Hoje,
06 de maio, é o aniversário do poeta João Lucas Evangelista, Mestre da Cultura
do Ceará:
De
JOÃO GRILO e de CANCÃO
O
poeta herdou a manha
A
defesa do CORDEL
Foi
sempre sua campanha
Sem
jamais sair da pista
JOÃO
LUCAS EVANGELISTA
MENESTREL
DA CALAMBANHA.
Fotos: Arusha Oliveira
LUCAS
EVANGELISTA,
O MENESTREL
DO REINO DA CALAMBANHA*
“No
castelo das pedras sertanejas
Brilha
o sonho do povo brasileiro.”
(Ariano
Suassuna)
Saímos
bem cedo de Fortaleza, eu e meus compadres Stélio Torquato Lima e Arusha
Oliveira, seguimos pela BR 0-20 até Canindé e de lá tomamos o rumo de Santa
Quitéria, Hidrolândia, Ipueiras e Crateús, munidos de gravadores, filmadoras e
câmeras fotográficas. O objetivo era entrevistar o Fabuloso Menestrel do Reino
da Calambanha em seu habitat natural.
Se
o leitor ainda não sabe quem é o misterioso personagem em questão, trata-se do
autor das consagradas canções “Carta de um marginal” e “Tostão de Chuva”, ninguém
menos que o velho bardo João Lucas Evangelista. Nascido no ano da graça de
1937, Lucas Evangelista teve a sorte de nascer cearense porque, no século XIX,
o nosso Estado resolveu permutar a belíssima Parnaíba, com seu delta exuberante
e clima agradável, pela aridez e o calor de Crateús. Se não foi uma boa troca,
pelo menos ganhamos um poeta. Fizemos essa pitoresca viagem no “Astronauta
Libertário”, um velho carango que meu compadre Stélio mimava com chistes e
agrados. Até instalara um aparelho de tocar CD's, razão pela qual a viagem de
ida foi embalada por canções de Roberto Carlos e Belchior.
Stélio Torquato, Lucas Evangelista, Arievaldo Viana, Raimundo Cândido e
o poeta Humberto Paz, membros da Academia de Letras de Crateús-CE.
Como
diz a “Canção de Gesta” de Jorge Mello e Belchior, enquanto o som do alto
falante rolava e me dava o toque, fui relembrando o início de minha amizade com
esse trovador eletrônico chamado Lucas Evangelista. Acompanho o seu trabalho
com bastante interesse, desde a época em que o conheci nos festejos religiosos
da cidade de Canindé-CE, no comecinho da década de 1980. Ali o poeta comparecia
duas vezes por ano, na Festa de São Francisco e no Natal, vendendo folhetos,
discos e fitas K7 contendo a sua inspirada produção poética. As canções
"Filho de cigano" e "Veniz, o cão de guarda" são as minhas
preferidas, embora seu maior êxito nessa seara ainda seja "Carta de um marginal".
Dos romances publicados em folheto gosto de "As aventuras de João
Desmantelado", publicado pela Editora Luzeiro e "Lucilane, o vaqueiro
valente nas vaquejadas do céu", este último um clássico do gênero. Foi
Lucas que, de certa forma, me estimulou a publicar meus primeiros folhetos. Por
volta de 1997, encontrei o poeta novamente em Canindé, porém bastante
desanimado em relação ao futuro da Literatura de Cordel. Disse-me que as
principais editoras estavam fechando e que não havia uma nova geração para dar
continuidade à tradição. Isso serviu-me de alerta para iniciar uma
"campanha" em prol da revitalização do cordel.
Seguramente,
minha conversa com Lucas Evangelista em 1997, sobre a situação em que se
encontrava o cordel, mais precisamente o folheto, o suporte tradicional da
poesia popular, foi o fator determinante para que, a partir de então, eu
abraçasse a cruzada de difundir e revitalizar essa arte pelos quatro cantos do
país.
Chegamos
em Crateús por volta do meio dia e já éramos esperados pelo velho bardo que,
juntamente com o escritor Raimundo Cândido, nos levaram até os estúdios da
rádio Educadora, onde participamos de uma animada entrevista. Em seguida, fomos
recepcionados por membros da Academia de Letras de Crateús, cuja sede funciona
na antiga estação ferroviária. Foi ali, cercados por livros, folhetos e homens
de letras, que ligamos o nosso equipamento para colher o depoimento de Lucas
Evangelista e outros poetas da região. Foi uma conversa longa, reveladora e bem
descontraída, mas ao concluir a entrevista me parecia haver faltado algum
elemento, algum ingrediente picaresco, já que Lucas Evangelista é um verdadeiro
Cancão de Fogo, um amarelinho muito do sabido, como seu xará João Grilo e o
irrequieto Pedro Malazartes. Por sinal, seu único irmão chamava-se Pedro, razão
pela qual o velho editor Joaquim Batista de Sena os identificava com esses
personagens do cordel. Disse-me o Lucas que certa feita eles saíram com duas
malas de folhetos para o Mercado São Sebastião, em Fortaleza, quando a esposa de
Joaquim Batista de Sena se mostrou preocupada:
—
Hein, Joaquim... Você mandou os meninos para o mercado, com essas malas de
folhetos e eu acabei de ouvir aqui no rádio que houve uma fuga no presídio e
que os ladrões, possivelmente, já se encontram aqui em Fortaleza. E agora?
Sena
começou a rir e tranquilizou a esposa desse modo:
—
Ora, minha velha, os ladrões é que devem tomar cuidado com os Evangelistas!
(...)
* Trecho
extraído do livro NO TEMPO DA LAMPARINA, de Arievaldo Vianna. Lançamento em
breve!
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