Durante doze anos de árdua pesquisa me destinei a escrever a primeira (e única) biografia do poeta Leandro Gomes de Barros Lima, o maior expoente da Literatura de Cordel. As poucas referências que haviam sobre o poeta, na obra de Câmara Cascudo, Chagas Batista, Sebastião Nunes Batista, Ruth Brito Lêmos Terra e outros autores foram a bússola que norteou o ponto de partida. Depois, com a ajuda de Cristina Nóbrega conseguimos algumas fotos e documentos da família do poeta. O escritor Pedro Nunes Filho, bisneto de uma tia de Leandro também foi um grande colaborador, fornecendo relatos mantidos pela tradição oral da família. Foi uma tarefa pegada a "dente de cachorro" porque eu não tinha recursos para fazer a pesquisa "in loco" em cartórios, livros paroquiais, periódicos e outras fontes primárias. Mesmo assim consegui realizar a obra com imensa dificuldade. Natural que um trabalho feito nessas condições apresente alguma falha... Entretanto pretendemos fazer uma segunda edição revista e ampliada, acrescentando novos dados e corrigindo alguns deslizes da primeira edição.
Foi com imensa satisfação que soube, através do amigo e colaborador José Paulo Ribeiro, da existência do livro "O ARRAIAL QUEIMADO DO PAULISTA", de Guttemberg Pereira, que dedica um capítulo inteiro à família do poeta Leandro Gomes de Barros, filho ilustre da cidade de Paulista-PB.
Apresento aos leitores do blog ACORDA CORDEL um ensaio histórico do escritor Guttemberg Pereira sobre o poeta Leandro Gomes de Barros que será de grande utilidade para todos que se empenham em resgatar a obra e a biografia desse grande expoente do CORDEL. (Arievaldo Vianna)
Foi com imensa satisfação que soube, através do amigo e colaborador José Paulo Ribeiro, da existência do livro "O ARRAIAL QUEIMADO DO PAULISTA", de Guttemberg Pereira, que dedica um capítulo inteiro à família do poeta Leandro Gomes de Barros, filho ilustre da cidade de Paulista-PB.
Apresento aos leitores do blog ACORDA CORDEL um ensaio histórico do escritor Guttemberg Pereira sobre o poeta Leandro Gomes de Barros que será de grande utilidade para todos que se empenham em resgatar a obra e a biografia desse grande expoente do CORDEL. (Arievaldo Vianna)
POETA LEANDRO GOMES DE
BARROS DESDE PORTUGAL
Guttemberg Pereira
O poeta
Leandro Gomes de Barros Lima (ou Leandro Xavier de Farias) nasceu no ano de
1860, no sítio Melancias, município de Paulista, filho de José Gomes do
Nascimento Lima e dona Adelaide Maria de Jesus.
Esta afirmativa
tem diversas implicações frente à história da origem do poeta, disseminada por
historiadores, biógrafos e pesquisadores da literatura de cordel até hoje.
Pombal-PB festeja o Sesquicentenário de nascimento de Leandro
Data
de Nascimento
A história firmou a data 19 de novembro de 1865 como
sendo a data de nascimento de Leandro. Sua certidão de óbito, constante das
fls. 41, do Livro nº 17, do Cartório de São José, Recife, Pernambuco, contém a
informação de que Leandro faleceu aos 4 dias de março de 1918, com 58 anos de
idade. Foi declarante o seu filho, Esaú Eloy de Barros Lima. Sendo um documento
público, é presumivelmente verdadeiro no seu teor, e, na falta de outro
documento que o contrarie, há de ser considerado o ano de 1860 para natalício
do grande gênio do cordel. Todavia, na certidão de casamento de Francisco
Antônio dos Santos e Amélia Maria da Conceição, de 18 de fevereiro de 1895, na
povoação de Ipojuca, de cujo enlace Leandro foi testemunha e declara ter 29
anos de idade, sugerindo que estaria correta a data de 1865.
Alguns
documentos da presente pesquisa foram cedidos pela professora e pesquisadora
Cristina Nóbrega, e outros resgatados dos arquivos cartorários e eclesiásticos.
Ruínas da casa onde nasceu Leandro Gomes de Barros
Naturalidade
Ao longo da
história, convencionou-se biografar o poeta como sendo natural da cidade de
Pombal, posto que o sítio Melancias se localizava na jurisdição de Pombal à
época do seu nascimento.
É uma
questão um tanto delicada, todavia, de simples resolução. Deve-se atentar para
o fato de que Pombal ainda não era um município em 1860, vindo a se tornar
cidade somente no ano de 1862.
