domingo, 15 de setembro de 2013

O RATO VEM E CARREGA

 
O poeta Paiva Neves publicou esta foto no facebook, retratando sua banca de folhetos no Dragão do Mar. Sem o rato, é claro. Tive a idéia de provocá-lo para um debate, do qual participaram também os poetas Rouxinol do Rinaré e Stélio Torquato:
 
O RATO VEM E CARREGA

(Reflexões sobre a Literatura de Cordel)

 

ARIEVALDO:

Quem vive da poesia
Tem que fazer uma entrega
Entregar seus sentimentos
Sem entregar o colega
Depois que fizer sonetos
Se agarre com seus folhetos
Senão o rato carrega!

 
PAIVA NEVES:

Manterei o olho vivo
Na banquinha do cordel,
Meu amigo menestrel
De versejar criativo
Paiva Neves é cativo
De sua obra e não nega,
Enfrenta qualquer refrega
De dez pés até tercetos
Se agarre com os folhetos
Se não o rato carrega

 
STÉLIO TORQUATO:

Para que, em absoluto,
Aniquile-se o perigo,
Importa, meu bom amigo,
Vigiar bem seu produto.
Assim, com olhar astuto,
Não se descuide, colega:
Enquanto um olho sossega,
Vela o outro os livretos.
E se agarre com os folhetos
Se não o rato carrega.

 
ARI

Aqui em casa já deu
Uma praga de cupim
Um inseto muito ruim
Por aqui apareceu
E na coleção comeu
Folhetos do meu colega
Depois de grandes refregas
Os matei com carburetos
Se agarre com os folhetos
Se não o rato carrega!
 

STÉLIO:

A tal praga de cupim
É realmente cruel:
Ingere livro, cordel
E tudo que é afim.
Voracidade assim
A rataria congrega.
Todo poeta “arrenega”...
Logo, o amigo dos versetos
Deve agarrar os folhetos
Ou vem o rato e carrega.

 
ARI

O rato não pesa um quilo
Mas é bicho interesseiro
Quando vê um folheteiro
Agarra logo o ‘João Grilo’
‘Malazartes’, seu pupilo
E ‘Cancão’, seu bom colega
Sendo gatuno ele agrega
Os leva como amuletos
Se agarre com seus folhetos
Senão o rato carrega!

 
STELIO

Cabras de todas as partes
Junto a Paiva estão,
Como João Grilo, Cancão
E o tal Pedro Malazartes.
Cuidado com suas artes,
Que a desatenção nos cega.
Quem em bons mares navega
Não tem no armário esqueletos.
Se agarre com seus folhetos
Se não o rato carrega!

 
ARI

Na cidade de Iguatu
Eu vendia os meus cordéis
Quando chegou, de revés
Um tremendo guabiru
Mesmo sem trazer tutu
Remexeu minha ‘bodega’
Tudo que vê, logo pega,
Saiu a custa de espetos!
Se agarre com seus folhetos
Se não o rato carrega.
 

STÉLIO

Encerro, dupla amada,
Minha ação nesta peleja,
Pois é mister que eu esteja
Em breve em plena estrada.
Volta pra sua morada
Este que a estrada pega.
A lição não desapega
Dos olhos míopes e pretos:
Se agarre com seus folhetos
Senão o rato carrega!

 
PAIVA

Eu cheguei nesse momento
Da cidade de Horizonte,
Na estrada tinha um monte
De animal, e um jumento
Lá daquele ajuntamento
Relinchou, me deu esbrega
Dizendo: vê se sossega
Rime lenha com gravetos
Se agarre com os folhetos
Se não o rato carrega.

 
ROUXINOL

Hoje o cordel tá na moda
Ta chovendo “cordelista”
Gente que “parou na pista”
Com uma poética “foda”
Vamos fazer uma poda
Dá nesses tais um “esbrega”
Senão todo esse mal pega
Nos vilarejos e guetos
Segurem bem seus folhetos
Senão o rato carrega!

 
ARI

É igual couro de pica
O papangu de quaresma
Esse poeta-abantesma
Que o verso desmetrifica
Se remenda, pior fica
Entretanto não sossega
Vai na praia, vai no brega
Berrando seus poemetos
Segurem bem seus folhetos
Senão o rato carrega!

 
ROUXINOL:

Esses ratos do cordel
Estão tendo muito espaço
Pondo os incautos no laço
Com um versejar infiel
Amarga igualmente o fel
E engana essa gente “cega”
Se essa moda ruim pega
Vou usar mil amuletos
Segurem bem seus folhetos
Senão o rato carrega!
 

