Não nos deixeis cair.
O preço baixo da farinha
Nos faz grande confusão
Faz o agricultor cair
Em tentação.
Escutai nossos clamores
Nas aflições amparai-nos
E desses fiscais carniceiros
Livrai-nos.
Seja vós o protetor
Que nos sirva de fanal
Defendei-nos dos impostos
E do mal.
Permiti que o inverno
Venha cedo e chova bem
Livrai-nos de todas as multas
Amém.
Ofereço esse Padre-Nosso
Aos prefeitos do Estado,
Para que nas eleições
Cada um seja votado,
Adiante o município
E cada qual fique arrumado.
Poeta, este recurso, que funde o sagrado ao profano, foi usado fartamente por membros da Maçonaria contra a Igreja católica, no século XIX, conforme atesta Gustavo Barroso.
ResponderExcluirLeandro, sem ser um demiurgo, como muitos, infelizmente creem, mas sendo um gênio, soube reaproveitar o modelo e, servindo-se do chicote da sátira, mostrou que, além de um grande poeta, era um grande cidadão.
É isso mesmo, Marco. Leandro foi educado por um latinista, seu tio Padre Vicente Xavier de Farias, irmão de sua mãe Adelaide. Sebastião Nunes Batista aventa a possibilidade do CANCÃO DE FOGO ser uma espécie de alter-ego do poeta. No caso do Cancão, seu principal perseguidor é justamente o seu tio, irmão de sua mãe:
ResponderExcluirE era irmão da mãe dele
Essa fera inconsciente
Só odiava a Cancão
Por ser ele inteligente
E os filhos desse monstro
Brutos, degraçadamente.
Sim, o Padre Vicente tinha filhos... com uma parenta de Chagas Baptista. Vem daí a aversão de Leandro pelo clero, mas de modo algum podemos afirmar que o poeta - autor de Pedro Cem, A órfã, História de João da Cruz etc fosse ateu.
ARIEVALDO VIANA
Demiurgo?!...
ResponderExcluirEis uma definição para a palavra DEMIURGO, meu caro EMBOLADOR CHATINHO. Creio que Marco Haurelio refere-se ao fato de que Demiurgo às vezes é confundido como uma divindade do mal:
ResponderExcluir"1. Demiurgo
Enviado por Hélio (SP) em 31-08-2008
Artífice ou criador, divindade responsável pela criação do universo físico, segundo os gnósticos. Em trabalhos de Platão, cerca de 360ac, é uma divindade ou força criativa que deu forma ao mundo material. Já no Gnosticismo, uma divindade subordinada à Divindade Suprema, algumas vezes considerada como o criador do mal outras vezes um ser imperfeito que criou o mundo material e que impede as almas humanas de voltarem a se integrar a Dinvidade única no Pleroma."
Na verdade o grande poeta Marco Haurélio teceu belo trocadilho, já que demiurgo em alguns cartapácios tem a acepção associada a gênio, daqueles de Aladim... ficou elegante esse jogo de conotações. O embolador esteve atento...
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