Com a
emancipação política do distrito de Paulista em 23 de dezembro de 1961, o sítio
Melancias ficou incluído no perímetro municipal da nova cidade de Paulista.
Ademais, a história da família do poeta está umbilicalmente ligada à povoação
de Paulista desde o século XVIII, com a chegada dos seus primeiros ancestrais,
vindos de Pernambuco, e se unindo a outro segmento familiar da cidade de Serra
Negra do Norte, como adiante se verá. Isto, por si só, já é suficiente para
qualificar Leandro como natural de Paulista, pois a ligação com a vila de
Pombal era meramente política. Os laços familiares, na sua essência, sempre
foram com a povoação de Paulista, desde o passado mais remoto da sua família no
sertão paraibano.
Após
séculos de embates causados por esse tema na sociedade, o legislador pátrio
resolveu enfrentar a questão. A medida provisória
nº 776, de 2017, que foi convertida na lei nº 13.484 de 26 de setembro de 2017, alterou a
lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973, que dispõe sobre os
registros públicos.
Pela nova
redação, foi acrescentado o parágrafo 4º ao artigo 19 da Lei de Registros
Públicos, estatuindo que a naturalidade poderá ser do município em que ocorreu
o nascimento ou do município de residência da mãe do registrando na data do
nascimento, desde que localizado em território nacional, e a opção caberá ao
declarante no ato de registro do nascimento.
A nova lei
parece pôr fim à antiga controvérsia. A naturalidade do cidadão é determinada
pela sua afinidade, pelos laços afetivos com a sua terra, pela propriedade onde
vive, pelo cerco familiar. Não é mais pela frágil ligação, fruto da divisão
política ou do mapa geográfico.
Ante todas
essas evidências, pode-se afirmar, perante a lei e a história, que o poeta
Leandro Gomes de Barros é natural do município de Paulista.
O
nome
O registro público das pessoas naturais no Brasil só
se tornou obrigatório em 1º de janeiro de 1889, pelo decreto nº 10.044, de 22
de setembro de 1888. Até então, todo registro se processava nas igrejas. Cuidava-se,
em verdade, de interesses políticos em jogo: a Igreja Católica temia perder
prestígio, caso o registro civil passasse a ser estatal. Nessa época,
inclusive, como tentativa de consolidação do poder eclesiástico na esfera do
controle do estado civil das pessoas, foram reeditadas as Constituições Primeiras
do Arcebispado da Bahia, em 1852.
O
Estado se utilizava dos registros eclesiásticos apenas para fins estatísticos,
como colher dados para calcular a população,
principalmente para o recrutamento de homens ao serviço militar. Assim, não
havia restrições quanto a modificações de nome, e os cidadãos o mudavam
conforme seu livre-arbítrio, discricionariamente.
Não se pode
afirmar, com exatidão, qual nome recebeu Leandro, a princípio. Seu pai se
chamava José Gomes do Nascimento Lima, e sua mãe, Adelaide Maria de Jesus,
filha de Manoel Xavier de Farias e Antônia Maria de Jesus (as mulheres
raramente recebiam o patronímico, ou nome de família). Os pais de Leandro eram
primos, já que Xavier, Farias e Gomes eram da mesma estirpe. O casamento
consanguíneo era quase um mandamento nesta família. O mais provável é que
Leandro tenha assumido inicialmente o nome de Leandro Xavier de Farias.
No livro nº
1 do registro de nascimentos do Cartório de Registro Civil de Pombal, consta o
registro de nascimento de Francisco Xavier das Chagas, filho de Camillo Xavier
de Farias, irmão de Leandro. Isto faz crer que Leandro também se chamava Xavier
de Farias.
Camillo era
um irmão bem mais velho do que Leandro, nascido em 15 de julho de 1851, foi
batizado no dia 4 de setembro do mesmo ano, pelo padre Álvaro Pereira de Sousa.
