PEDRO NUNES FILHO VIAJOU PARA OUTROS
SERTÕES
Por Arievaldo Vianna
Foi com surpresa e pesar que recebi na manhã de hoje (23/01) a infausta notícia do falecimento do escritor Pedro Nunes Filho, um sertanejo apaixonado pela nossa cultura, autor de livros belíssimos como CARIRIS VELHOS - PASSANDO DE PASSAGEM, A SAGA DO GUERREIRO TOGADO, CAATINGA BRANCA, dentre outros. Pedro tinha 73 anos e lutava contra um câncer. Estava internado no Hospital Português, no Recife-PE.
O homem que conhece o sertão, sabe andar na caatinga: pisa na folha seca e não chia! Esse dito, repetido tantas vezes por meu avô Manoel Lima, pode se enquadrar perfeitamente em Pedro Nunes, um cidadão viajado, que cursou faculdade e fez curso de especialização no estrangeiro, mas que nunca perdeu de vista a alma sertaneja, que tinha conhecimento profundo da fauna e da flora do bioma Caririzeiro. Seu livro "Caatinga Branca", uma coleção de contos narrados por vaqueiros, quase sempre na primeira pessoa, mostra que ele sabia prescrutar o âmago e a essência do homem do sertão. E expressava esse sentimento de forma encantadora, tanto em prosa, quanto em poesia.
Pedro Nunes Filho nasceu em 18 de abril de 1944, no povoado de Bonfim, São José do Egito, Pernambuco, mas foi criado na Fazenda Mugiqui, distrito da Prata, na época pertencente ao município de Alagoa do Monteiro, na Paraíba.
Em 2015 tive o prazer de passar uma tarde em sua companhia, num sítio que possuía na Zona da Mata, próximo ao Recife. Na oportunidade entabulamos uma animada conversa sobre o nosso trabalho e algumas influências em comum, passando por José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Leonardo Mota, Gustavo Barroso, Guimarães Rosas e os nossos poetas populares, em especial Pinto do Monteiro e Leandro Gomes de Barros, de quem Pedro Nunes ainda era parente.
Aliás, foi ele quem fez o texto de apresentação da biografia do poeta, que lancei naquele ano. Siga em paz, meu amigo. Que Deus o acolha na sua infinita misericórdia, num recanto do Paraíso chamado SERTÃO... Lá no Cariri celeste.
RESUMO BIOGRÁFICO
Pedro Nunes Filho – Pernambucano de São José do Egito, criador de cabras
e ovelhas na Fazenda Mugiqui, Cariri paraibano, onde passou sua infância.
Auditor aposentado da Receita Federal do Brasil, fez pós-graduação em Direito
Tributário na Faculdade de Direito do Recife, onde se graduou em 1971, e
especialização em Tributação Internacional no Japão, em 1995.
Era sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri – IHGC e da
Sociedade Paraibana de Arqueologia-SPA.
Autor dos livros: Cariris Velhos –
Passando de Passagem; Caatinga Branca; Guerreiro Togado – A saga do Bacharel
Augusto Santa Cruz, Mundo-Sertão – Terra não revelada, dentre outros. Era
também exímio poeta e escultor, deixando muitas obras talhadas na madeira.
Um dos últimos trabalhos foi a gravação do documentário “Sumé: Personagens de sua História”. O
documentário tem os comentários do arqueólogo e historiador Pedro Nunes e
apresentação da radialista Nayde Nunes
Alcântara e produção de Renato Morais.
Crédito da foto: Blog Cariri em Ação
TEXTO QUE PEDRO NUNES FILHO escreveu para as orelhas do livro LEANDRO
GOMES DE BARROS – VIDA & OBRA, de ARIEVALDO VIANNA
Água de beber
Pedro Nunes Filho
Pesquisa
árdua, essa realizada pelo moço Ari. Depois anos, somente agora ganha o formato
de livro e chega às mãos dos leitores! Acompanhei passo a passo suas idas e
vindas, entrevistando pessoas, colhendo informações e dados disponíveis em
registros cartoriais. Por que tanta dificuldade em escrever a biografia do mais
famoso dos cordelistas dos Brasil? É simples. Há escritores cuja produção se
expande e se populariza de tal forma queos escritos deles se tornam mais
importantes que sua trajetória pessoal e familiar. Isso significa que a vida
deles passa a ser a própria obra. É o caso de Leandro Gomes de Barros. O
levantamento de sua biografia só foi possível porque Arievaldo Viana é também
cordelista e tem grande paixão pela literatura popular. Inconformado com a
falta de informações sobre a vida do poeta a quem aprendeu a admirar, Ari
arregaçou as mangas e partiu para a luta em busca de dados biográficos do
famoso menestrel,aqui biografado com precisão. Ari conseguiu seu intento,
graças ao imenso labor dispendido e à capacidade de sua mente curiosa e
investigativa. Por isso, eis aqui em suas mãos, Leandro completo, de corpo e
alma.
