segunda-feira, 8 de julho de 2019

CORDEL NA FLIP


A CONVITE DO IPHAN, CORDELISTAS PARTICIPAM DA FEIRA DO LIVRO DE PARATY-RJ

Cordelistas de diversas partes do Brasil receberam convite do IPHAN, através de Maria Elisabeth de Andrade Costa, chefe da Divisão de Pesquisa do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, para participar da FLIP Paraty 2019, divulgando a nossa Literatura de Cordel, que foi reconhecida em 2018 como Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro.

Participam desse grupo os poetas Arievaldo Vianna (CE), Anilda Figueiredo (da Academia de Cordelistas do Crato-CE), Klévisson Viana (Tupynanquim Editora-CE), Bráulio Tavares (PB), Chico Feitosa (CE), Severino Honorato (PB) Paola Torres (CE), Moreira de Acopiara (CE), Varneci Nascimento (BA), Ana Ferraz (Editora Coqueiro - PE), Cacá Lopes (PE), Dalinha Catunda (CE) e muitos outros.

* * *


Professora Luitgarde Cavalcanti


PALESTRA SOBRE O MUNDO BEATO

O espaço do cordel contará também com a presença da professora Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, antropóloga, estudiosa da cultura nordestina, envolvendo aspectos do messianismo. Ela fará uma palestra sobre os BEATOS, com destaque para as figuras do Padre Ibiapina e Antônio Conselheiro, com apresentação de quase desconhecida, porém essencial bibliografia sobre a Guerra de Canudos. Luitgarde pretende relançar o seu livro "Pelos Sertões do Nordeste", uma coletânea de artigos sobre análises do Mundo Beato, Migrações, Cangaço, Planejamento Econômico e outras reflexões sobre o sertão, num total de  618 páginas.

ARIEVALDO VIANNA

segunda-feira, 1 de julho de 2019

SAIU NO CADERNO VERSO DO DN

Prosas, rimas, trocas: cearenses na Flip 2019 alargam olhares sobre a produção literária do Estado
Por Diego Barbosa

Com a proximidade da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), de 10 a 14 de julho, o Verso destaca a participação de cearenses neste que é um dos principais eventos no segmento do País


 Erivelto de Sousa, Arievaldo Viana, Jarid Arraes, Mailson Furtado e Klévisson Viana: amostra potente do Ceará em letras | Fotos: Fabiane de Paula/ Fernanda Siebra/ Dani de Costa Russo/ Helene Santos/ Erika Fonseca


Demarcar o lugar e relevância da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) nesta altura do campeonato é exercício redundante. Cravada no calendário cultural do País desde 2003 como um dos mais importantes eventos no segmento, a iniciativa torna a charmosa e prestigiada cidade do litoral fluminense um inspirado polo de encontros, tendo como pilar a troca sempre urgente de debates e fazeres no campo das letras.

Nesta 17ª edição, as características que, pouco a pouco, fizeram-na ganhar as vistas do público não perdem o rumo. Pelo contrário: seguem rastro certo ao alargar as possibilidades de conexão, sobretudo com a região em que o Ceará está inserido.

O grande homenageado deste ano, Euclides da Cunha (1866-1909), é autor de uma das obras seminais da literatura nacional, "Os Sertões", cuja paisagem narrativa, para além de contar um relevante capítulo da história do Brasil, reverbera aspectos intrínsecos à regionalidade encontrada aqui e em todo o Nordeste.



Guia Flip: pontos que merecem destaque no principal evento literário do País

Pluralidade sentida também, de modo intenso, nos cearenses que ocuparão os espaços da festa. De malas prontas para vivenciar os dias de maratona literária, de 10 a 14 de julho, cada um e cada uma tratará de oportunizar novas perspectivas de apreciação e leitura das estéticas inseridas em contos, cordéis, poesias e ficções. Há muito para se discutir e comentar.

A começar por Jarid Arraes. Nascida no Cariri e radicada em São Paulo, foi confirmada como uma das atrações oficiais da Flip ainda em maio, munida de destaque: é a primeira mulher cordelista a integrar a seleta programação do evento.


Em entrevista recente concedida ao Verso, a escritora juazeirense explicou que a curadora da festa, Fernanda Diamant, queria uma "visão refrescante do sertão" pelos olhos de alguém como a autora, conhecida por promover interseções entre a literatura e temas como gênero e raça.

