segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

2020 NAS ASAS DO PAVÃO




Renovei a pintura do PAVÃO 
Pra poder me livrar da BESTA-FERA

Foi um tempo de grandes provações
Este ano de DOIS MIL E DESENOVE
Eu espero que o tempo não renove
O cenário das cruéis desilusões
Foram tantas tragédias e senões,
Desse ano miserável e tão avaro
Que ao tempo apocalíptico eu comparo
E não digam que é apenas u’a quimera
Já soltaram a maldita BESTA-FERA.
O seu nome não direi, está bem claro!


Renovei as multicores do PAVÃO
Para alçar novos voos, em outro plano
Eu prefiro esse voo soberano
Que possui os mistérios do sertão
Lhes desejo, de todo coração
Que o ano vindouro seja bom
Com mudanças e cores noutro tom
Pois ninguém aguenta mais desgraça
Pois enquanto essa BESTA-FERA passa
Vou abrindo a cerveja... Liga o som.



LIVROS PARA 2020


Escritores(as) cearenses recomendam obras com lançamento marcado para 2020

Por Diego Barbosa | Verso DN
Entre os livros, constam narrativas políticas, de realismo fantástico, com foco em mulheres e no formato de cordel


Marco Severo, Vanessa Passos, Julie Oliveira e Arievaldo Viana listam pluralidade de títulos

Mais um ano se avizinha e, com ele, múltiplas oportunidades de imersão na literatura. De maneira a fomentar outros mergulhos em 2020, os escritores Marco Severo, Vanessa Passos, Julie Oliveira e Arievaldo Viana recomendam, a convite do Verso, obras que ainda serão lançadas, abarcando títulos que contemplam desde narrativas envolvendo mulheres até realismo fantástico e cordel.
Trata-se de uma forma de estar sintonizado aos novos olhares sobre o setor alimentados em 2019. Numa breve síntese, o ano que se encerra representou dedicação ao ramo, especialmente considerando o contexto cearense, a partir da realização da XIII Bienal Internacional do Livro do Estado.
Repleto de encontros e presenças marcantes, o evento abraçou novas perspectivas de consumo e abordagens literárias a partir de um panorama mais encorpado de ideias e autores(as), com especial destaque para narrativas feitas por negros(as), pessoas da periferia, indígenas, e outros.
Por aqui, a frequência de lançamento de obras também se avolumou, bem como o alcance da atuação das bibliotecas comunitárias. Além disso, projetos como o Chá de Afetos, capitaneado pela Aliás Editora, puderam fomentar reuniões regadas a bastante união, nas quais histórias emergiram como motor para diálogos e bem-vindas trocas.
Por outro lado, a situação amargou para empreendimentos feito a Livraria Lamarca - um dos recantos mais interessantes e de maior resistência do cenário literário de Fortaleza - e as escolas de arte do Estado continuaram a tratar a área de forma bastante aquém do esperado, dificultando que novos e antigos autores(as) pudessem se lançar no mercado.

ABRANGÊNCIA
Num nível macro, as ações do Governo Federal foram pautadas pelo descaso - vide, por exemplo, a extinção do Ministério da Cultura - e pela censura (ainda é fresca na memória o recolhimento de livros com temática LGBTQI+ na Bienal do Rio), fazendo com que as perspectivas para o setor sejam totalmente desanimadoras.
Mas ainda há o que se comemorar. Mesmo num país com baixos índices de leitura, a estimativa de brasileiros que consomem livros passou de 50% para 56%, conforme a última edição da pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil", de 2016. Um novo levantamento deve ser feito no próximo ano, oportunidade para analisarmos avanços e deficiências.
Sendo assim, as listas de obras que você verá a seguir representam passos concretos em direção a uma mudança de panorama. Boas leituras!

Marco Severo (Foto: Isanelle Nascimento)


Romance novo de Valter Hugo Mãe (Porto Editora)
Um dos livros que mais aguardo para 2020 é o já anunciado novo romance de Valter Hugo Mãe, que deve sair em janeiro em Portugal e durante o ano aqui no Brasil. Embora o título ainda não tenha sido revelado, o autor já divulgou que este livro se passará no Brasil e terá como fundo temático os nossos índios. Sendo o autor que é, é de se esperar que Valter Hugo Mãe traga ao leitor mais uma obra atemporal e arrebatadora.

“Oração para desaparecer”, de Socorro Acioli (Companhia das Letras)
Socorro Acioli publicará em 2020 seu segundo romance voltado para o público adulto, o que por si só já é motivo de celebração. Ela abraçou o realismo mágico na literatura brasileira em pleno século XXI, fazendo com que o leitor possa experimentar uma nuance literária que foi tão especial para os escritos latino-americanos entre os anos 60 e 80, revitalizada através da narrativa encantatória que Socorro tem. Seguramente é um dos livros para se prestar atenção em 2020.

“Meninos & outros demônios”, de Pedro Salgueiro (Editora Moinhos)
Pedro Salgueiro é um dos nomes mais importantes da literatura feita no Ceará e o seu livro de contos que acaba de ser lançado (e que terá evento de lançamento em 2020) é uma pequena joia a ser lida e apreciada. Este livro perpassa não apenas os caminhos da infância e do que significa crescer no interior, mas os caminhos dos adultos que nos tornamos, dialogando com aquilo que fomos e o que nos tornamos, o que só a boa literatura é capaz de fazer.

Vanessa Passos

“O silêncio daqueles que vencem as guerras”, de Marco Severo (Editora Moinhos)
Marco Severo está entre os destaques da literatura cearense com publicação em editora independente. Com muita maestria, passeia entre as narrativas curtas, conto e crônica. É contundente, denso e merece ser lido, tanto o novo livro, quanto os publicados anteriormente.

