VERSOS DE CANHOTINHO INSPIRAM NOVAS GLOSAS
Hoje cedinho o poeta Barros Alves (Chico Barros de Mombaça) postou no seu Facebook uma glosa magistral do cantador paraibano Elísio Félix da Costa, o genial CANHOTINHO, falando de mágoas secretas... Aproveitei o ensejo para postar algumas glosas, que foram prontamente respondidas por Barros Alves. Vejamos:
Eu canto pra todo o mundo
Com minha vocação santa.
Cantando também se chora,
Chorando também se canta,
A minha mágoa secreta
Confessar não adianta.
Com minha vocação santa.
Cantando também se chora,
Chorando também se canta,
A minha mágoa secreta
Confessar não adianta.
(Elísio Félix da Costa, o Canhotinho, cantador paraibano, gênio da raça)
GLOSAS:
Arievaldo Viana:
Confessar mágoa secreta
É expor uma sequela
Como diz o Gonzaguinha
“Por a bunda na janela”
Pra ser vista e apalpada...
É levar uma pancada
Bem no osso da canela.
Barros Alves
Confessar mágoa secreta
Não condiz com os aedos,
Jaz em nossos corações
Uns indecifráveis medos
E ali se aninham e maltratam
Esses malditos segredos...
Arievaldo Viana
Disse o BENTO DEZESSEIS
Inspirado nos conclaves
Para evitar falações
Fofoca, fuchico, entraves
Ou comentários patetas
Guarde as mágoas secretas
Debaixo de sete chaves.
Barros Alves:
Segredos são coisas graves
Não devem ser divulgados,
No fundo dos corações
Devem ficar bem guardados,
Não importa se de dores
Ou de perfume de flores
Doutros amores passados.
Arievaldo Viana:
Somente os atoleimados
Com os seus modos patetas
Poetas de pouca monta
Idiotas, mal estetas
Na sua tola vaidade
Trazem à publicidade
As suas mágoas secretas.
Quem foi Canhotinho
No Jornal da Besta Fubana, do Papa Berto I, encontramos estas estrofes da lavra do genial Canhotinho, glosando sobre o mote:
Quem foi Canhotinho
Elísio Félix da Costa, Canhotinho, nasceu em Taperoá, Estado da Paraíba. Desde cedo, percebeu que a brisa benfazeja da inspiração lhe mimava a alma, e, por isso, desfrutava, entre as inúmeras platéias do Nordeste, o conceito merecido. Sua morte, em 1965, trouxe uma lacuna impreenchível à poesia. O eminente mestre, Luís da Câmara Cascudo, em brilhante artigo, expressou sua tristeza, confessando sua felicidade em o haver conhecido.
Afirmam que era “redondamente” analfabeto, mas seus improvisos impressionavam pelo adocicado e singeleza. Quando emocionado, seu estro produzia verdadeiras obras geniais, que, por solicitação sua, eram escritas por pessoas mais íntimas.
(Antologia Linhares e Batista - 1976)
Canhotinho podia não ter a cultura livresca, a educação formal, mas era um profundo observador da escola da vida e talvez fosse, como Patativa do Assaré, um auto-didata sempre em busca de conhecimento. Nenhuma pessoa completamente analfabeta é capaz de produzir versos como estes:
OUTROS VERSOS DE CANHOTINHO
No Jornal da Besta Fubana, do Papa Berto I, encontramos estas estrofes da lavra do genial Canhotinho, glosando sobre o mote:
A vereda da vida é tão penosa,
Que me assombro com as curvas que ela faz!
Que me assombro com as curvas que ela faz!
Não indaguei de ninguém, ninguém me disse
O início dos meus primeiros anos,
Mas, nos passos dos tristes desenganos,
Vim parar na ladeira da velhice…
E, temendo que o mundo não me visse,
Procurei arrodeios infernais :
Mas o rio das águas imortais
Me mostrou a corrente caudalosa:
A vereda da vida é tão penosa,
Que me assombro com as curvas que ela faz!
O início dos meus primeiros anos,
Mas, nos passos dos tristes desenganos,
Vim parar na ladeira da velhice…
E, temendo que o mundo não me visse,
Procurei arrodeios infernais :
Mas o rio das águas imortais
Me mostrou a corrente caudalosa:
A vereda da vida é tão penosa,
Que me assombro com as curvas que ela faz!
Vou morrer caminhando, sem dar crença
Às misérias da vida sem proveito
- Estas cousas que o homem está sujeito:
O desgosto, o amor e a doença.
Sem temer, nesta vida, a negra ofensa
De espadas, pistolas e punhais…
A velhice maltrata muito mais;
Dentre todas, o! arma perigosa!
A vereda da vida é tão penosa
Que me assombro com as curvas que ela faz!
Às misérias da vida sem proveito
- Estas cousas que o homem está sujeito:
O desgosto, o amor e a doença.
Sem temer, nesta vida, a negra ofensa
De espadas, pistolas e punhais…
A velhice maltrata muito mais;
Dentre todas, o! arma perigosa!
A vereda da vida é tão penosa
Que me assombro com as curvas que ela faz!