Documentos revelam, no
entanto, que o pai de Leandro, José Gomes do Nascimento Lima, não faleceu tão
jovem assim. José Gomes e Adelaide se casaram pelos idos da primeira metade do
ano de 1842, quando ela contava com a idade de 16 anos. Adelaide faleceu em 25
de março de 1916, na cidade de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, com idade
de 90 anos, o que indica que ela nasceu no ano de 1826. A primeira filha do
casal foi Cordulina, nascida no dia 2 de setembro de 1843 e batizada 23 do
mesmo mês; Maria, nascida em 4 de julho de 1844, batizada no dia 5 de agosto do
mesmo ano, pelo padre Luíz Inácio Cardoso, e seus padrinhos foram Francisco de
Barros Passos e Maria de Jesus. Em seguida, nasceu Antônia, em 2 de março de 1847,
batizada no dia 10 de junho do mesmo ano pelo padre Luíz Inácio Cardoso, e seus
padrinhos foram seu avô Manoel Xavier de Farias e Francisca Arcanja. Em 5 de
abril de 1848, nasceu Hermínia, batizada no dia 14 de junho do mesmo ano pelo
padre Vicente Xavier de Farias, e seus padrinhos foram o tenente Cândido José
de Assis e sua esposa Maria Florentina da Conceição. Na data de 2 de abril de
1850, nasceu Manoel, batizado no dia 26 do mesmo mês e ano, pelo padre Luíz
Inácio Cardoso, e seus padrinhos foram Antônio de Barros Passos e Francisca
Maria de Jesus. Leandro tinha ainda um irmão chamado Camillo Xavier de Farias,
a quem já me referi anteriormente, nascido em 15 de julho de 1851, batizado no
dia 4 de setembro do mesmo ano, pelo padre Álvaro Pereira de Sousa, e seus
padrinhos foram Pedro de Sousa Silva e sua mulher Jacinta Maria da Conceição.
Leandro provavelmente nasceu
em seguida, supostamente em 16 de novembro de 1865. Todavia a certidão de óbito
de Adelaide dá conta da existência de oito filhos, porém sem nomeá-los.
Esta pesquisa descobriu, com
fonte documental segura, a existência de seis irmãos do poeta e que faltou
apenas um filho de José Gomes e Adelaide, não sendo possível localizar nenhum
registro a seu respeito. Considerando que, por oportunidade do casamento, o pai
de Leandro contasse com a idade de 24 anos, e levando em conta seu falecimento
quando o poeta era uma criança de apenas oito anos, ele teria falecido aos 54
anos de idade.
Adelaide viveu seus últimos
anos sob os cuidados de seu neto Ananias Henriques da Silva, filho da sua filha
Hermínia (a qual tinha como padrinhos de batismo o coronel Cândido José de
Assis e sua primeira esposa, Maria Florentina da Conceição). Ananias declarou o
nome da sua avó na certidão de óbito como Adelaide Xavier de Farias.
Difícil
esclarecer a razão de Leandro ter adotado o sobrenome Gomes de Barros Lima. O
mais provável é que seu pai descenda de outro tronco familiar muito importante
na história dessa região sertaneja. Seria a família originada de Pedro Soares
da Silva e Mônica Rodrigues dos Santos.
Dados
levantados pelo grande genealogista Cornélio Ferreira da Cruz, com minha
singela contribuição em relação a alguns personagens, reconstituem esta árvore
genealógica capital na família sertaneja.
O
sobrenome Barros, adotado pelo poeta Leandro, não pode ter vindo de outro ramo
senão deste. Em algum momento que não se pode precisar, um membro da família
Gomes se uniu a um descendente desta família, o que oportunizou ao poeta adotar
o Barros em referência à família do seu pai.
Pedro
Soares da Silva (o Velho), natural da capital da Província da Parahyba do Norte
(hoje João Pessoa) se casou com Mônica Rodrigues dos Santos. Era proprietário
rural no antigo sertão das Piranhas e Piancó. Diferentemente dos proprietários
rurais da sua época, não era sesmeiro. Suas terras foram adquiridas com
recursos próprios. Quanto à parte que pertencia a Piancó, esta pesquisa
acrescentou ao trabalho de Cornélio Ferreira o registro de uma escritura datada
de 3 de outubro de 1749, pela qual foi formalizada a doação de uma escravinha
de nome Antônia, com idade aproximada de 10 anos, filha da escrava Maria
Angola, para o fazendeiro José da Cruz Villa Nova, esposo da sua neta Mônica
Rodrigues dos Santos.
Entre
outros filhos, Pedro Soares da Silva tinha uma filha chamada Maria Nobre dos
Santos, primeira esposa de João De Barros de Abreu, o segundo requerente da
sesmaria nº 253, de 14 de setembro 1736.
João
de Barros foi casado a segunda vez com Antônia Lourença de Almeida, em cujo
casamento tiveram uma filha por nome de Francisca, batizada em 25 de dezembro
de 1752.
Entre
outros filhos de João de Barros de Abreu, estava Joanna de Barros e Abreu, ou
Joanna de Barros y Abreu, casada com Antonio dos Santos Villa Nova.