Exemplo presente em "As Lendas de Dandara", "Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis" e "Redemoinho em dia quente" - primeiro livro de contos dela, publicado pelo selo Alfaguara, destaque na mesa que participará ao lado de Carmen Maria Machado, no dia 13.

Independente

Estando pela primeira vez na festa no ano passado, como apreciador, o também cearense Mailson Furtado volta a transitar pelas ruas de Paraty, agora com a conceituada marca de ser o mais recente vencedor do Prêmio Jabuti. Desta vez, o retorno promete: a convite da Kindle Direct Publishing, plataforma da Amazon, o poeta estará na Casa Libre & Santa Rita de Cássia no dia 13 para conversar sobre autopublicação no Dia do autor independente.


Do município de Varjota, o ganhador do Prêmio Jabuti Mailson Furtado falará no evento sobre literatura independente | Foto: Helene Santos

"Além disso, terei outros momentos em alguns espaços para conversa sobre poesia e literatura independente", sublinha.

"Levarei na bagagem minha experiência enquanto autor sertanejo de uma cidade do interior e as possibilidades de se fazer e consumir arte por estas bandas; também os caminhos necessários da independência editorial e a importância da pulsação sertaneja".
Para o criador do premiado “à cidade”, fica a oportunidade para o público de acompanhar de perto os diferentes espaços de troca e afirmações sobre o fazer artístico no Brasil, embora pondere: “Infelizmente, por inúmeras questões (geográficas, econômicas) é um evento direcionado a quem pode ir, e não a quem deseja ir, coisas que refletem nosso país marcado por desigualdades”.

Tradição

Quem igualmente está se organizando para marcar presença na Flip são os irmãos Arievaldo e Klévisson Viana. O primeiro estreou na festa como convidado especial da Flipinha, em 2014. Neste ano, por meio do convite de Maria Elisabeth Costa - chefe da Divisão de Pesquisa do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) - ocupará um espaço mantido pela instituição divulgando a literatura de cordel, reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro em setembro de 2018.


Arievaldo Viana estará junto a outros representantes do cordel no espaço mantido pelo Iphan, difundindo a tradição local | Foto: Fernanda Siebra

"Além de mim, o Iphan convidou os poetas Moreira de Acopiara, Klévisson Viana e outros autores ligados ao cordel e à xilogravura", enumera.

"Conosco, estará a escritora, antropóloga e professora aposentada da UFRJ, Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, uma autoridade sobre estudos do Messianismo no Nordeste. É claro que falaremos da importância do patrono da feira, mas também nos debruçaremos sobre outros autores que se ocuparam do tema Canudos", completa.
Arievaldo elucida ainda que, na ocasião, seu último livro, "Os milagres de Antônio Conselheiro", ganhará amplitude.

Klévisson Viana, por sua vez, estreando por lá, tratará de dedicar falas envolvendo o cordel deixando entrever um detalhe pertinente: "Creio que nossos autores terão muito a acrescentar à Flip. No meu entendimento, nossa presença nada mais é que o reconhecimento a essa grande contribuição que o Estado do Ceará tem dado para as artes e letras do País e universalmente".

Além disso, não dissocia a envergadura da festa com a necessidade de se pensar a literatura e a sociedade na contemporaneidade. "Nesse momento que o Brasil padece de tantos problemas sociais e políticos, é importante que façamos uma infusão na nossa história, refaçamos caminhos, recuperemos um pouco da trajetória do nosso povo e da nossa verdadeira identidade nacional", considera.


Ao estrear na Flip, Klévisson Viana, autor de quase duas centenas de folhetos de cordel, atualizará temáticas nossas | Foto: Erika Fonseca

Ainda na seara do cordel, duas artistas do Crato, Anilda Figueiredo e Dalinha Catunda, ligadas à Academia dos Cordelistas da cidade, lançarão um folheto de peleja entre as duas.

O escritor, jornalista, professor e cientista político Erivelto de Sousa também participará da festa. Filho de nosso chão, lançará o livro "O Fantasma do Padre", editado pela Autografia.

"A literatura e o livro precisam de sempre mais espaço, e terão. Ler é sempre importante, pois significa descobrir e revelar mundos, essência da vida", ressalta.