Desde
pequeno que eu ouvia meu pai dizer que Leandro pertencia à nossa família. Essa
informação me enchia de orgulho. Meus tataravós, Antônia e Manoel Xavier de
Farias, eram os avós do poeta. Suas obras eram muito conhecidas, lidas e
relidas. Vez por outra, ele voltava à cena nas histórias de meu pai e sua
figura inteligente me encantava.
Guimarães
Rosas afirma que o Sertão está em toda parte. Na minha visão, acha-se
inteirinho na obra de Leandro. Embora ele fosse um homem do povo e escrevesse
sobre temas populares, era um sujeito afamilhado e de boa aparência. Não se
bacharelou, nem tirou carta de doutoração alguma, mas adquiriu saber nos
sacolejos da vida e na convivência comas gentes dos sertões que as terras
andam. Por isso, conseguia enxergar mais que as pessoas comuns. Cedo, deixou o
conforto e o aconchego da casa dos avós, que o acolheram em sua orfandade, e
largou-se mundo afora para viver exclusivamente de sua arte. Trajetória
difícil, mas o talento garantiu-lhe sempre uma sobrevivência digna.
Seus
folhetos revelam que era um homem de muitas virtudes. Bom observador, logo
percebeu que o Sertão é lugar onde manda quem é forte. Escrevia com detalhes a
vida e os episódios de homens que carregavam sementes da morte em seus
embornais, canos de fogo em suas mãos e viviam de tanger guerra.Conhecedor de
suas crueldades, descrevia suas festas de guerra sem transformá-los em
heróis.Na intimidade, era um homem simpático, conversador, sensível e
pacificioso.
Hoje,
quem quer que pretenda estudar o fenômeno da literatura de cordeltem que se
debruçar nesta obra sobre Leandro, onde vai encontrar muitas cacimbas e grotas
com água da melhor qualidade. Embora sua temática seja popular, Leandro é
múltiplo. Não é um dizedor de mensagens, foge dos lugares comuns e nunca repete
o repetido. Quando acabava de escrever um romance falando de crimes ou
escândalos, caçava logo um tema que falasse de amor. Era de inventar que ele
ganhava a vida e suportava o doce peso do existir. Profundamente criativo, sua
mente nunca andava escoteira. Só mesmo lendo sua biografia e sua obra é que a
gente pode ver o talento e o tamanho do homem que existe naquele homem.
* * *
Sobre o livro Guerreiro Togado,
considerado uma das maiores obras de Pedro, inscreve-se entre os melhores
estudos municipalistas nordestinos.
A HISTÓRIA DO “GUERREIRO TOGADO”
O promotor Augusto de Santa Cruz Oliveira, acompanhado de 120 homens
fortemente armados, acaba de invadir a cidade de Monteiro, no Cariri paraibano.
O revoltoso quebrou as portas da cadeia pública, soltou os presos, prendeu os
policiais e tomou como reféns várias autoridades, entre elas, o promotor em
exercício, Dr. Inojosa, e o prefeito daquela cidade, Coronel Pedro Bezerra da
Silveira Leal. Houve resistência, tiroteio e mortes. O juiz e o vigário
fugiram.
A população está em pânico. As famílias retiraram-se, abandonando suas
casas e seus negócios. Monteiro tornou-se um barril de pólvora. A partir de
hoje, ninguém sabe o que pode acontecer.
Este incidente político ocorreu no dia 6 de maio de 1911 e foi
noticiado dessa forma pela imprensa da capital.
Há 100 anos, a cidade de Monteiro foi invadida conforme noticiado
acima. Aí começou uma guerra que encheu todo o Sertão. Ao mesmo tempo em que
Santa Cruz provocava medo, despertava admiração por sua inteligência, oratória,
simpatia e, sobretudo, por sua valentia e destemor.
Enfrentou sem medo as forças políticas da oligarquia paraibana, pegou
em armas, lutou, tentou mudar, nada conseguiu, a não ser respeito e admiração
por enfrentar corajosamente um exército composto por 500 homens das polícias da
Paraíba e de Pernambuco que atacaram sua Fazenda Areal, onde havia construído
sua fortaleza para resistir, acompanhado de 120 homens e tendo como trunfo
cinco autoridades que prendeu e levou consigo em sua fuga para o Juazeiro do
Padre Cícero.
Fonte: http://opipoco.com.br/site/diversas/morre-o-escritor-pedro-nunes-filho-autor-do-livro-guerreiro-togado/
Lamento a morte de Pedro Nunes.
ResponderExcluirFiquei curioso pelo que ele escreveu.
Você prestou a ele uma bela homenagem.
abraços,
Gilmar
Realmente, é uma inestimável perda para a cultura e o folclore do nosso querido Nordeste, em que o nosso querido poeta sempre se dedicou. Que ele descanse em paz, sob as bênçãos do Criador. Aos familiares as nossas mais sinceras condolências.
ResponderExcluirO poeta, na verdade, nunca morre. Fica
eternizade em suas obras deixadas em vida, para as posteridade.
Grande homenagem, Ari!
ResponderExcluirPara mim, Pedro continua com o mesmo olhar, de semblante sereno, quieto e atento aos detalhes do mundo e da vida.
Grande abraço!
Meca Moreno e Gilmar de Carvalho, obrigado pelos comentários aqui no BLOG.
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