“Eu mesma, Também Eu Danço”, de Hannah Arendt (tradução de Daniel Arelli) (Relicário)
As reflexões de Hannah Arendt acerca da condição humana e da banalidade do mal trouxeram grandes contribuições para o pensamento moderno, tanto No âmbito social, quanto político. Aguardo com grande expectativa a publicação do livro Eu mesma, Também Eu Danço, de natureza literária, com os seus 71 poemas.

“Todas as Cartas – Clarice Lispector” (Rocco)
Sempre fui fã de Clarice Lispector, coleciono sua obra inteira. Ter acesso a um livro com a compilação de todas as suas cartas será um privilégio para os pesquisadores da obra e para todos aqueles que, assim como eu, também apreciam sua literatura. É uma oportunidade de se debruçar com mais afinco nas inter-relações de Clarice, nos temas e questões de sua importância.


Julie Oliveira (Foto: Patrick Lima)

“Obra Completa – João Cabral de Melo Neto” (Alfaguara)
Antes do famoso “Morte e Vida Severina” que figurou exaustivamente nos livros didáticos de minha época escolar, eu já havia sido fisgada pela “Pedra do Sono” e seu surrealismo, seu pulsar onírico. Ler a obra completa de João Cabral de Melo Neto é reconectar-se com nossas raízes sem limitar-nos o olhar, é entregar-se as possibilidades antitéticas da vida.

“Antologia Contos Inspirados em Orixás do Candomblé”, de Conceição Evaristo, Marcelino Freire, Fabiana Cozza, entre outros (organização: Marcelo Moutinho) (Editora Malê)
Em 2019 me tornei uma obcecada por antologias, talvez pelo fato de finalmente ter compreendido com profundidade a importância e a força da coletividade literária. Na Bienal do Ceará fui arrebatada pela presença física de Conceição Evaristo, e desde então, tudo que já havia lido dela e sobre ela saltaram do meu peito, como um pássaro a voar. Penso que, esta antologia é certamente uma dessas obras que nos suscita o olhar, não apenas pelo conhecimento valioso, mas pelo lugar de destaque, pela honraria a que são dignos os povos africanos.

“Livro sobre Feminismo e Literatura”, de Juliana de Albuquerque (Editora Âyiné)
Em minha determinação de ler mais mulheres, deparei-me com a jovem e genial Juliana de Albuquerque, que dentre outras coisas é colunista do jornal Folha de S. Paulo e doutoranda na University College Cork, na Irlanda. Desde então, além das leituras de suas colunas, estou atenta e interessadíssima em tudo que ela tem escrito, especialmente por sua escrita precisa que disseca temas que muito me interessam, estabelecendo links entre feminismo e filosofia, por exemplo. Suas reflexões sobre a atuação da mulher contemporânea, bem como, seu vasto olhar sob as contribuições de mulheres históricas, tornam os textos de Juliana sem dúvidas, leitura indispensável a todas as mulheres pesquisadoras e escritoras.


Arievaldo Viana

“Infância/ Ganhando meu pão/Minhas Universidades”, de Maksim Górki (tradução de Rubens Figueiredo (Companhia das Letras)
A Cosac Naify, que encerrou suas atividades editoriais em dezembro de 2015, depois de 20 anos no mercado editorial brasileiro, passou parte de seu catálogo para a Companhia das Letras, mas somente agora, em 2020, algumas dessas obras retornarão ao mercado. É o caso da trilogia de memórias do escritor russo Maksim Górki, que virou raridade no Mercado Livre e Estante Virtual, chegando a custar mais de R$ 800,00! Com a reedição da Companhia das Letras, certamente a teremos com preço mais acessível.

“Era uma vez… em cordel”, de Arievaldo Viana (Editora Globo)
Com um jeito genuinamente brasileiro de apresentar grandes contos e fábulas infantis, a coleção "Era uma vez... em cordel", da Editora Globo, ganha um novo título em 2020, que será o quarto da série. Bebendo na fonte dos Irmãos Grimm, associei-me mais uma vez ao ilustrador Jô Oliveira e pegamos um conto pouco divulgado, porém de grande poder narrativo: A Serpente Branca.
Os títulos anteriores são “A peleja de Chapeuzinho Vermelho com o Lobo Mau”, “O coelho e o jabuti” e “João Bocó e o Ganso de Ouro”, este último selecionado pelo MEC através do PNLD.

Biografia Euclides da Cunha, de Luís Cláudio Villafañe G. Santos (Todavia)
O escritor Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”, ganhará uma nova biografia em 2020. O diplomata Luís Cláudio Villafañe G. Santos, autor de um livro sobre a vida do barão do Rio Branco, pela Companhia das Letras, fechou um contrato com a Todavia para uma biografia do escritor. Segundo o autor, as novidades virão do arquivo do Ministério das Relações Exteriores. Em seu livro, Santos aborda a relação de Euclides com o Itamaraty e com o Barão, além de revisar a documentação já conhecida.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

TALENTO NORDESTINO:


Aluno de escola pública leva ouro na Olimpíada de Língua Portuguesa com cordel


Professor e aluno durante premiação | Arquivo Pessoal

O dia-a-dia da pequena Bom Jesus, cidade distante cerca de 45 quilômetros de Natal (RN), foi a principal inspiração do poeta mirim Davi Lima, de 11 anos, para escrever o cordel que ganhou medalha de ouro na final da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa, neste mês, em São Paulo.
O garoto foi o único representante potiguar a alcançar o ouro, entre todas as categorias. O tema central era o local de origem de cada participante. Ele foi uma das onze crianças que estudam na Escola Estadual Natália Fonseca. Davi foi o vencedor na instituição, no município, no estado e, por fim, chegou à semi-final e final, realizadas na região Sudeste.