Com ênfase na ficção, Erivelto de Sousa lançará "O Fantasma do Padre", romance ambientado no interior do Ceará
Foto: Fabiane de Paula
Completando o time, o cearense radicado no Mato Grosso, Felipe Holloway, ganhador do Prêmio Sesc de Literatura neste ano na categoria Romance, estará no evento pelo estande do Sesc. No total, o espaço terá cerca de 100 atrações, entre intervenções artísticas, cafés literários, oficinas e exposições.

Fomento

Presidente da Associação Cearense de Escritores (ACE), Silas Falcão organizou um grupo de 20 pessoas para a Flip do ano passado. Neste ano, contudo, por conta da crise financeira de uma empresa aérea, não será possível repetir o feito.

Para ele, de modo a fomentar a presença na Flip, há possibilidades a serem buscadas.

"Seria muito aplaudida a colaboração das secretarias da cultura, do Estado e de Fortaleza, quanto à participação mais efetiva da literatura cearense no evento. Até lá, estamos analisando o aluguel de uma casa própria para esse segmento".
Que a vontade ressoe, e ainda mais forte, porque temos muito a oferecer.

Serviço
17ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip)
De 10 a 14 de julho em diferentes espaços da cidade de Paraty, Rio de Janeiro. Ingressos: R$ 55, cada mesa. Mais informações pelo site oficial do evento.


quinta-feira, 27 de junho de 2019

CORDEL EM PARATY-RJ


Feira do Livro de Paraty-RJ homenageia Euclides da Cunha e terá um espaço dedicado ao CORDEL





Em 2019, a Festa Literária Internacional de Paraty, que acontecerá de 10 a 14 de julho,  irá celebrar o escritor Euclides da Cunha. Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, Euclides fez história ao escrever sobre a Guerra de Canudos no livro Os Sertões e apresentar aquela realidade para o Brasil e o mundo. Estaremos nesse período em Paraty, a convite do IPHAN, lançando o livro "Os milagres de Antônio Conselheiro", que escrevi em parceria com Bruno Paulino.

Estive pela primeira vez em Paraty como convidado oficial da FLIPINHA, ao lado do também cordelista Fábio Sombra. Fiz palestras, recitais e visitei escolas divulgando o projeto ‘Acorda Cordel na Sala de Aula’. Naquele ano, o patrono da Feira era Millôr Fernandes e participei da Mesa de Debates ao lado de outros autores. Para mim, que sou apaixonado por história, foi uma bela oportunidade conhecer uma das mais belas cidades históricas do Brasil.


Ano passado (2018) fiz parte de uma caravana da Associação Cearense de Escritores, capitaneada pelo escritor João Silas Falcão. Participamos de atividades paralelas e tivemos a oportunidade de expor o nosso material. O melhor de tudo foi o bate-papo que rolou entre a gente, o estreitamento de relações e o intercâmbio de autores cearenses, que geralmente só se encontram em lançamentos, sem tempo para um papo mais prolongado.

Este ano recebemos um convite do IPHAN, através de Maria Elisabeth de Andrade Costa, chefe da Divisão de Pesquisa do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, para ocupar um espaço destinado ao IPHAN, na FLIP Paraty, divulgando a nossa Literatura de Cordel, que foi reconhecida em 2018 como Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro.

Participam desse grupo os poetas Arievaldo Vianna, Anilda Figueiredo (da Academia de Cordelistas do Crato), Klévisson Viana (Tupynanquim Editora), Victor Lobisomem, Erivaldo Ferreira da Silva, Dalinha Catunda e muitos outros. Em breve voltaremos ao assunto.




PALESTRA DA PROFESSORA
LUITGARDE OLIVEIRA CAVALCANTI BARROS

O espaço do cordel contará também com a presença da professora Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, antropóloga, estudiosa da cultura nordestina, envolvendo aspectos do messianismo. Ela fará uma palestra sobre os BEATOS, com destaque para as figuras do Padre Ibiapina e Antônio Conselheiro, com apresentação de quase desconhecida, porém essencial bibliografia sobre a Guerra de Canudos. Luitgarde pretende relançar o seu livro "Pelos Sertões do Nordeste", uma coletânea de artigos sobre análises do Mundo Beato, Migrações, Cangaço, Planejamento Econômico e outras reflexões sobre o sertão, num total de  618 páginas.

