quarta-feira, 25 de abril de 2012

LANÇAMENTO HOJE, 26/04



Contemplados em uma antologia nacional, quatro cordelistas cearenses evidenciam potencial do Estado

O projeto tomou em torno de cinco anos, entre planejamento e elaboração. As referências, porém, foram construídas ao longo da vida inteira, graças à paixão pela cultura popular brasileira. Assim o poeta, cordelista e pesquisador Marco Haurélio, expoente do gênero no País, construiu a Antologia do Cordel Brasileiro, lançado em março deste ano em São Paulo, pela Global Editora. Fortaleza receberá o segundo lançamento da obra, amanhã, na Livraria Cultura.

A Capital não está no roteiro por acaso. Dos 15 cordelistas selecionados para a Antologia, quatro são cearenses - Arievaldo e Klévisson Viana (esse último, fundador da editora Tupynanquin, especializada em literatura de cordel), Evaristo Geraldo da Silva e Rouxinol do Rinaré, todos representantes da nova geração de autores e referência no País.

O livro reúne um texto de cada autor, entre pioneiros (como Leandro Gomes de Barros, nascido em 1865, cujo "O soldado jogador" abre a publicação) e clássicos (José Pacheco, Francisco Salles Arêda) até contemporâneos (além dos cearenses, há nomes como Pedro Monteiro e o próprio Marco Haurélio). As ilustrações ficaram a cargo do xilogravurista Erivaldo.

É a primeira vez que uma antologia contempla cordelistas da nova geração, bem como a produção de diferentes estados, como Ceará, Pernambuco, Paraíba, Bahia e Piauí. "Esse é o grande mérito do livro. Ao inserir o trabalho de autores contemporâneos e clássicos, alguns já falecidos, outro cujas obras eram significativamente ignoradas, Marco Haurélio apresenta um rico panorama do cordel hoje no Brasil", elogia Arievaldo.

Para o cearense, trata-se de uma opção emblemática, pois foi essa nova geração a responsável pela retomada do cordel após duas décadas de enfraquecimento do gênero.

"Nos anos 1980 e 90, as principais editoras especializadas fecharam suas portas, como a Lira Nordestina, em Juazeiro do Norte. Pesquisadores chegaram a decretar a morte do romance de cordel. No período, predominou o folheto reportagem, quase sempre de qualidade duvidosa", critica Arievaldo.

Os quatro cordelistas (reunidos na entrevista para esta matéria) concordam que o romance é o tipo de texto que realmente define o gênero cordel. "Requer maior engenhosidade do autor, personagens bem construídos, uma trama mais rica", ressalta Klévisson.

Atualmente, muitos cordéis são adaptações de obras em prosa de autores clássicos, como José de Alencar - segundo Arievaldo, uma exigência do mercado, que não deixa de contribuir para a difusão do cordel, especialmente entre os jovens. Não por acaso, um dos espaços onde o gênero é privilegiado é a escola. Todos os cearenses participantes da antologia, por exemplo, mantêm projetos vinculados a órgãos governamentais de educação (municipal, estadual ou federal). As iniciativas variam desde oficinas até participação em programas como o Alfabetização na Idade Certa (Paic).

"O melhor caminho para o cordel, hoje, é a sala de aula. Os leitores tradicionais não renovam seus referencias, querem os cordéis clássicos, que conhecem desde meninos", destaca o agente e entusiasta da cultura popular e Antônio Andrade Leal, também presente na entrevista. "E foi essa nova geração de cordelistas, de 10, 15 anos para cá, que levou o cordel para as escolas", explica.

Seleção

Para Arievaldo, esse é um trabalho de continuidade daquele iniciado pelos cordelistas clássicos. "No Ceará, por exemplo, tivemos Lucas Evangelista, de Crateús, ainda hoje ativo e Mestre da Cultura, e Expedido Sebastião da Silva, de Juazeiro. Sem esquecer Joaquim Batista de Sena, que declamava e vendia cordéis nos ônibus em Fortaleza", recorda.

Ainda segundo Arievaldo, para além da questão de contemplar a nova geração de autores, outro mérito de Antologia do Cordel Brasileiro é o cuidado na seleção de textos, que privilegiou obras menos conhecidas pelo público - tendo, assim, ampliado seu poder de difusão.

"No caso de José Pacheco, por exemplo, em vez de publicar ´A chegada de Lampião no inferno´, seu cordel mais famoso, Haurélio escolheu "História do caçador que foi ao inferno", observa o cearense. "Outro destaque é ´A guerra dos passarinhos´, cordel inédito de Manoel D´Almeida Filho", complementa Arievaldo, que destaca ainda os textos que acompanham cada cordel selecionado, sobre sua origem e respectivo autor - uma mão na roda para leitores não iniciados. "Para ficar completo, essa Antologia precisaria de umas mil páginas", brinca o irmão Klévisson. Por isso, o cearense adianta que um segundo volume já faz parte dos planos de Marco Haurélio. "Por ser pesquisador e se dedicar há muito tempo ao gênero, ele conhece quem faz cordel de qualidade no Brasil", reconhece. Por enquanto, o trabalho é voltado à divulgação de Antologia, a ser lançado em diferentes cidades do Nordeste, além do Rio de Janeiro, onde reside Haurélio.


Mais informações


Lançamento de Antologia do Cordel Brasileiro - amanhã, às 19 horas, na Livraria Cultura (Av. Dom Luís, 1010, Meireles, shopping Varanda Mall). Contato: (85) 4008.0800
LIVROAntologia do Cordel Brasileiro
Marco Haurélio
Global
2012, 256 páginas
R$ 37
ADRIANA MARTINS   REPÓRTER
(Diário do Nordeste, Caderno 3 - Edição de 25/04/2012)

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