O principal incentivador foi o professor João Soares Lopes, que falou da competição para os alunos e incentivou a participação deles.

Apesar do incentivo da escola, a participação da família também foi fundamental na formação do garoto. Desde os quatro anos de idade, Davi sobe aos palcos junto com o pai, o poeta Jadson Lima, para recitar poesia de cordel. A escrita veio depois, com seis ou sete anos, segundo ele mesmo conta. O jovem faz parte de um grupo de poetas mirins que quer preservar a cultura no interior do estado.

A poesia foi escrita no estilo "galope à beira-mar", que contém estrofe de dez versos de onze sílabas. Apesar da tradição familiar, que remete ainda a um tio-avô e ao seu bisavô, o menino garante que não faz poesia por obrigação. O pai, Jadson Lima, corrobora.

Nos dez de galope lá no meu lugar (Davi Lima)

Lá por detrás das árvores, vinha o sol
Iluminando a rua de minha casa
O astro esplendido quente feito brasa
Levantava no céu feito um farol
E o belo cantar de um rouxinol
Que eu acordei só pra escutar
E por alegria começou a cantar
Na caveira do boi ele fez o seu ninho
Comida trazia pro seu filhotinho
Nos dez de galope lá no meu lugar.

Vendo o sol nascer, botei uma veste
E tive a ideia de escrever em rima
E muito prazer eu sou Davi Lima
Sou de Bom Jesus, daqui do nordeste
Também sou poeta, Antônio é meu mestre
O poeta que sempre me faz inspirar
Com muita alegria eu vou retratar
O amor que tenho pelo meu sertão
E vou escrevendo com muita emoção
Meu lugar que amo, e sempre vou amar.

Perto de Natal, capital do estado
Se chama Bom Jesus, ô nome bonito
E por Frei Damião esse nome foi dito
De um povo ordeiro e bastante educado
Se fores pra lá ficarás encantado
Alegria nas rimas sempre irei botar
E na nossa feira comecei andar
Falei com os feirantes com grande harmonia
E vou caminhando com muita alegria
Essa que é a feira lá do meu lugar.

Saindo da feira eu fui lentamente
E para igreja agora estava indo
Olhei para mesma, alegre, sorrindo
E meus versos fluindo da alma, da mente
Com muito cansaço sentei no chão quente
Olhando a igreja comecei orar
Pedindo para Deus me abençoar
E sob o sol ardente segui minha jornada
Com Deus me guiando nessa caminhada
É a fé que me guia nesse meu lugar.

A água corria por baixo da ponte
E a brisa fria batia em meu rosto
De felicidade fiquei inteiro posto
Que de alegria aquilo era a fonte
Eu olhei atento para o horizonte
Vi que o sol estava pronto pra deitar
E na água fria eu fui me banhar
Olhei pro arrebol com concentração
Minha Bom Jesus é a inspiração
Deu fazer galope lá no meu lugar.


quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

ADEUS A MESTRE DILA



Cordelista e xilógrafo Mestre Dila morre aos 82 anos em Caruaru


José Soares da Silva, mais conhecido como Mestre Dila, era patrimônio vivo de Pernambuco e um dos maiores nomes da xilogravura no estado. O artista morreu vítima de pneumonia.
Por G1 Caruaru



Mestre Dila — Foto: Divulgação/ Ricardo Moura

Morreu na noite da quarta-feira (18) o cordelista e xilógrafo José Soares da Silva, mais conhecido como Mestre Dila, em Caruaru, no Agreste. O artista de 82 anos era patrimônio vivo de Pernambuco e um dos maiores nomes da xilogravura no estado.

Mestre Dila estava internado há uma semana no Hospital Mestre Vitalino. A causa da morte do xilógrafo foi uma pneumonia. O artista viveu e trabalhou por muitos anos na Capital do Agreste e exerceu outras profissões como agricultor, gráfico e tipógrafo.

Dos 82 anos de vida, em 50 deles Mestre Dila se dedicou à xilogravura. Ele é um dos homenageados do desfile do Galo da Madrugada, no Recife, durante o Carnaval 2020. O artista deixa cinco filhos e 11 netos. O velório do Mestre será realizado no Cemitério Dom Bosco, em Caruaru, e o enterro está marcado para 16h.


Corpo de Mestre Dila é velado no Cemitério Dom Bosco, em Caruaru — Foto: Anderson Melo/TV Asa Branca

Por meio de nota, a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, lamentou a morte de Mestre Dila e contou que recebeu a notícia com "bastante tristeza" e agradeceu pelos mais de 50 anos dedicados à cultura caruaruense. "Somos gratos pela sua contribuição. Minha solidariedade a todos os amigos e familiares por esta grande perda", disse.

A Academia Caruaruense de Literatura de Cordel (ACLC) exaltou a figura do Mestre Dila, ressaltando que ele "foi um dos maiores xilogravuristas pernambucanos, deixando um legado inesquecível para a Cultura Popular Nordestina".

Sobre Mestre Dila

Agricultor, gráfico e tipógrafo foram as profissões exercidas por José Soares da Silva em Caruaru antes de se tornar o cordelista e xilógrafo Mestre Dila. Ele trabalhou com cordel e xilogravura durante 50 anos. Há nove, sofreu um acidente vascular cerebral.