ARIEVALDO VIANNA

segunda-feira, 17 de junho de 2019

O Trovador João Melchíades


A SAGA AVENTUROSA 

DO CANTOR DA BORBOREMA

Arievaldo Viana*


Ilustração: Jô Oliveira

No dia 7 de setembro de 1869, nascia mais um patriota no município de Bananeiras-PB: o menino João Melchíades Ferreira da Silva, que se auto-intitularia, no futuro, O Cantor da Borborema. No folheto "Os homens da cordilheira" (há um exemplar catalogado nos Fundos Villa Lobos, organizado por Mário de Andrade), João Melchíades diz que seu avô materno, o beato Antônio Simão, construiu uma igreja na serra, a pedido do padre Ibiapina. Ele teria fundado também uma escola para educar crianças, onde o próprio Melchíades aprendeu as primeiras letras. No terrível triênio de seca que foi de 1877 a 1879, já órfão de pai e criado sob a tutela desse avô, o menino João Melchíades foi raptado por um grupo de ciganos. Dizem que ele teria se encantado pela música e resolveu acompanhá-los. Sua mãe só foi resgatá-lo de volta cerca de dois anos depois.

De espírito inquieto e aventureiro, sua sina era correr o mundo. Aos 18 anos sentou praça no Exército, ainda na Monarquia. Em 1897 João Melchíades, integrante do 27º Batalhão de Infantaria das Forças Armadas, foi convocado para combater na Guerra de Canudos, onde quase perdeu a vida. Após a guerra, foi promovido a Sargento-Mor. Lembranças familiares, recolhidas num velho manuscrito por sua neta Lela Melchíades, a partir dos relatos de sua avó Senhorinha, informam que ele voltou traumatizado da Guerra e não gostava de tocar no assunto. Ficou muito chocado ao ver os cadáveres de mães carbonizados e abraçadas aos filhinhos, naquilo que Euclides da Cunha batizou de "a nossa Vendeia" ou "Troia sertaneja". Ele participou ativamente da tomada das trincheiras às margens do rio Cocorobó, uma das refregas mais sangrentas daquela luta fratricida.

Informa a pesquisadora Ruth Brito Lêmos Terra que a atividade poética de Melchíades é anterior a 1898. Ela baseia-se no poema "Melchíades escreve a Cícero de Brito Galvão, no Rio de Janeiro, sobre a açudagem do Seridó", onde o poeta faz referência a um açude de propriedade do cangaceiro Silvino Ayres, mentor de Antônio Silvino. O ano de 1898 foi o mesmo em que Silvino Ayres foi preso e, por conta disso, sucedido por seu êmulo no comando do cangaço.

Em 1903, João Melchíades foi designado para combater na fronteira do Acre com a Bolívia, onde contraiu a febre béri-béri, que quase o vitimou. Nesse período, o poeta andava na companhia do cantador Joaquim Jaqueira e chegou a fazer apresentações em Manaus e em Belém do Pará, ao som da viola. No ano seguinte, segundo apurou o pesquisador baiano José Calasans, Melchíades resolveu publicar, em cordel, suas memórias sobre Canudos. É possível que tenha sido escrito ainda no século XIX, após o término da guerra. Sua visão é alinhada com a propaganda difamatória que se fazia contra o beato Antônio Conselheiro, por meio de libelos divulgados na imprensa, sob a orientação do Ministério da Guerra. Mas nem por isso ele deixa de reconhecer a bravura dos conselheiristas em estrofes antológicas como esta: 

"Escapa, escapa, soldado
Quem tiver perna que corra
Quem quiser ficar que fique
Quem quiser morrer que morra
Há de nascer duas vezes
Quem sair desta gangorra".

Na opinião de Calasans, Melchíades era poeta de reconhecida capacidade, como podemos comprovar nesses versos que consignam um instante dramático da fuga dos soldados da terceira expedição. Na década de 1970, a pesquisadora Ruth Terra entrevistou uma filha do poeta, Santina, e teve acesso a uma carta de 1914, dirigida à sua esposa, Senhorinha (mãe de seus quatro filhos), falando sobre o folheto do Matador de Onças ("História do Capitão Cazuza Sátyro"). Nessa correspondência, o poeta fala também de outras obras e de seus filhos. O pesquisador Mário de Andrade considerou esse poema excelente ("Cazuza Sátyro, o Matador de Onças") e anotou isso, de próprio punho, num exemplar que se encontra na coleção dos Fundos Villa-Lobos. Diz Mário de Andrade: "Estupendo! Não porque esteja feito com espírito, mas pelo interesse extraordinário de quanto conta pelo realismo, às vezes duma firmeza homérica, com que conta. É admirável e vale mais que qualquer espírito". 

