OS 70 ANOS DE BELCHIOR EM CORDEL
Um dos maiores compositores
brasileiros de todos os tempos, gravado por Roberto Carlos, Elis Regina, Jair
Rodrigues, Antônio Marcos, Ney Matogrosso, Maria Rita, Raimundo Fagner e outros
medalhões da música brasileira está “desaparecido” há mais de cinco anos e já
foi alvo de reportagens do programa ‘Fantástico’, da Rede Globo de Televisão e
outros programas de TV. Estamos falando do cearense BELCHIOR (Antônio Carlos
Gomes Belchior Fontenele Fernandes), sobralense nascido aos 26 de outubro de
1946.
Durante esse período do “sumiço” do
Bel, como é chamado carinhosamente pelos amigos de sua geração, travei uma
sólida amizade com o músico piauiense Jorge Mello, o seu principal parceiro em
mais de 20 composições. Eles começaram a carreira juntos, nos programas da TV
Ceará e partiram para o Sudeste no começo da década de 1970. Chegaram a dividir
a mesma “quitinete”, enquanto aguardavam ventos favoráveis para gravação dos
primeiros trabalhos.
Jorge Mello é um cara muito
organizado. Guarda todas as reportagens do período, depoimentos, gravações de
programas de rádio e TV, cartazes e ingressos de shows e pretende escrever um
livro sobre os artistas de sua geração, o chamado “Pessoal do Ceará”.
Jorge mora em São Paulo e passa a
maior parte do tempo compondo, escrevendo ou desenhando num sítio que possui no
interior paulista. O seu fabuloso acervo é frequentemente consultado por
jornalistas, pesquisadores e também por estudantes que realizam pesquisas de
mestrado e doutorado.
Ultimamente eu e Jorge Mello trabalhamos
na produção de um folheto de cordel homenageando o grande compositor cearense.
E, por que um cordel? Por vários fatores. Primeiro porque Jorge Mello é
cordelista e repentista de talento. Segundo porque o próprio Belchior admite
que suas maiores influências como músico foram os poetas e cantadores de feira.
Assim sendo, Jorge convidou-me para
escrever esse trabalho em parceria e foi assim que nasceu o folheto “Peleja de
um TROVADOR ELETRÔNICO com o ROBÔ GOLIARDO” dois personagens que aparecem em
composições de Jorge Mello e Belchior. Eis alguns trechos do trabalho, ainda
inédito:
HOMENAGEM A BELCHIOR – A INCRÍVEL
PELEJA
DO TROVADOR ELETRÔNICO COM O ROBÔ
GOLIARDO
Autores:
Arievaldo Vianna e Jorge Mello
ARI - Vinda
das constelações
Do espaço
sideral
Uma estrela
fulgurante
Clareou o
meu quintal
Num instante
de magia
Derramando
poesia
E melhorando
o astral.
E foi quem
trouxe a notícia
Que para nós
tem valor
Falando do
paradeiro
De um genial
trovador
Um
repentista inspirado
Compositor
renomado
Que se chama
BELCHIOR.
JM - Sou
feito do aço forte
Do aço bom
de martelo
Também um
compositor
Sou um poeta
no prelo
E meu
rebanho apascento...
Agora me
apresento:
Eu me chamo
Jorge Mello.
Meu filho
ainda pequeno
Por muitas
vezes dizia,
Em conversas
de garotos,
Alunos da
academia,
Falando de
meu trabalho
Dos repentes
que espalho
E a sua
filosofia:
“Meu velho
pai já sabia
Toda a batida do rock.
E a sua
sabedoria
É cria de
Woodistock.
Que a tal
batida recria...
É, que seu olho já via
Como
enxergava Sherlock.”
Tudo porque
minha obra
Fundiu-se a
de Belchior.
Esse poeta
maior!
E grande
compositor...
Então, por
estas razões
Criamos
muitas canções
Obras de
muito valor.
“O som do
alto-falante,
Rolava e me
dava um toque.”
É o Trovador
Eletrônico
Aqui
berrando seu roque.
É o Robô
Goliardo!
Eu nunca
falho nem tardo
Mostrando rock do estoque.
ARI - Feito bala
de bodoque
A minha rima
é certeira
Da arte de
Zé Pacheco
A minha lira
é herdeira
Sou poeta e
menestrel
Nasci pra
fazer cordel
E cantar no
meio da feira.