Dila passou a ter dificuldades em realizar algumas atividades sozinho depois do AVC. Para ele, andar e falar tornaram-se ações difíceis de realizar. Mas, entre poucas palavras que conseguia pronunciar, ele revelou em entrevista ao G1: "Me orgulho de ter feito mais de 200 cordéis".

Na década de 50, Dila tinha uma gráfica na própria casa. No local, ele produzia os próprios cordéis e xilogravuras. "Na época em que meu pai trabalhava ativamente com cordéis, o cordel era o jornal 'da matutada'. Era por meio dele que as pessoas ficavam sabendo dos acontecimentos diários", lembra Valdez Soares. "Hoje temos a televisão e a internet como meio de comunicação, mas o cordel tem papel fundamental na nossa história e cultura", disse o representante comercial Valdez Soares, filho de Mestre Dila.



'O sonho de um romeiro com o padre Cícero Romão', de Mestre Dila — Foto: Joalline Nascimento/ G1

A obra mais vendida de Dila foi "O Sonho de um romeiro com o padre Cícero Romão", de acordo com o filho do artista. "Este cordel conta a história de um romeiro que estava viajando para o Juazeiro [do Norte] e adormeceu à sombra de uma árvore. No local, ele acabou sonhando com o padre Cícero profetizando os anos vindouros. A história foi toda do imaginário do meu pai", explicou Valdez.

Foi em Caruaru que Dila constituiu família. Morou no município por mais de 60 anos e foi casado por mais de 50 com Valdecila Soares, que morreu há três anos. O casal teve seis filhos, mas nenhum herdou o talento do pai. "Desenvolver esta arte foi um dom dele. O engraçado é que nenhum dos filhos herdou o talento da xilogravura. No cordel, sou o único que ainda tenta fazer alguma coisa. Mas nunca como ele", afirmou Valdez.

Patrimônio Vivo


Mestre Dila ganhou o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2002. O filho dele, Valdez Soares, contou que o pai não gostava muito do título, nem de ser chamado de "mestre". "Ele sempre disse: 'Mestre, só Deus, meu filho'. Meu pai é um homem muito religioso", revelou. A Lei de Patrimônio Vivo reconhece o trabalho dos mestres, mestras e grupos do estado. A Lei prevê a concessão de bolsas vitalícias como incentivo pela realização e perpetuação das atividades artísticas.

FONTE: https://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/noticia/2019/12/19/cordelista-e-xilografo-mestre-dila-morre-aos-82-anos-em-caruaru.ghtml

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

QUADRÃO NATALINO




POEMA DE NATAL
Arievaldo Vianna


Desejo neste NATAL
Paz, Justiça Social,
O amor vencendo o mal
E envolvendo o coração;
Desejo um NATAL DE LUZ
Menos NOEL, mais JESUS,
Que a Terra da Santa Cruz
Volte a ser uma NAÇÃO.

Quero o sorriso inocente
A gratidão envolvente
Saúde pra nossa gente
Mudança e renovação
Partindo dessa premissa
Quero um BRASIL de Justiça
Que os galos cantem na missa
Entoando essa canção.

Abaixo o capitalismo
Que nos empurra no abismo
Abaixo o vil consumismo
Eu quero é a tradição
Quero um presépio de luz
Com o menino Jesus
A bênção que nos conduz
Que o povo se torne irmão.

Sem ódio, sem preconceito,
Defendendo o que é direito
Procurando um novo jeito
Com amor, trabalho e pão,
Com toda simplicidade
Buscando com humildade
Uma NAÇÃO de verdade,
Sem ódio ou desunião.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

CEGO ADERALDO



Entre o real e o imaginário

|Em produção | Cantador que recebeu homenagens de Baden, Gismonti, Luiz Gonzaga e do Grupo Opinião reviverá num "drama figural do sertão"



Publicado por O POVO em 30/04/2019



Imagens de Rosemberg Cariry e Cego Aderaldo (Foto: DIVULGAÇÃO)

O cineasta cearense Rosemberg Cariry, autor de Cego Aderaldo, O Cantador e o Mito, longa documental sobre Aderaldo Ferreira de Araújo (1878-1967), prepara agora a versão ficcional da vida do menino pobre que tornou-se fonte de inspiração de Baden Powell, Egberto Gismonti, Luiz Gonzaga, do Grupo Opinião (nas vozes de Nara Leão, Zé Ketti e João do Vale) e de Téo Azevedo. O filme, em fase adiantada de roteirização, se chamará A Lenda do Cego Cantador.
Para muitos especialistas, as composições que Baden e Gismonti dedicaram ao cego cearense estão entre as criações supremas de nossa música popular. Prova disso, é que artistas internacionais da grandeza de Ravi Shankar, Simone Zanchini, Grazyna Auguscik, Naná Vasconcelos e Ricardo Hersz emprestaram o virtuosismo de seus instrumentos e, no caso de Grazyna, sua voz, a gravações antológicas da composição gismontiana.

Rosemberg Cariry, 65 anos, é hoje o mais importante difusor da obra e vida de Aderaldo. Em 2012, ele lançou, no Cine Ceará, o documentário Cego Aderaldo, O Cantador e o Mito. Em 2017, o diretor de Corisco & Dadá lançou poderoso livro-álbum - Cego Aderaldo - O Homem, O Poeta e o Mito. Recheou, com vigorosa narrativa sobre os 89 anos de vida do artista nascido no Crato, alentadas 779 páginas. E, para enriquecer seu ensaio sobre a criação popular nordestina, o autor mobilizou monumental iconografia direta ou indiretamente ligada a Cego Aderaldo. Acervo de imagens de um cantador (e seu entorno) jamais reunido em um só volume. O álbum, editado pela Interarte, traz ainda CD com o longa documental que o cineasta dedicou ao popular conterrâneo.