Outro folheto muito elogiado, que tornou-se um dos maiores clássicos da chamada Literatura de Cordel é a "História do Valente Sertanejo Zé Garcia", assim avaliado por mestre Câmara Cascudo, em seu "Vaqueiros e Cantadores": "Retrata deliciosamente o sertão de outrora, com as pegas de barbatão, escolhas de cavalos para montar, rapto de moças, assaltos de cangaceiros, chefes onipotentes e vaqueiros afoitos, cantadores famosos e passagens românticas. Pertence bem ao ciclo social que terminou no século XX e que durara até o século XIX".

O PAVÃO MISTERIOSO

Entre 1925 e 1929, circula a primeira edição impressa do folheto "O Pavão Misterioso", assinada por João Melchíades Ferreira da Silva. Alguns pesquisadores asseguram que já havia uma versão do poema, escrita anteriormente pelo paraibano José Camelo de Melo Rezende (1885 - 1964) mas que ainda não fora publicada, mas cantada ao vivo. José Camelo era um autor imaginoso e brilhante, de grandes recursos poéticos. Ao que parece, a polêmica em torno da autoria só ganhou repercussão após a morte de Melchíades, em 1933. Depois que o folheto se consolidou como um estrondoso sucesso, tornou-se objeto de cobiça de vários editores, que incitavam a polêmica para facilitar a sua publicação sem pagar direitos autorais a nenhum dos dois poetas.

Segundo Átila de Almeida e José Alves Sobrinho, autores do Dicionário Bio-Bibliográfico de Repentistas e Poetas de Bancada, nesse período, José Camelo vinha sofrendo perseguições e havia se afastado da Paraíba e se refugiado no Rio Grande do Norte. Essa situação nunca foi devidamente esclarecida. Aroldo Camelo de Melo, sobrinho do poeta, assegura que ele estava preso, em João Pessoa, por causa de dinheiro falso que recebera de um editor no Recife (PE). O pesquisador José Paulo Ribeiro, de Guarabira-PB, encontrou cópia de um folheto escrito e publicado por José Camelo narrando esse episódio do dinheiro falso, dos seus percalços perante à Justiça e de como conseguiu se livrar da acusação. Vale ressaltar que o mais importante editor de cordel da época, atuando no Recife-PE, era ninguém menos que João Martins de Athayde, com quem José Camelo mantinha negócios. Entretanto, no folheto intitulado "A prisão e soltura de José Camelo" o poeta afirma que recebeu as cédulas falsas de um rapaz que lhe comprou quatrocentos folhetos para revenda. O mesmo rapaz apareceu à noite na cantoria que realizava em companhia de um colega. Parecendo cortês e generoso, colocou uma cédula graúda na bandeja e pegou outras menores, verdadeiras, como troco. O caso do dinheiro falso veio a ser descoberto por um policial, a quem um amigo do poeta comprara um carneiro gordo com uma das cédulas recebidas na dita cantoria. Daí em diante começa o seu calvário, a fim de provar a sua inocência. É um caso que precisa ser melhor apurado, já que chegou aos tribunais da Justiça paraibana.

Em seus livros, a pesquisadora Ruth Terra apresenta uma lista completa (ou quase) de todos os poetas populares que haviam publicado folhetos entre 1898 e 1930. Na Casa de Rui Barbosa e outras coleções pesquisadas pela autora, aparecem diversos folhetos de João Melchíades, mas nenhum de José Camelo, até o ano de 1930. 