ARI:

Tem poeta sem respaldo
Metido a pesquisador
Tem cordelista impostor
Que o verso não dá um caldo
Essa semente eu escaldo
E não guardo em minha adega
Porque joio em minha sega
Tem o valor dos gravetos
Segurem bem seus folhetos
Senão o diabo carrega!
 

* * *
 


O DIABO VEM E CARREGA
 

Esta aconteceu ali pras bandas dos sertões de Madalena, e é coisa bem recente. A precaução e o bom senso nos mandam omitir o nome dos personagens, mas o caso em si não pode passar em branco. Tem que ser relatado.
Certo matuto, filho de um abastado fazendeiro da região, velava o corpo do pai recém-falecido e se mostrava inconformado com os desígnios divinos, embora o mesmo já fosse de idade avançada. No auge de suas queixas, saiu-se com esta pérola: 

- Isso é que é... Tanta gente ruim nesse mundo e não morre. Já o papai, uma pessoa tão boa, podendo ainda estar vivo, aqui mais nós... O diabo vem e carrega!

 

2 comentários:

  1. Oxente Dílma! Oxente Lula!
    Por Edcarlos Medeiros/Facebook

    Opções para esta história
    Abro mão de sediar Copa do Mundo
    Pra receber as águas da Transposição!

    Sou nascido e criado no Nordeste
    Deste solo o meu pé nunca arredei
    Tantos sonhos que aqui já realizei
    Q’este chão é meu pão e minha veste
    Agradeço a Deus porque me deste
    O prazer de nascer no meu Sertão
    Pois se seca aqui faz rachar o chão
    Com a chuva ele fica mais fecundo
    Abro mão de sediar Copa do Mundo
    Pra receber as águas da Transposição!


    Dona Dilma meu povo em ti votou
    E em Lula também nós confiamos
    A transposição aguçou os nossos planos
    Do Nordeste colher o que plantou
    Mas a água aqui nunca chegou
    E a seca hoje dói no coração
    E por isso eu lhe peço, estenda a mão
    Que o Sertão tá ficando moribundo
    Abro mão de sediar Copa do Mundo
    Pra receber as águas da Transposição!


    Não estou acusando o seu partido
    Nem do lado dos seus adversários
    Mas vos peço que sejam solidários
    E se unam em prol do prometido
    Concretizem, não deixem esquecido
    O que disseram no tempo de eleição
    Que o Nordeste quer uma solução
    Pra não ser do sofrer mais oriundo
    Abro mão de sediar Copa do Mundo
    Pra receber as águas da Transposição!


    Muitas coisas aqui tem melhorado
    Neste solo por séculos esquecido
    Do progresso o Sertão tá revestido
    E apagou muitas mágoas do passado
    Mas a seca ainda tem nos torturado
    Destruindo a nossa vegetação
    O sofrido camponês que é nosso irmão
    Vem caindo num desgosto profundo
    Abro mão de sediar Copa do Mundo
    Pra receber as águas da Transposição!

    Sei que a Copa tem sua importância
    Que o turismo no Brasil vai aumentar
    Mas não deixem a transposição parar
    Que esse ato é de extrema relevância
    Não entendam ser uma arrogância
    Mas se pra Copa tem grana em vastidão
    Gaste um pouco aqui no meu torrão
    Pois com água o Sertão é mais jucundo
    Abro mão de sediar Copa do Mundo
    Pra receber as águas da Transposição!


    Vinte e oito bilhões já foram gastos
    Com a Copa que querem sediar
    Muitas obras já estão pra terminar
    E a grana a correr em campos vastos
    Já estamos cansados dos nefastos
    Ideais que atrasam a nação
    Vamos todos nos unir em procissão
    Pra tiramos do poder o povo imundo
    Abro mão de sediar copa do mundo
    Pra receber as águas da transposição!


    Com a Copa o Brasil já gastou mais
    Que a África, Japão e a Alemanha
    Os políticos cometeram a façanha
    De triplicar os previstos gastos tais
    Meu Brasil isso aí já é demais
    Num podemos cruzar os braços não
    Chegou a hora de fazer revolução
    Não podemos descansar um só segundo
    Abro mão de sediar copa do mundo
    Pra receber as águas da transposição!

    ANCHIETA FRANÇA - SÃO JOÃO DO SABUGI/RN

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  2. Parabéns Anchieta França. Boa postagem, companheiro.

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