quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O NEGÓCIO É CHALEIRAR...




Como dizia o compositor pernambucano Acyolli Neto, na canção Severina Cooper, em tempo de eleição o negócio é chaleirar. A fórmula é antiga, vem dos tempos da República Velha, como se pode ver na obra do poeta Leandro Gomes de Barros, autor, dentre outros, dos poemas “O chaleira de berço” e “Ave-Maria da Eleição”. O termo chaleira também era muito usado pelos cartunistas da época, como se pode ver nessa charge acima, da autoria de Raul. A charge é do tempo da Ditadura Vargas e mostra um oportunista se adaptando aos novos ares da política brasileira.
Chegamos, enfim, ao Século XXI, com sua assombrosa modernidade, a magia do cinema em 3D, sondas espaciais vagando pelo Espaço Sideral, internautas viciados nas redes sociais, falando mal da vida alheia e caçando Pokémons, mas a velha e boa CHALEIRA continua fumegando sobre as chamas da política.

Ave Maria da Eleição – Leandro Gomes de Barros.

No dia da eleição
O povo todo corria
Gritava a oposição
– Ave Maria!

Viam-se grupos de gente
Vendendo votos na praça
E a urna dos governistas
Cheia de graça

Uns a outros perguntavam:
— O senhor vota conosco? —
Um chaleira respondeu:
— Este O Senhor é convosco

Eu via duas panelas
Com miúdos de dez bois
Cumprimentei-a, dizendo:
Bendita sois

Os eleitores
Das espadas dos alferes
Chegavam a se esconderem
Entre as mulheres

Os candidatos andavam
Com um ameaço bruto
Pois um voto para eles
É bendito fruto

Um mesário do Governo
Pegava a urna contente
E dizia — “Eu me gloreio
Do vosso ventre!”

(...)

O chaleira é também chamado de XELELÉU e até foi retratado magistralmente numa cantiga do saudoso Coronel Ludugero. De uns tempos para cá, tornou-se mais comum o termo BABÃO. Eis um cordel que fiz em parceria com o poeta Jota Batista tratando do assunto:



PERIPÉCIAS DE UM BABÃO


O chaleira, o puxa-saco,
O corta-jaca, o babão
São frutos do mesmo cacho
Sementes do mesmo chão
São peças do mesmo jogo
São cinzas do mesmo fogo
Todos têm pauta com o cão.

São pedras da mesma trempe
São gente da mesma laia
Pêlos do mesmo sovaco
Atletas da mesma raia
Tacos da mesma sinuca
Varas da mesma arapuca
São piores que lacraia

Areia da mesma praia
E praias do mesmo mar
Tem a mesma consciência
Das quengas do lupanar
Tijolos do mesmo muro
Ratos do mesmo monturo
Redes do mal balançar

Ninguém pode se livrar
Das astúcias de um babão
Porque é capaz de tudo
Para agradar ao patrão
Lambe chão, escova bota
Só para ver a derrota
De alguém da repartição.

Todo local de trabalho
Tem um sujeito babão
Que vive dependurado
Nos testículos do patrão
Chama a todos de colega
Mas na hora da entrega
Delata até um irmão...

É um Coxinha da vida
É uma arapuca armada
Pra ver o chefe contente
Vive de contar piada
O chefe finge que ri
Sabendo que aquele ali
E uma barca furada.

É o primeiro que chega
O derradeiro que sai
Se o patrão chama ele vem
Se o chefe manda ele vai
Agrada os superiores
Pra bajular os “doutores”
A própria mãe ele trai

(...)
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS


4 comentários:

  1. Meu querido poeta conterrâneo, ARIEVALDO VIANA cearence , estive visitando seu blog ACORDA CORDEL e me deparei com esta preciosidade que fizeste com JOTA BATISTA, PERIPÉCIAS DE UM BARÃO ... Se me autoriza musica-lo, me envie para o meu e-mail chico_crato@hotmail.com, e visite minha escrivaninha musical, no link http://www.recantodasletras.com.br/autor_audios.php?id=167615 com minhas canções autorais e de outros parceiros. Atreves do meu perfil neste mesmo link você acessará meu youtube, twitter linkedin, etc. Gostaria de receber outros cordeis, além deste. Você é um cabra bom. aguardo.

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  2. BOM DIA CHICO CRATO. De minha parte já está autorizado! Creio que o parceiro JOTA BATISTA é também da mesma opinião. Para entrar em contato comigo, pode ser via e-mail: acordacordel@hotmail.com

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