Segundo o testemunho do poeta Antônio Ferreira da Cruz, que escreveu um folheto intitulado "A morte de João Melchíades - O Cantor da Borborema", publicado pela tipografia da Popular Editora, de João Pessoa, Melchíades era uma espécie de "professor de cantoria" e tinha muitos discípulos. Um de seus parceiros era justamente o cantador José Camelo de Melo, com quem viajava fazendo apresentações. Aroldo Camelo informa que, durante uma dessas apresentações, a questão da autoria do "Pavão Misterioso" veio à baila, mas em clima amistoso. Camelo terminou uma estrofe dizendo: "O pavão tem duas asas / pode voar com nós dois". Melchíades respondeu com outra estrofe, no mesmo tom. Eis o que diz Antônio Ferreira da Cruz, na página 4 do folheto já mencionado, falando inicialmente de uma polêmica (poética) que Melchíades (católico fervoroso) mantinha com os evangélicos: "Era um cantor educado/ Na regra de divertir/ Não bebia, não jogava,/ Nem gostava de mentir;/ Com qualquer pastor da crença/ Gostava de discutir./ Em toda zona brejeira/ Mostrava bem seu emblema/ Era muito conhecido/ Por Cantor da Borborema/ Desde o Pico do Jabre/ Ao Boqueirão da Jurema./ Ensinou muitos cantores,/ Era um escritor de fé/ Andou com José Camelo/ Ensinou Antônio Thomé/ Ensinou José Thomás/ Lecionou Josué./ Em toda escala de versos/ Ele sabia cantar/ Ensinou a cantador/ Que não sabia falar/ Ainda que alguém lhe desse/ A paga de o difamar".

No romance "A pedra do reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta", de Ariano Suassuna, João Melchíades Ferreira aparece como padrinho de crisma e mestre de cantoria de Quaderna e de seu parceiro Lino Pedra Verde. Pelo visto, mestre Ariano tinha ciência dessa atividade de Melchíades. A saga do Cantor da Borborema deverá virar livro. Para isso estamos iniciando uma cuidadosa pesquisa a fim de contar a sua história sem acirrar, ainda mais, essa polêmica infrutífera que ainda hoje norteia os voos do Pavão Misterioso.

* Arievaldo Viana  nasceu nos Sertões de Quixeramobim (Ceará), em 1967. É poeta, cordelista, escritor e ilustrador. Seu livro mais recente é a biografia "Leandro Gomes de Barros - Vida e Obra" (2014)

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Feira do Livro de Limoeiro do Norte


VI FEIRA DO LIVRO DE LIMOEIRO DO NORTE

Dias 06, 07 e 08 de Junho de 2019

Lançamento do livro OS MILAGRES DE ANTONIO CONSELHEIRO, de Arievaldo Vianna e Bruno Paulino. Dia 07 de junho (sexta) às 20 horas.



Feira do Livro de Limoeiro do Norte 
chega à 6ª edição

 Por Oswaldo Scaliotti em Eventos (Tribuna do Ceará)

Como parte da programação do evento, que acontece de 6 a 8 de junho na Praça da Matriz, é realizada no Auditório do NIT a VI Jornada das Letras

Está chegando a hora do maior evento literário da região do Vale do Jaguaribe, no Ceará. De 6 a 8 de junho acontece a VI Feira do Livro de Limoeiro do Norte, evento que se consolida a cada ano por enaltecer a vocação da cidade para as letras, estimulando a leitura e a produção literária. São três dias festivos congregando romancistas, contistas, cordelistas, autores e leitores, professores e estudantes, pessoas de todas as idades que compartilham do prazer da leitura e do reconhecimento da importância do livro na formação de todo cidadão.
A Praça José Osterne (Praça da Matriz), no Centro da cidade, é palco de boa parte da programação com recitais, apresentações musicais e teatrais, oficinas, lançamentos de livros e da feira propriamente dita, com estandes de editoras e autores.
No Auditório do NIT acontece no dia 7 a VI Jornada das Letras, que integra a programação da Feira do Livro com Roda de Conversa reunindo professores e escritores.
A VI Feira do Livro de Limoeiro do Norte é uma realização do Instituto Brasil de Dentro, com apoio da Prefeitura de Limoeiro do Norte e do Governo do Estado do Ceará, através da Secretaria da Cultura. Apoio: FAFIDAM/UECE, Unimed e Auri Transp. Agradecimento: Enel.
SERVIÇO
VI Feira do Livro de Limoeiro do Norte – De 6 a 8 de junho de 2019 em Limoeiro do Norte – Ceará. Programação nos três dias na Praça José Osterne (Praça da Matriz, Centro) e no dia 7 também no Auditório do NIT (Rua Cônego Bessa, 2381, Centro) local da VI Jornada das Letras. Informações: (88) 99661-0512. Facebook: feiradolivrodelimoeirodonorte



quinta-feira, 16 de maio de 2019

NOTÍCIAS DA ABLC



Rosilene Melo, de Campina Grande, é pesquisadora de Literatura de Cordel no Brasil já 30 anos — Foto: Reprodução/TV Paraíba

Professora da UFCG é primeira mulher paraibana na Academia Brasileira de Literatura de Cordel

Rosilene Alves de Melo é professora no campus da UFCG em Cajazeiras, no Sertão. Pesquisadora há 30 anos, ela vai ocupar cadeira pertencente ao folclorista Câmara Cascudo, destinada àqueles que contribuem para a pesquisa e difusão do cordel no Brasil.