Ao regressar, agora pela vereda ficcional, à vida do Cego Aderaldo, Rosemberg Cariry promete dar asas à imaginação. "Vou contar em A Lenda do Cego Cantador" - promete - "a história real e imaginária do poeta, cordelista, trovador, músico, projecionista de filmes, empresário, negociante, propagandista, dono de circo, violeiro-cantador-repentista Aderaldo Ferreira de Araújo". O roteirista não exagera. O cego exerceu todos estes ofícios. Desprovido da visão desde os 18 anos, mesmo assim dedicou-se à projeção de filmes e foi, inclusive, fonte inspiradora (e transfigurada) de um dos longas ficcionais de Cariry: Cine Tapuia (2008).
O cego do Crato teve infinitos e importantes pares e amigos, dispostos a tudo para perpetuar sua obra. A começar por Rachel de Queiroz (1910-2003), amiga sincera que o recebia em sua fazenda Não Me Deixes, no Quixadá.

Em uma das crônicas que dedicou ao conterrâneo em sua importante coluna na revista O Cruzeiro (outubro de 1959), a autora de O Quinze registrou: "Ele é a voz cantadeira de toda uma gente que não tem outra forma de expressão própria, que não lê nem escreve e, na sua necessidade de poesia e comunicação, fala e se entende pela boca do cantador. Ele é o lírico, o épico, o noticioso, o cômico".
Cariry será obrigado a resumir a acidentada e longa saga do Cego Aderaldo em sua "narrativa ficcional e lendária". Para materializar em imagens "o desejo de revelar também o mito e a narrativa romanceada", poderá abrir o filme com o doloroso momento em que o jovem perdeu a visão frente à caldeira de uma fábrica, na qual era trabalhador (mal) assalariado.

Ou será que escolherá a tragédia da perda da mãe, aquela que cuidava do filho cego, em momento em que a pobreza da família era humilhante? Tão humilhante, que para conseguir mortalha para embalar o corpo materno, Aderaldo dirigiu-se a local onde paroaras (cearenses que iam trabalhar nas seringas da Amazônia e conseguiam acumular dinheiro) se divertiam. Mesmo com o coração mortificado, se dispôs a tocar sua viola e cantar em troca de tostões que lhe permitissem "amortalhar a mãe".
Se preferir momento menos sofrido, Cariry poderá abrir seu filme com as festivas chegadas do Cego Aderaldo à fazenda Não Me Deixes. Rachel de Queiroz relembrou, também em crônica, o que acontecia com os trabalhadores quando o Cego aparecia por lá: "Os homens largavam a enxada nos roçados, as mulheres deixavam o milho no pilão, esquecendo o pão e a hora da janta. (...) E quando se deu fé, o terreiro e o alpendre estavam cheios de gente, e Aderaldo, sentado na cadeira de lona, dava a sua grande risada e contava causos e desfiava motes e depois pegava no grande violão e cantava e rememorava desafios, e fazia, como é de praxe, a louvação dos presentes".
Respaldado pelas pesquisas que alimentaram seu longa documental, Rosemberg garante "dramaturgia que beberá nas fontes da oralidade", ao mesmo tempo em que "retomará uma estética mais ousada, elaborada a partir das manifestações dramáticas populares".

Se conseguir transformar seu roteiro em realidade (apesar das dificuldades impostas por tempos de crise econômica e governo avesso à produção cultural), o realizador cearense promete "um drama figural do sertão, com estrutura de musical popular, alegórico e transbarroco".
Cariry já visualiza "sequências e cenas compostas ao modo do romanceiro do cordel", tendo como "fio condutor da história, o grande amor de Aderaldo por Angelina, um amor trágico e irrealizado, que lhe marcará, para sempre, a vida, a poesia e a morte".
Angelina Coelho de Moraes, há que se esclarecer, foi o amor de juventude de Aderaldo. Mas ao vê-lo cego, a moça desistiu do casamento. Casou-se com outro. O Cego morreu solteiro e alimentou-se, pelos muitos anos que viriam, daquele amor de juventude.
Rosemberg Cariry prevê, em seu drama figural, o registro das principais criações ("cantorias") do Cego Aderaldo, interpretadas por grandes nomes da viola contemporânea do Nordeste.
É mais que natural que Rosemberg Cariry, assim como Rachel de Queiroz, ame as cantorias de Cego Aderaldo. Afinal, na qualidade de conterrâneos do artista, ambos tiveram proximidade com seus versos e seu original toque de viola (rabeca, ou bandolim). Mas o que levou dois fluminenses como Baden Powell (1937-2000) e Egberto Gismonti, a se interessarem pelo cantador nordestino a ponto de imortalizá-lo em composições que Zuza Homem de Melo e Tárik de Souza (ver Ponto de Vista) consideram verdadeiras obras-primas?
Tudo indica que Baden Powell conheceu a arte do Cego Aderaldo graças ao antológico Show Opinião, que estreou em Copacabana, em dezembro de 1964. O espetáculo, dirigido por Augusto Boal, uniu Nara Leão, Zé Ketti e João de Vale, e transformou-se em espécie de "missa leiga".
Perplexa com o triunfo do golpe militar de 1964, a esquerda dedicada à criação artística resolveu produzir espetáculo capaz de somar música e protesto político, mas sem perder o humor. Entre os momentos mais divertidos do Show Opinião está o que evoca peleja entre o Cego Aderaldo e Zé Pretinho, materializada em mais de 370 versos (exatas 63 sextilhas rimadas). Nara, cautelosa, enfrenta o trava-língua "Quem a paca cara compra/ cara a paca pagará", com variações ("Quem a cara cara compra/ Caca cara Cacará"). Estes versos fazem parte da Peleja de Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum (este debocha da cegueira de Aderaldo, que responde com impropérios sobre a negritude do contendor, mais politicamente incorreto, impossível). O público que, todas as noites, lotava o Teatro Opinião, ria satisfeito da trinca Nara-Zé-João evocando o cantador cearense.