O desgosto do homem não se finda
Na tangente da vida tão extensa;
A esperança fracassa, e também, pensa
Que seu dono cansado está de vinda;
O desgosto fugiu, mas volta ainda;
A esperança morreu, não volta mais,
Pois a minha não vive, há tempo jaz,
Nas montanhas da alma cavernosa:
A vereda da vida é tão penosa,
Que me assombro com as curvas que ela faz!
Na tangente da vida tão extensa;
A esperança fracassa, e também, pensa
Que seu dono cansado está de vinda;
O desgosto fugiu, mas volta ainda;
A esperança morreu, não volta mais,
Pois a minha não vive, há tempo jaz,
Nas montanhas da alma cavernosa:
A vereda da vida é tão penosa,
Que me assombro com as curvas que ela faz!
Acho tarde demais para voltar,
Estou cansado demais para seguir,
Os meus lábios se ocultam de sorrir,
Sinto lágrimas, não posso mais chorar;
Eu não posso partir, também ficar…
E assim, nem pra frente, nem pra trás:
Pra ficar, sacrifico a própria paz
Pra seguir, a viagem é perigosa…
A vereda da vida é tão penosa,
Que me assombro com as curvas que ela faz!
Estou cansado demais para seguir,
Os meus lábios se ocultam de sorrir,
Sinto lágrimas, não posso mais chorar;
Eu não posso partir, também ficar…
E assim, nem pra frente, nem pra trás:
Pra ficar, sacrifico a própria paz
Pra seguir, a viagem é perigosa…
A vereda da vida é tão penosa,
Que me assombro com as curvas que ela faz!
* * *
POR e-mail, o poeta GERALDO AMÂNCIO manda me dizer o seguinte:
"Oi poeta, gostei demais dessas estrofes do grande Canhotinho, que morreu quando eu tinha um ano de cantoria. Quando morava em Cajazeiras-PB, alguém me deu a cópia de uma poesia dele chamada remorso ou remorsos, cujas estrofes eu tinha de cor, mas o tempo perversamente rapou da minha memória. Espero que você e esse cabra que tem uma banda de Mombaça e outra do Cedro, a que presta é a última. Possam conseguir, é uma poesia que eu considero antológica."
Com um abraço Geraldo Amancio.
Por telefone, o grande repentista cearense disse que havia gostado demais das estrofes postadas por mim e Barros Alves, o cabra que tem uma banda de Cedro (madeira nobre) e outra de Mombaça.
ARIEVALDO VIANA
"Oi poeta, gostei demais dessas estrofes do grande Canhotinho, que morreu quando eu tinha um ano de cantoria. Quando morava em Cajazeiras-PB, alguém me deu a cópia de uma poesia dele chamada remorso ou remorsos, cujas estrofes eu tinha de cor, mas o tempo perversamente rapou da minha memória. Espero que você e esse cabra que tem uma banda de Mombaça e outra do Cedro, a que presta é a última. Possam conseguir, é uma poesia que eu considero antológica."
Com um abraço Geraldo Amancio.
Por telefone, o grande repentista cearense disse que havia gostado demais das estrofes postadas por mim e Barros Alves, o cabra que tem uma banda de Cedro (madeira nobre) e outra de Mombaça.
ARIEVALDO VIANA
PARA ACOMPANHAR A "PELEJA" NO FACEBOOK, acesse:
ResponderExcluirhttp://www.facebook.com/#!/profile.php?id=100000232591295
ARIEVALDO VIANA
Recordo de ter lido alguma produção desse poeta na Antologia da Cantoria, de Otacílio Batista e Francisco Linhares, volume que infelizmente já me escapou das mãos. Curiosamente existe um município em PE com o mesmo nome, suponho que não haja ligação.
ResponderExcluirÉ dele:
Quando era injusto o Brasil,
Os pretos se cativaram;
O choro dos filhos brancos,
As mães pretas consolaram,
E o leite dos filhos pretos,
Os filhos brancos mamaram!
Lembra em algo o famoso soneto do seu conterrâneo Augusto dos Anjos:
Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama,
Eu furtei mais, porque furtei o peito
Que dava leite para a tua filha
BOm dia. Sou neta do poeta repentista Canhotinho. me chamo Socorro Fernands da Costa e embora nãoo tenha cohceido pessoalmente,posto que nasci muitos anos após sua morte, tive a oportunidade de há alguns dias, por ocaisão do falecimento demeu pai( filho dele) entrar em contato com sua obrao que me levou a pesquisar um pouco mais sobre ele.
ResponderExcluirfico feliz em ver que ainda há apreciadores de boa poesia, ainda mais levando-se em conta que tratava-se de um artista analfabeto.
Agradeço-lhe a menção e espero me tornar leitora assídua de seu blog.
Atenciosamente.
SocorroFernandes
socorro_fernandes@hotmail.com
Gente passando pra pedir desculpas pelos eros de digitação. Juntema pressa à emoção que senti ao ver um pouco de mim aqui retratado. Abraços.
ResponderExcluirSocorro Fernandes