Uma professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) é a primeira mulher paraibana a ocupar uma cadeira da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC). Campinense e professora de história no campus da UFCG em Cajazeiras, no Sertão da Paraíba, Rosilene Alves de Melo é pesquisadora da literatura de cordel há 30 anos.
A posse da pesquisadora, que aconteceria nesta quarta-feira (15), na sede da ABLC, no Rio de Janeiro, foi adiada devido à paralisação nacional nas instituições públicas de ensino no país. Segundo Rosilene, a nova data de posse está para ser marcada. Na Academia, a professora ocupará a cadeira pertencente ao folclorista Câmara Cascudo, destinada àqueles que contribuem para a pesquisa e difusão do cordel no Brasil.
 “A academia congrega não só poetas, mas os pesquisadores também, que tem um trabalho importante desde o século XIX de promover essa literatura, então eu acho necessário essa aproximação e esse reconhecimento também de vários pesquisadores”, explica Rosilene.
No ano passado, Rosilene Alves redigiu o dossiê de registro da Literatura de Cordel como Patrimônio Cultural do Brasil, tendo coordenado a equipe de pesquisadores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) que realizou o inventário do cordel brasileiro.

Envolvimento com a ABLC
O envolvimento da paraibana com a Academia Brasileira de Literatura de Cordel teve início em 2010, quando a professora começou a participar dos trabalhos de registro da Literatura de Cordel como Patrimônio Cultural do Brasil.
 “Eu conheci o poeta Gonçalo Ferreira da Silva, que é o presidente da Academia e vários acadêmicos, então foram oito anos de convivência, muito próxima com eles, e agora eu recebi dos poetas essa honra, e eu recebo com muita humildade e muita gratidão, afinal de contas eu não sou poeta, eu sou uma pesquisadora, mas é um reconhecimento pelo nosso trabalho, pela nossa dedicação”, frisa a professora.

Paixão pela Literatura de Cordel
A pesquisadora conta que a paixão pelo cordel começou em um sítio em Queimadas, no Agreste da Paraíba, onde o avô dela morava. “Lá eu escutava muita cantoria, depois, na adolescência, eu participei de alguns festivais de violeiros, assisti os festivais que aconteciam na AABB, no bairro São José, em Campina Grande, e quando eu fui pra UFCG, como aluna do curso de história, eu comecei a pesquisar literatura de cordel, e agora já são 30 anos de pesquisa”.
Autora de diversos estudos e projetos de fomento ao cordel, a professora é autora do livro Arcanos do Verso: trajetórias da literatura de cordel. “Esse é um trabalho que eu fiz sobre uma editora de cordel lá da cidade de Juazeiro do Norte, da Tipografia São Francisco, que foi uma das editoras mais importantes dedicadas exclusivamente à produção do folheto de cordel no Brasil”.




quarta-feira, 8 de maio de 2019

DUPLO LANÇAMENTO


Poetas Arievaldo Vianna e Bruno Paulino lançam cordel sobre os milagres de Antônio Conselheiro

Por Diego Barbosa


Ilustração de Arievaldo Vianna para o livro de sua autoria e Bruno Paulino

Lançamento acontece nesta sexta-feira (10), na Livraria Lamarca; na ocasião, Bruno Paulino também lança, de forma individual, outra obra