Como Baden participou de shows do Grupo Opinião (e deve ter ouvido infinitas vezes o elepê que resultou do espetáculo, em 1965), era natural que conhecesse e admirasse a obra do Cego Aderaldo. Além do mais, graças ao apoio de políticos e, em especial do poderoso paraibano Assis Chateaubriand e de seu império radiofônico e televisivo, o Cego teve viagens patrocinadas ao sudeste brasileiro. Viajou a São Paulo e/ou Rio por cinco vezes.

Baden compôs Cego Aderaldo, umas mais sublimes faixas de seu clássico 27 Horas de Estúdio em 1969. A composição de mesmo nome (Cego Aderaldo), do multi-instrumentista Egberto Gismonti, foi criada em 1981. O artista do Carmo era, naquele momento, um astro internacional, festejado por artistas da Índia, Polônia, Itália, Alemanha, França, Noruega, etc.

Numa tarde de domingo, em março deste ano, conversamos, por telefone, com Gismonti. O virtuose do violão confessou ter poucas lembranças da origem de Cego Aderaldo, uma de suas "800 composições". Gismonti não deu o relevo merecido à sua composição, gravada por muitos e grandes artistas, incluindo Ravi Shankar e a voz aliciante da polonesa Grazyna Auguscik.

Por Maria do Rosário Caetano (pesquisadora e crítica de cinema)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

CORDELTECA EM BRASÍLIA


O xilogravador Valdério Costa e o poeta e pesquisador cearense
Arievaldo Vianna participam da inauguração da CORDELTECA
JOÃO MELCHÍADES FERREIRA DA SILVA, em Brasília.


Cordelteca João Melchíades, na Casa do Cantador, 
será inaugurada no dia 11/12


Espaço terá painel homenageando artista paraibano e acervo de 1200 obras com catalogação eletrônica


Valdério Costa

O artista plástico Valdério Costa começou a levar pincéis e tinta para a Casa do Cantador hoje (3). Vai criar um painel de 4 x 2,5 metros quadrados a fim de dizer ao mundo que Ceilândia é Nordeste e vice-versa.
O painel pretende representar vaqueiro ladeado por pavão misterioso, referências a romance de cordel (1923) do paraibano João Melchíades Ferreira da Silva (1869-1933), patrono do espaço. “É uma doação minha, por eu fazer parte deste do universo da literatura de cordel”, explica.

A Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), responsável pelo equipamento, vai inaugurar no dia 11 às 10h uma cordelteca (biblioteca de cordéis) no Cantador e, com isso, dar um centro de referência para o gênero de arte no DF. Graduado em Artes Plásticas pela UnB, também poeta, escritor e ilustrador, Valdério inspira-se nas xilogravuras características do cordel para fazer suas pinturas.


O professor de língua portuguesa e membro do coletivo Cordel Malungada, Sabiá Canuto, integrante de uma nova geração de cordelistas no DF, explica que seu grupo “vê o cordel hoje como a mesma força da tradição original que, numa linguagem poética rígida e calçada na oralidade, aborda uma infinidade de temas do cotidiano e históricos”.

Canuto, que apresenta o trabalho do grupo no Instagram, acredita na capacidade do cordel de dialogar com as novas tecnologias, “pois existem diversas plataformas digitais que divulgam e disponibilizam cordéis para leitura gratuita, além de muitas delas trazerem informações históricas sobre cordelistas”, diz ele.


Casa do Cantador, em Brasília-DF

Sobre a cordelteca na Casa do Cantador, ele entende que será “uma ótima referência” para pessoas que desejam pesquisar e conhecer mais sobre essa literatura. “Estamos entusiasmados também com o atual [2018] registro do cordel pelo IPHAN como patrimônio imaterial. Fazemos parte desta história”.

O subsecretário do Patrimônio Cultural (Supac), Demétrio Carneiro Oliveira, destaca na inauguração da cordelteca a reafirmação da Casa do Cantador como referência para a cultura nordestina, a volta às raízes representadas pelo cordel e, ao mesmo tempo, a renovação da arte pela presença da nova geração de cordelistas. 

A gerente de acervos da Supac, Aline Ferrari de Freitas, explica que a cordelteca é fruto de um esforço coletivo, contando com doações e trabalhos voluntários. O acervo de 1200 títulos cresceu com as aquisições feitas por anônimos, por cordelistas de Guarabira (PB), do Instituto Ricardo Brennand (PE) e da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (RJ). 

As janelas da Casa do Cantador receberam película de proteção contra luz solar e calor, e o espaço ganhou decoração temática, com tapetes, almofadas e adesivos em padrões de xilogravuras estamparão as paredes.
Os cordéis, peças delicadas, serão dispostos dois a dois em pastas adaptadas. Estas vão ser acondicionadas em caixas doadas pela Mala do Livro, programa da Secec para divulgação da leitura. Por fim, o arranjo será catalogado no sistema integrado de bibliotecas do Distrito Federal e os cordéis poderão ser localizados digitalmente.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

ADEUS AO POETA


Escritor Paulo Nunes, de João Pessoa, morre neste domingo em Anápolis–GO


Poeta, repentista e cordelista, era bacharel em Direito e jornalista por profissão.