Abrindo
larga clareira
O meu estro
sempre emana
Vou cantar
com Jorge Mello
Poeta que
não se engana
E também
bebe cerveja
E topa nessa
peleja
ARIEVALDO
VIANNA.
Como Poe, poeta louco
Eu pergunto
ao passarinho:
E as velas
do Mucuripe?
E o meu
paletó de linho?
Black bird
me responde
O passado
nada esconde
Estás melhor
que o vinho!
Mudando
agora a toada
Novo caminho
eu revelo
Chamo o Robô
Goliardo
(E o bardo
Jorge Mello)
A fim de
mostrar seu dote
Cantando em
cima do mote
Nos dez pés
de um martelo.
D E C I M A
S:
ARI - Jorge Melo eu agora de previno
Pra mudar o
estilo da toada
Preste bem
atenção meu camarada
Na pisada do
verso cristalino
Eu já sei
que também és nordestino
E que sabes
versejar com maestria
Nos segredos
da velha cantoria
És um sol
que rebrilha no quintal...
Belchior é poeta universal
Já criou e fez tudo em poesia!
JM - O
talento é igual ao diamante
Não tem
brilho, nem cor sem o trabalho
Vem da força
da terra no cascalho
Só então o
carvão fica brilhante.
Poetar é um
pouco desse instante...
Quando ferve
a palavra em agonia
Sai a joia que só o poeta cria.
Escrever é o
gozo triunfal...
Belchior é poeta universal
Já criou e fez tudo em poesia!
ARI – Se “El
Condor” desliza sobre os Andes
E esparrama
suas asas sobre nós
É preciso
que se cante e solte a voz
Na toada da
viola que expandes
Não se pode
olvidar a obra dos grandes
Trovadores
que divulgam a cantoria
Se agora
estou por fora, um novo dia,
Vai surgir
para afugentar o mal
Belchior é poeta universal
Já criou e fez tudo em poesia!
JM - Muito
embora eu pareça um guerreiro
De
origem até de outro planeta
Tenho a
força do rabo do capeta
Sou da
terra, como é qualquer vaqueiro.
O futuro tá
aí meu companheiro
Revelando o
segredo da magia
Vim pra ver
e cantar sabedoria
De origem
até medieval
Belchior é poeta universal
Já criou e fez tudo em poesia.
(...)
Onde posso conseguir esse cordel???
ResponderExcluirOlá Daniela Leite. Pretendo lançar o CORDEL SOBRE BELCHIOR na Bienal do Livro do Ceará, agora em abril vindouro.
Excluir“BELCHIOR”
ResponderExcluirIsaac Soares de Souza
belchior
substantivo masculino,
cearense sudestino
Belchior é como a mó
Engendrou seu próprio destino
Esse moço latino americano
Segue sua filosofia
E porfia no érebo de seu exílio
Com medo de avião
Alucinação
Belchior é mó
Do pó do sertão,
De Sobral
Antonio Carlos
Do barro
Se tornou belchior
Feito populus morreu no ano passado
Mas esse ano ele não morre
Pois não levará flores para a catacumba do amigo
Belchior sabe do perigo que é viver
Não tem estigma de escravo
Pois consegue viver só
Entre galos, noites e quintais
Alfarrabista, repentista, não parou na pista
Como nossos pais
Alucinação de suportar o dia a dia
Coração selvagem
Sempre teve pressa de viver
Pois nesta podrida vida,
Quem viu novidade em estar vivo
Mal saberá viver.
Que saiam todos do seu caminho,
Belchior sempre quis caminhar sozinho
Sem a sombra sombria daqueles que fingiam lhe proteger
Meu bem que outros cantores chamam Baby
Belchior simplesmente se ateve
Na sua pressa de viver
Mais angustiado que um goleiro na hora do gol
'''esses casos de família e de dinheiro ele nunca entendeu bem'''
O sol não é tão bonito pra quem vem do norte e vai viver na rua
Viver a divina comédia humana onde nada é eterno
E o que parece céu com certeza é o inferno
A nudez da vida se insinua
Seduzindo aos escravizados pela singeleza falsa dessa cróia seminua
Deixem que Belchior decida sua vida
Não é preciso que lhe digam de que lado bate o sol
Belchior é mó