Divergências de nome: Joanna de Barros e Abreu, conforme declaração
testamentária feita por seu filho João Evangelista dos Santos; Joanna de Barros
y de Abreu, conforme declaração feita por ela própria na condição de madrinha,
quando da formalização do registro de batismo de Josefa, filha de José da Cruz
Villa Nova, em 30 de novembro de 1749, ocasião em que ainda era solteira. O
padrinho foi o padre licenciado, reverendo Pedro Bezerra de Brito. No seu
próprio testamento, datado de 29 de dezembro de 1814, Joanna declarou que era filha
de João de Barros de Abreu e Maria Nobre dos Santos, já falecidos. Joanna
faleceu no dia 10 de setembro de 1821, com aproximadamente 84 anos de idade, e
no mesmo ano, foi procedido o seu inventário; já o de Antônio foi iniciado no
ano de 1794.
Giovanetta, filha de Leandro, com os filhos no Rio de Janeiro
Os filhos de Joanna de
Barros e Abreu eram:
·
Francisco dos Santos Villa Nova, alferes (mesma
patente que tinha o mártir Tiradentes), casado com Jacinta Maria. Ele exerceu o
cargo de juiz ordinário em Pombal no ano de 1809. Faleceu em 10 de julho de
1840.
·
João Evangelista dos Santos, casado com Francisca
Leite de Faria, filha de Manoel José de Farias, antigo juiz ordinário em Pombal
(1801 e 1812). Ocupou o cargo de vereador em Pombal no ano de 1799.
Faleceu em 16 de setembro de 1842.
·
Leandro dos Santos Barros (em alguns documentos,
assina-se Leandro dos Santos Barros Lima), conforme já visto em capítulo
anterior, proprietário do sítio Orondongo, bem como de diversas outras terras
na região de Paulista. Morreu solteiro em 15 de fevereiro de 1854. Leandro foi
um dos homens mais poderosos de seu tempo e pode ter servido de referência a
diversas gerações posteriores a ele, inclusive ao poeta Leandro.
·
Anna Maria dos Reis Vieira, casada com Antônio
Fernandes de Almeida. Em alguns documentos antigos, o nome completo de Anna
aparece como Anna Maria de Jesus.
·
Manoel dos Santos Villa Nova, casado com Maria José
de Jesus.
·
Maria Nobre da Conceição, casada com o capitão da
cavalaria auxiliar da vila de Pombal, José Ferreira de Sousa (capitão Zé da
Formiga).
·
Joanna de Barros, casada com José Fernandes de
Almeida.
·
Antonia Maria dos Santos, casada com Pedro Soares
Barbosa, tenente, proprietário do sítio Riacho da Onça, pertencente ao
município de Paulista. Pedro foi juiz ordinário em Pombal no ano de 1794, tendo
assinado o primeiro Termo de Vereança nomeando almotacés para os diversos
sítios já povoados, inclusive Paulista, em 29 de outubro de 1794.
Casamento e filhos de Leandro Gomes de Barros
Leandro se casou no dia 3 de outubro de 1893 com dona Venustiniana Eulália de Souza, na paróquia de São Miguel em Ipojuca, Pernambuco, celebrado pelo cônego Luiz Diniz. A certidão menciona o pai de Leandro com o nome de José Gomes de Lima, e a mãe, Adelaide Gomes de Lima. Observe que não aparece o sobrenome Barros (Site dos Mórmons - www.familysearch.org - Matrimônios 1886, Junho-1902, Janeiro, com Venustiniana, [Venus], Eulália Aleixo, nascida em 1878, filha de Joaquim Amâncio de Souza e Maria Saturnina Prudência de Morais).
A primeira filha do casal foi Rachel Aleixo de Barros
Lima, que nasceu em 20 de julho de 1894, em Ipojuca, Pernambuco. Casou-se com
Pedro Batista e faleceu em 1926, em Guarabira, Paraíba. Teve uma filha, Djanane
(falecida logo após o nascimento). O segundo filho de Leandro foi Esaú Eloy,
que nasceu em 1º de dezembro de 1900, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco, e
