Poesia, música e cantoria marcam a
inauguração da Cordelteca Maria das Neves Baptista Pimentel
Equipamento reúne mais de 2 mil folhetos e é o primeiro do
Brasil a catalogar obras de literatura de cordel
A Cordelteca funciona
de segunda a sexta-feira, de 8h30 às 17h e sábados de 8h às 13h. Foto: Ares
Soares.
Ao som dos acordes de Pavão Misterioso, do cantor cearense
Ednardo, e da poética rimada do cordel, a Fundação Edson Queiroz inaugurou na
manhã desta terça-feira, 20 de agosto, a Cordelteca Maria das Neves Baptista
Pimentel, a primeira do Brasil a reunir obras de literatura de cordel
devidamente catalogadas. O novo equipamento, situado no 1º andar da Biblioteca
Central da Unifor, tem acervo de mais de 2 mil títulos, instrumentos musicais e
xilogravuras e homenageia a primeira mulher a publicar um folheto de cordel no
Brasil, em 1938.
A professora Paola Torres foi a idealizadora da Cordelteca (Foto: Unifor)
A cerimônia de lançamento, realizada no auditório da
Biblioteca Central, contou com a presença da presidente e da vice-presidente da
Fundação Edson Queiroz, respectivamente, Lenise Queiroz Rocha e Manoela Queiroz
Bacelar, do chanceler Edson Queiroz Neto, da reitora Fátima Veras, de
vice-reitores, dos secretários de Cultura do Ceará e do Rio Grande do Norte e
da idealizadora da cordelteca, a professora do curso de Medicina Paola Tôrres,
além de professores, alunos, cordelistas e de familiares da homenageada, entre
os quais a filha Alzinete Pimentel.
Ao centro, Alzinete Pimentel, filha da homenageada (Foto: Unifor)
Lenise Queiroz Rocha, presidente da Fundação Edson Queiroz,
destacou em seu discurso o cordel como expressão literária da região Nordeste e
o papel de Maria das Neves que, mesmo em uma época marcada pelo pelo machismo e
preconceito soube expressar sua arte e criatividade. “A inauguração da
cordelteca é mais um passo para legitimar a literatura de cordel que, em 2018,
foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Brasil. E ao escolhermos
o nome de Maria das Neves, queremos ressaltar a importância de celebrarmos a
pluralidade, premissa básica na cultura, na preservação da história e de nossas
potencialidades enquanto povo”, pontuou.
O secretário de Cultura do Ceará, Fabiano Piúba, declarou que
a literatura de cordel é o cordão umbilical do povo nordestino, por meio do
qual o ritmo, a melodia e a métrica contribuem para divulgar o amplo repertório
cultural da região. E elogiou a Fundação Edson Queiroz por abrigar a
cordelteca. “O acervo literário agora instalado na Unifor é uma referência de
pesquisa não só para o Ceará mas para todo o Brasil”, destacou. O secretário de
Cultura do Rio Grande do Norte, cordelista Joaquim Crispiniano Neto, também
enalteceu a iniciativa da Fundação Edson Queiroz ao “abraçar a ideia de criação
da cordelteca, por tudo o que ela representa de defesa da literatura de
cordel”.
Em seu discurso, o pesquisador Bráulio Tavares lembrou frase
do escritor Ariano Suassuna. “Segundo Ariano, existem o Brasil real e o Brasil
oficial, e claro está que a literatura de cordel retrata o nosso Brasil real,
de uma forma poética e bela”. Bráulio ressaltou ainda que os cordelistas são os
únicos poetas a viver única e exclusivamente de poesia, daí necessitarem de
apoio e de divulgação. “Os grandes poetas brasileiros nunca viveram de poesia,
afinal, eram diplomatas, advogados ou médicos. Já os cordelistas dependem de
seus cordéis para sobreviver”, salientou.
Em nome de Maria das Neves, a filha Alzinete Pimentel
agradeceu a iniciativa da Fundação Edson Queiroz, acrescentando que a família
ficou bastante lisonjeada com a homenagem. “Nossa família tem mais de 30
poetas, mas certamente minha mãe teve papel de destaque por ser autodidata e
por ser a primeira mulher a usar o cordel para se expressar numa época marcada
pelo machismo, mesmo que sob o pseudônimo masculino de Altino Alagoano”,
afirmou.
Ao final dos discursos, houve apresentação musical de Paola
Tôrres e da cantora paraibana Renata Arruda, que cantaram Pavão Misterioso e
uma música de autoria da dupla. Em seguida, os presentes se dirigiram até a
cordelteca e puderam conferir declamação de cordelistas e cantorias.
Maria das Neves
Baptista Pimentel
Paraibana e cordelista, Maria das Neves Baptista Pimentel foi
a primeira mulher a publicar um folheto de cordel. Seu amor pela literatura de
cordel foi herdada de seu pai, que era poeta e editor de uma livraria e uma
tipografia. “O violino do diabo ou o valor da honestidade” foi o título de sua
primeira obra, publicada e vendida na livraria de seu pai, em 1938.
A cordelista teve que usar o pseudônimo Altino Alagoano,
formado pelo nome de seu falecido marido e o estado onde ele havia nascido. A
época patriarcal não era favorável às mulheres, que enfrentaram preconceitos de
gênero. Somente nos anos 1970 foi possível a publicação de folhetos de
cordelistas mulheres.
Serviço
Cordelteca Maria das Neves Baptista
Pimentel
1º piso da Biblioteca Central da
Unifor
Funcionamento: Segunda a sexta-feira
de 8h30 às 17h e sábados de 8h às 13h
Aberta ao público
Mais informações: (85) 3477.3169
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