Por Walter Santos | Portal WSCOM

O escritor Paulo Nunes Batista, natural de João Pessoa, morreu na manhã deste domingo, 1° de dezembro, aos 95 anos de idade. Poeta, repentista e cordelista, era bacharel em Direito e jornalista por profissão.
Trabalhou como vendedor ambulante de folhetos de cordel e livros.Conquistou vários prêmios literários.
É citado na enciclopédia Delta Larousse. Teve poemas traduzidos para o espanhol, inglês e japonês e mais de dez livros publicados.
ORIGEM – Natural de João Pessoa, filho do poeta e editor Chagas Batista (foto), um dos pioneiros da Literatura de Cordel, Paulo Nunes Batista deixou a Paraíba ainda na adolescência, indo para o Rio de Janeiro e depois morando em cerca de 20 cidades brasileiras até se radicar em Anápolis a partir de 1950. Em terras goianas tornou-se funcionário público estadual e membro da Academia Goiana de Letras.
Foi importante militante do Partido Comunista do Brasil entre 1946 e 1952. Leia trecho do seu Poesia Popular.

O cordel é brasileiro
fala do que o Povo sente
no verso lido na praça
ou cantado no repente,
pois cordel é voz da raça,
é (em)canto de nossa gente.



ALGUNS FOLHETOS DE PAULO NUNES BATISTA





Escrevi esta singela homenagem ao poeta 

Paulo Nunes Batista em 2011. 

No dia 02 de agosto de 2019, esse mestre do cordel 

completou 95 anos de idade.

(Arievaldo Vianna)

É uma justa homenagem
Para um renomado artista
Escritor de nomeada
Inspirado cordelista
Lenda viva da poesia
O Paulo Nunes Batista.

Filho de Chagas Batista
Um famoso menestrel,
No universo das letras
Desempenha o seu papel
Levando sempre adiante
A bandeira do cordel.

É autor de vários livros
E centenas de folhetos
E compõe, com maestria
Acrósticos, glosas, sonetos
Transborda filosofia
Até mesmo em poemetos.

Um literato de fibra
Sob meu ponto de vista,
Espírito humanitário
Quem tem saber altruísta
Parabéns à Biblioteca
E ao Paulo Nunes Batista.

Ficou órfão muito cedo
Mas venceu este empecilho
Estava predestinado
A ser poeta de brilho
Quando criança ajudava
Manoel D’Almeida Filho.

Descende de um velho tronco
Da fina-flor repentista
Do qual brotaram Hugolino
E Agostinho Batista;*
Seu mano, o Sebastião
Também foi bom cordelista.

* Hugolino do Sabugi e Agostinho Nunes da Costa são ancestrais de Paulo Nunes Batista. Do grande poeta Agostinho Nunes da Costa (1797 – 1858), seu bisavô, ficou registrada essa bela estrofe onde fica evidente o desejo de liberdade que sempre alimentou essa família de poetas:

Nasci livre, Deus louvado
E até sem medo fui feito
Porque meu pai, com efeito,
Com minha mãe foi casado;
Também nunca fui pisado
Como terra ou capim
E se alguém pensar assim
É engano verdadeiro:
Olhe para si primeiro
Quem quiser falar de mim.

Voltemos ao Paulo Nunes, nosso homenageado:

Ainda na Era Vargas
Enfrentou a Ditadura
Ingressou no Partidão
Com alma sincera e pura
A arma que mais usou
Foi sua literatura.

Viveu no Rio de Janeiro
Aonde foi estudante
Porém a mão do destino
O lançou na vida errante
Até que chega em Goiás
Do seu Nordeste distante.

Comunista e agnóstico
E nesta louca ciranda
Paulo Nunes vai um dia
Num terreiro de Umbanda
Sua vida, nesse instante,
Recebe outra demanda.

Uma surra dos “caboclos”
Naquele dia levou
E por ver a coisa séria
Naquela seita ingressou
Mais tarde, o Espiritismo
De Allan Kardec abraçou.

Sobre seu ingresso na Umbanda e suas convicções políticas, assim se expressou o poeta:

Inimigo de tiranos
Tenho horror à hipocrisia
Para festejar a Vida
Troco a noite pelo dia.
O caboclo “Cachoeira”
É – nas Umbandas – meu guia...

O certo é que Paulo Nunes
Não levou a vida a esmo
Nem esqueceu o Nordeste,
Da rapadura e torresmo,
Vejamos umas estrofes
Do ABC para mim mesmo:

“Operário da caneta,
Já vivi só de escrever.
Poeta de profissão
Em Goiás pude viver
Dos folhetos que escrevia
Para nas praças vender.

Trovador: escrevo trovas,
Sonetos, sambas, canções,
Contos rimados, poemas,
Num mar de improvisações,
Tenho setenta folhetos
Com diversas edições.

Versejador, viajante,
Das estrelas do Repente:
Abro a boca, o verso nasce,
Como nasce água corrente,
Tenho feito alexandrinos
Em três minutos somente...”

O certo é que Paulo Nunes
É bamba na poesia
Em 2000 ele ingressou
Na goiana Academia
De Letras e se orgulha
Desse luminoso dia.




