'Amor de Perdição', versão de João Martins de Athayde
Eis aqui leitor amigo
O ‘Amor de Perdição’
Romance que foi real
Cheio de lance e emoção
Onde o amor foi imolado
Por orgulho e ambição.
O coração de quem ama
Não obedece a ninguém,
É ele o senhor de si
Enfrenta tudo que vem
Desconhecendo a desgraça
Desconhecendo a desgraça
Acha que está muito bem.
Influências Ibéricas no
Romanceiro Popular Nordestino
As maiores autoridades que se ocupam em pesquisar o Romanceiro Popular Nordestino denominado, de uns tempos para cá, de Literatura de Cordel, atestam que sua origem está ligada aos trovadores medievais da Europa e ao Romanceiro Ibérico. O centro irradiador do Trovadorismo na Península Ibérica foi a região que compreende o Norte de Portugal e a Galiza, onde está situado o famoso centro de romarias consagrado a Santiago de Compostela. Os trovadores produziam poemas e cantigas que eram propagadas pelos jograis ao som de instrumentos como a flauta, a viola e o alaúde. As composições de maior aceitação popular chegaram a ser impressas. A própria denominação Literatura de Cordel, amplamente utilizada para designar a poesia popular nordestina nos dias de hoje, vem de Portugal*, onde os folhetos dos trovadores eram vendidos a cavalo no cordão. Na Espanha, dava-se o nome de “pliegos sueltos” a este tipo de literatura.
Por influência da colonização espanhola, esse tipo de cultura manifestou-se em diversos países da América Latina como o México, Guatemala, Peru e Argentina. Em nenhum deles, entretanto, teve a força e a projeção que alcançou no Nordeste do Brasil. Aqui, depois de impressas, as histórias eram decoradas por cegos cantadores e recitadas para as multidões nos alpendres e nas feiras sertanejas, ao som da viola ou da rabeca, instrumento rústico ancestral do violino.
Sabe-se, de fato, que os grandes clássicos do nosso romanceiro são oriundos de antigas estórias escritas originalmente em prosa ou quadras em Portugal, França e Espanha. Câmara Cascudo afirma, em seu “Vaqueiros e Cantadores”, que a “História do Imperador Carlos Magno e os Doze Pares de França, traduzida do castelhano para o português, era o grande livro de História para as populações do interior nordestino”. Desta obra originaram-se folhetos como “Batalha de Oliveiros e Ferrabrás”, “Prisão de Oliveiros”, “Roldão no Leão de Ouro” e “A morte dos 12 Pares de França”. Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, foi adaptado num longo poema atribuído a João Martins de Athayde, publicado em dois volumes de 32 páginas cada um. Outra grande fonte de pesquisa e inspiração para os cantadores e poetas populares de antigamente foi o romance “O Mártir do Gólgota”, do escritor Espanhol Henrique Pérez Escrich, do qual já falamos em postagem anterior. Histórias como a do célebre navegador João de Calais, de Pierre e Magalona e do duque normando Roberto do Diabo também chegaram ao nosso conhecimento através de versões impressas em Portugal e Espanha.
Arievaldo Viana
* Nota – O termo LITERATURA DE CORDEL se popularizou a partir de 1881, quando o pesquisador português Teófilo Braga publicou sua obra “Os Livros Populares Portugueses, Folhas Volantes ou Literatura de Cordel”.
Fragmento de palestra realizada no Congresso Internacional de Professores da Língua Espanhola.