Das memórias que Arievaldo Vianna carrega consigo da época de infância, aquelas relacionadas às caminhadas com a avó Alzira são ternas e ultrapassam o componente afetivo: remontam a conhecimentos importantes, adquiridos à boca pequena. Ao visitar o município de Quixeramobim, ela fazia questão de mostrar ao neto os lugares históricos e relembrava episódios de seus antepassados.
Um desses saberes, que o poeta batizou em livro de "Lições informais de história", diz respeito à casa de Antônio Conselheiro e o sobrado onde ainda funciona a Câmara Municipal da cidade. Falando-se propriamente do antigo lar do líder do movimento messiânico que reuniu milhares de sertanejos no arraial de Canudos, no Nordeste da Bahia - para resistir às tropas do Governo Federal, em novembro de 1896 -, o escritor recorda ter iniciado, ali, uma relação de estreitamento com a figura do histórico e relevante personagem.
"Eu nasci no sertão Central, na divisa de Quixeramobim com Canindé, onde hoje é Madalena. E, desde pequeno, o Conselheiro foi um personagem que me fascinou. Mas eu nunca tinha feito nada em cordel a respeito dele", explica Arievaldo.
A nova empreitada do poeta, realizada com outro autor quixeramobinense, Bruno Paulino, dá um basta a esse hiato. "Os milagres de Antônio Conselheiro" traduz, nas celebradas rimas da cultura popular, os feitos mágicos do "peregrino", como ele se autodenominava. A obra será lançada nesta sexta-feira (10), às 19h, na Livraria Lamarca. Na sequência, um bate-papo com os autores terá mediação de Zeca Lemos, representante da nova safra de escritores da cidade.
Na ocasião, Bruno Paulino também lançará, de forma individual, seu quinto livro, "Ofertório dos Pássaros", estreia solo no gênero poesia.

Memória

Com prefácio assinado pelo jornalista e pesquisador Gilmar de Carvalho e ilustrações de Arievaldo Vianna e Jô Oliveira, o cordel começou a ter seu projeto modelado há cerca de dois anos, quando uma iniciativa do Sesc-Ler convidou os autores para ministrar oficinas sobre o tema, ampliando perspectivas.
Segundo Arievaldo, "Canudos nem existia quando ele fez o primeiro milagre. Chegou em Monte Santo, onde havia uma seca muito grande, pediu para pregar e traçou uma cruz na parede da Igreja com o cajado. Começou a pingar água do teto do templo naquele mesmo momento". Com criatividade, o feito é narrado no cordel, aliado a outros tantos.


Poetas quixeramobinenses, Bruno Paulino e Arievaldo Vianna iniciaram o projeto de "Os milagres de Antônio Conselheiro" a partir de oficinas organizadas pelo Sesc-Ler
Foto: Tarcísio Filho
Bruno Paulino ressalta ainda que a obra teve como base capítulos do livro "O Capitão Jagunço" (1946), do escritor Paulo Dantas. "Claro que recorremos a outras fontes, como Euclides da Cunha, Ariano Suassuna e José Calazans, pois nossa intenção era também evocar outros aspectos da mística do Beato, como a pregação apocalíptica e o Sebastianismo latente em Canudos", detalha.
Perguntado sobre a relevância de as pessoas ainda hoje se debruçarem sobre a personalidade de Antônio Conselheiro, Arievaldo não titubeia:

"Hoje, mais do que nunca, sua figura é importante para mostrar às pessoas que, por mais humildes que sejam, elas são capazes de uma reação, de se insurgir contra um sistema que está oprimindo, massacrando, retirando direitos, tirando a liberdade, privando das coisas mais elementares".

Divino mistério
Por sua vez, "Ofertório dos pássaros" reúne poesias de Bruno Paulino gestadas sobretudo no último ano. "Dei um conceito à obra de celebração do divino mistério, que é a própria ideia que tenho de poesia, e que também é o mesmo sentido místico da missa", considera. "Por isso a divisão do livro em duas partes do rito religioso: homilia sombria dos dias e ofertório dos pássaros".
O exemplar, de acordo com o poeta, também vai ao encontro de confrontar o que observamos atualmente no Brasil a nível político e social. "No livro, deixo claro que essa é a razão existencial do poeta: ofertar pássaros como resistência, apesar do tempo sombrio". É ler para conferir.

Serviço
Lançamento dos livros “Os milagres de Antônio Conselheiro” e “Ofertório dos Pássaros” e bate-papo com autores. Nesta sexta-feira (10), às 19h, na Livraria Lamarca (Avenida da Universidade, 2475, Benfica). Entrada gratuita. Contato: Facebook da livraria


Os Milagres de Antônio Conselheiro
Arievaldo Vianna e Bruno Paulino
Independente
2019, 46 páginas
R$ 15


Ofertório dos Pássaros
Bruno Paulino
Luazul Edições
2019, 78 páginas
R$ 25