ILUSTRAÇÃO: Jô Oliveira

Paulo Nunes Batista
(02/08/1924)

Do site: https://memoriasdapoesiapopular.wordpress.com

Paulo Nunes Batista, nascido dia 02 de agosto de 1924, capital do Estado da Paraiba, ou seja, Parahyba do Norte, que posterior a revolução de 1930 e após a morte de João Pessoa, passando a chamar-se João Pessoa. O poeta já nasceu circundado por intelectuais e cordelista. Conforme Haurélio, seu pai, Francisco das Chagas Batista era cordelista, apoiado pelo blog da Casa Rui Barbosa que acrescenta a atividade de folclorista e o nome da genitora do poeta Hugolina Nunes Batista. Alem de cordelista, escritor, contista é advogado e jornalista.
Pelas suas posições ideias políticas Santana e Oliveira narra, que: “Na década de 1930, foi preso em diversas cidades brasileiras, pela sua participação e envolvimento com o Partido Comunista.” Embora se tenha conhecimento do fato e se dizendo comunista Nunes jamais se agregou oficialmente a qualquer legenda política.
No entanto, com relação as suas atividades intelectuais e culturais, faz parte de algumas instituições, ocupando a cadeira de número 8 na  qual foi empossado em 31 de agosto de 2000  diz Santana e Oliveira. Publicou mais de 130 folhetos de cordel e 28 livros de contos e poemas grande número através da Editora e Gráfica Franciscana, Petrolina, Ceará, 2007,  desta forma, seus escritos estão presentes na literatura brasileira.
Sua formação intelectual teve inicio em João Pessoa onde estudou o primário e, em Goiânia concluiu o curso de Madureza, “do curso de educação de jovens e adultos Após – e também do exame final de aprovação do curso – que ministrava disciplinas dos antigos ginásio e colegial, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1961.” formou-se em Direito, na Faculdade de Direito de Anápolis, em 1977.
Em 1969, por concurso público, ingressou no Fisco Estadual e trabalhou em diversas cidades goianas. Hoje é aposentado.
Após morar em vários estados do Nordeste Alagoas e Bahia, Sudoeste Rio de Janeiro e São Paulo e Minas Gerais. Em 1947 fixou residência em Anápolis no estado de Goiás. Ali, em 1949, publicou o seu primeiro folheto de cordel pela Tipografia do jornal A luta. De acordo com Haurélio, “Seus textos poéticos foram traduzidos até para o japonês”.

Ainda com relação a publicação da sua obra,  Santana e Oliveira firmam que: “Suas obras foram traduzidas para  o inglês, espanhol, italiano, esperanto e braille.”

“Escreveu e editou dezenas de livros, sendo, no cordel, o ABC a modalidade que mais abraçou” garante Aurélio. O blog da casa de Rui Barbosa relata que: “Outra característica do poeta são os folhetos de utilidade pública voltados para o esclarecimento da população”. Para Altimar de Alencar Pimentel citado por Antônio Miranda  em seu blog, acrescenta: […] é esse lirismo, expressão maior do seu amor ao próximo, às coisas, à vida, o ponto mais alto da poesia de Paulo Nunes Batista, onde ele se despoja de compromissos ideológicos, para permitir que o poema surja pleno, límpido, cristalino”, a exemplo do poema Velhas Praias, dedicado a Francisco Miguel de Moura:

Ó minhas lavas praias nordestinas,
enfeitadas com velas de jangadas,
que, sobre o mar, vão leves, enfunadas
ao vento bom das ilusões meninas.


Praias perdidas na longíngua infância,
mas que retornam na sutil fragancia,
no adeus dos coqueirais, que o ser me invade…


Praias de brisas mansas soluçando…
Os olhos do Menino marejando…
E o coração chorando de saudades…

Atuou “também como professor lecionando a língua portuguesa no Colégio Comercial daquela cidade em 1950”.

Leitores eu vou contar
A vida de Bico Doce
Sujeito mais sabido
Que neste mundo encontrou-se
O próprio Cancão de Fogo
Com ele um dia embrulhou-se.

   Bico Doce nasceu
Disse-me quem assistiu
Antes do tempo esperado
Para o mundo ele existiu;
Nasceu andando e falando
Coisa que nunca existiu

 FONTES CONSULTADAS

BATISTA, Paulo Nunes. Disponível em: <http://academiagoianadeletras.org/membro/paulo-nunes-batista/>. Acesso em: 28 out. 2014.

BATISTA, Paulo Nunes. Sonetos seletos. Petrolina, PE: Franciscana, 2005. 100 p.

PERFIS biográficos. Paulo Nunes Batista. Disponível em: <www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/janela_perfis.html>. Acesso em: 28 out. 2014.

CORDEL Atemporal. BATISTA, Paulo Nunes. In: DICIONÁRIO básico de autores de Cordel. Disponível em: <http://marcohaurelio.blogspot.com.br/2011/06/dicionario-basico-de-autores-de-cordel.html>. Acesso em: 20 out. 2014.

MENEZES, Ebenezer Takuno de;  SANTOS, Thais Helena dos. Madureza” (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira: EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em:  <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/ dicionario.asp?id=293>. Acesso em: 28 nov. 2014.

MIRANDA, Antonio. Paulo Nunes Batista. In: POESIAS dos Brasis. Disponível em: <http://www.antoniomiranda. com.br/poesia_brasis/goias/paulo_nunes_batista.html>. Acesso em: 10 out. 2014.

SANTANA Ana Elisa; OLIVEIRA, Noelle. Cordelista e escritor, Paulo Nunes Batista fala de seus mais de 28 livros publicados. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/ cultura/2014/04/cordelista-e-escritor-paulo-nunes-batista-fala-de-seus-mais-de-28-livros-publicados>. Acesso em: 20 out. 2014.

Fonte: Anápolis 360