UM PALADINO DA IMPRENSA CEARENSE
João Brígido dos Santos (1829 – 1921), jornalista, cronista,
historiador e político, nasceu no dia 3 de dezembro de 1829 na Vila de São João
da Barra, na época pertencente a Província do Espírito Santo, depois Estado do
Rio. Sua família migrou em 1831 com destino ao Ceará onde estabeleceu- se na
cidade de Icó. João Brígido tomou suas primeiras aulas em Quixeramobim, quando
conheceu o garoto Antônio Vicente Mendes Maciel, futuro líder messiânico
trucidado por forças do Governo Federal nos confins da Bahia no triste episódio
de Canudos. Consta que um dia, João Brígido salvou o petiz Antônio Vicente de
um afogamento num rio em Quixeramobim.
Em 1855 João Brígido funda na cidade de Crato o jornal “ O
Araripe “ dando início a uma longa trajetória triunfante na Imprensa do Ceará.
Na época, com o pseudônimo de “ KKK “ colaborava com outros jornais cearenses,
incluindo um de propriedade do temível Padre Verdeixa, apodado, imaginem, de “
Canoa Doida “.
Em 1861 João Brígido foi nomeado Professor de Português no
afamado Colégio Liceu do Ceará e em 1903 funda o Jornal O Unitário, trincheira
onde terçava armas com adversários reais ou imaginários feito um Quixote
matuto. Foi Deputado Provincial (1864- 1867), Deputado Geral (1878 – 1881),
Senador do Estado (1892), Deputado Estadual (1893 – 1894).
Publicou “ Apontamentos para a História do Cariri “ (1888) ,”
Miscelânea Histórica” ( 1889 ) , “ O Ceará – lado cômico” (1899) e “ Ceará –
homens e fatos “ ( 1919 ) , sua mais destacada obra.
UM BURRO DISCURSANDO
Do seu quartel – general, o combativo jornal” O Unitário”
partiram rumo a história pérolas como estas:
“ Ontem, às treze horas os admiradores de G. Falcão
prestaram-lhe uma homenagem numa refeição no Café Riche. À sobremesa, em nome
dos presentes, falou o C.L. Em seguida, o homenageado ergueu- se nas patas
traseiras, firmou-se nas dianteiras, murchou as orelhas e gaguejou um discurso,
curto e ruim “.
João Brígido , certa
feita ,espinafrava um pobre chefete político sertanejo em seu pasquim: “ –
Fulano de tal, há muito devia estar na cadeia pelos monstruosos crimes que
impunemente tem cometido à sombra de governos que se sucedem “. Aparece então,
Miguel Xavier um bem informado correligionário afirmando que o tal fulano
acabara de aderir ao partido de João Brígido. O velho jornalista apenas
corrigiu: “ – Não corte nada e ponha tudo entre aspas. E em seguida, sem
aspas: - Que ele devia estar na cadeia,
por ser criminoso, dizem os seus inimigos peçonhentos. Nós, porém, que o temos
na justa conta, consideramo-lo um dos homens de bem entre quantos que ainda
vivem no sertão.
No governo do Comendador Nogueira Acioli, o Jornal O Unitário
assim comentou uma tertúlia palaciana: “ Estiveram ontem, à noitinha em
palácio, com Acioli, o Coronel Paulino, de Quixeramobim, e mais nove criaturas
de idade avançada. Eram dez os visitantes. Mas ... quem os visse, contava
quinze olhos e onze dentes “.
O FERREIRO DA MALDIÇÃO
Encerrando, seguem trechos de uma crônica do Jornal O
Unitário com a data de 20 de maio de 1903, com a marca registrada de João Brígido:
“ O Ferreiro da Maldição “:
“ O Ceará é o ferreiro maldito, de quem fala a lenda popular:
quando tem ferro falta carvão. É nadador contra a corrente, que nunca chega; o
caranguejo que anda e desanda; o eco a repetir a pregunta sem lhe dar resposta;
o nó sem ponta; o sonho que promete em sombras que não se distinguem bem, a
vaga esperança, enfim, para a qual nunca chega o dia.
Há cem anos um povo gigante, a mover-se, não adianta um
passo, como frágil esquife sobre as ondas, que a corrente impele, e o vento faz
recuar. Não lhe falta a alma. São os deuses, que o condenam à pena de Tântalo –
morrer de sede à beira do regato. Os diretores mentais do Ceará morreram ou
foram longe procurar um teatro para exibição de sua intelectualidade; e crestam
na penúria os rebentos da capacidade cearense, a disputarem um pouco de ar, que
aliás lhe mata o estímulo; o ar mefítico das baixas regiões oficiais...
Que seja para os netos de nossos netos, não importa. O mundo
não é tão curto, que acabe em nós; e cem anos, na ordem dos tempos, é muito
menos de um til nos lábios“.
Esta crônica foi publicada n’O Unitário, edição de 20.05.1903.
Fonte: http://astrilhasdavida.blogspot.com/2016/01/joao-brigido-paladino-da-imprensa-do.html
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O Quixeramobim do cronista
João Brígido
João Brígido dos Santos foi indiscutivelmente um intelectual múltiplo, destacando-se como: político, advogado, cronista, jornalista e historiador. Segundo o poeta Jáder de Carvalho, um de seus maiores admiradores, João Brígido foi antes de tudo um grande contador de histórias.
Tendo nascido a 3 de dezembro de 1829, em São João da Barra, então da província do Espírito Santo, faleceu a 14 de outubro de 1921, em Fortaleza. Chegou menino ao Ceará, e residiu em Quixeramobim parte significativa de sua infância, onde aprendeu latim, no velho sistema dos jesuítas.
Foi contemporâneo e amigo de Antônio Conselheiro, moraram na mesma rua, e segundo relatou em texto memorialístico, junto de outros amigos, os dois quase morriam afogados, pois certo dia fugiram de casa para “tomar banho num furo, que a enchente do rio tinha cavado numa das suas margens”. Então, quando estavam mergulhando, um tal Cândido Sabóia lançou sobre eles uma tarrafa por diversão e “com o peso das chumbadas” afundaram. Brígido conseguiu voltar à tona com Conselheiro agarrado ao pescoço dele e assim salvaram-se.
“Meio anfíbio, nadador afoito e jogador de cambapé, eu vivia nos rios cheios e nos poços”, era assim que o jovem João Brígido definia-se nesse tempo.
Anos mais tarde já consolidado no jornalismo cearense e na condição de arguto observador, destacou João Brígido, naCrônica de Quixeramobim uma curiosidade histórica sobre o mais antigo templo religioso da cidade: “A matriz de Quixeramobim, hermeticamente fechada e com assoalhos laterais, tornou-se, no correr dos anos, uma igreja mal-assombrada. É que ali se fazia a inumação dos cadáveres da freguesia, como de costume em todo Ceará”.
Por fim, é importante destacar que o escritor também se debruçou sobre a trágica e sangrenta luta entre Os Maciéis e os Araújos, a famosa guerra entre famílias que abalou o sertão do Ceará no começo do século XIX. E assim sendo, sabe-se que João Brigido foi uma referência certa para Euclides da Cunha escrever anos depois sobre esse episódio no clássico Os Sertões.
Bruno Paulino é escritor.
Fonte: https://alpendresertao.blogspot.com/
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