se casou com Izaura Olindina de Araújo Brito, de descendência desconhecida; o
que sabemos até agora é que ele migrou para o Rio de Janeiro, entre 1924 e 1930,
e integrou a Coluna Prestes. A terceira filha recebeu o nome de Gilvanetta,
(Julieta) de Barros Lima, que nasceu em 29 de março de 1903, em Jaboatão,
Pernambuco, a qual se casou com Reginaldo de Carvalho em 1923. Tiveram três
filhos, entre eles Ivone Ivete de Carvalho, que se casou com Joe Correia
Espindola. Gilvanetta faleceu no Rio de Janeiro. Por fim, Herodias de Barros
Lima, que nasceu em 20 de agosto de 1906, em Jaboatão dos Guararapes,
Pernambuco, e se casou com Eduardo Francisco de Araújo, de quem se desquitou em
1940. Faleceu em 1960, sem deixar descendentes.
Uma história mal contada
Na busca
pela real história da origem do grande mestre do cordel, muitos e renomados
pesquisadores já se embrenharam por relatos fabulosos e equivocados. Credito
tais equívocos à escassez de dados biográficos de Leandro, cujos poucos
vestígios foram soterrados no infortúnio dos arquivos eclesiásticos que não
resistiram ao tempo e má conservação. Restaram vagas reminiscências, que foram
tardiamente historiadas, o que levou ao acúmulo de inconsistências.
Destaco o escritor Pedro Nunes Filho, autor da grande obra O Guerreiro Togado. O texto a seguir se
encontra no livro Leandro Gomes de
Barros, Vida e Obra, do escritor cearense Arievaldo Viana, cujo relato
compõe também a obra da professora e escritora Cristina Nóbrega.
“Consta que a avó do Padre Vicente era índia e o
avô, português. Sabemos que os portugueses desbravadores dos nossos sertões
chegavam desacompanhados de mulheres e precisavam casar. Por isso, pegavam índias
a dente de cachorro. Foi o que aconteceu com o avô do Padre Vicente. Um dia ele
estava caçando mocó e o cachorro correu atrás de algo que ele não
viu. Quando chegou ao local onde o animal estava acuado, encontrou uma indiazinha em cima de uma árvore.
Necessitado de mulher para casar, ele tratou logo de retirá-la daquele local.
Ela ficou tão assustada que se urinou.
Tinha apenas 12 anos. Ele a
levou para casa, amarrou no pé da mesa, até que ela amansasse. Quando isso
aconteceu, ele a batizou e com ela
contraiu matrimônio. Teve vários filhos, entre eles, Manoel Xavier de Farias.
Um dia, um grupo de facínoras, atacou a casa de Manoel e matou seu pai, para
roubar uma baixela de prata que ele havia trazido de Portugal. A índia, sua
mulher, inconformada, reuniu os filhos,
deu dinheiro a eles, fê-los acompanhar de um escravo negro de sua confiança e
mandou que eles ganhassem o mundo
para vingar a morte do pai. Disse mais: ‘ - Só dou a bênção a vocês quando
voltarem trazendo as orelhas dos bandidos.' Os filhos saíram juntos e foram matando os ladrões um por um. Os últimos
estavam comendo uma galinha debaixo de um juazeiro, utilizando os talheres roubados. Foram mortos também.
Terminada a empreitada de vingança, os filhos regressaram e entregaram à índia um cordão com todas as orelhas.
Ela as colocou em uma cumbuca e dependurou acima do fogão de lenha para que
ficassem defumadas. Meu avô, Antônio Nunes de Farias, filho de Bernardo Nunes
da Rocha e de Josefa Xavier de Farias, contava a meu pai, Pedro Nunes de Farias,
que quando ia visitar a bisavó, ela sempre repetia o mesmo ritual. Chamava-o e dizia: '- Meu
filho, venha ver as orelhas dos bandidos que mataram seu bisavô!' Meu avô dizia
que as peças pareciam cascas de angico secas". Tenho também a informação'
de que aquele sentimento de vingança da índia incomodava o Padre Vicente, seu neto, que sempre insistia
para ela jogar fora as orelhas, mas ela não o atendia”.
Talher de prata que pertenceu aos antepassados de Leandro (foto: Pedro Nunes Filho)
Leandro fala do CABAÇO DAS ORELHAS nesse folheto
Abaixo, segue o famoso “causo”
da morte de Francisco Xavier de Farias (Chico Xavier), da lavra e narrativa de
Juvenal Lamartine (Serra
Negra do Norte, 9 de agosto de 1874 —Natal, 18 de junho de 1956), em seu livro Velhos Costumes do Meu Sertão:
“No começo do século XIX, fixou residência
na Fazenda Saco do André, quatro léguas mais ou menos ao poente da cidade de
Serra Negra, João Gomes de Faria, cujo pai viera de Pernambuco com mais três
irmãos. Localizaram-se, todos, naquele município sertanejo, casando-se com
netas do seu fundador, Capitão Manoel Pereira Monteiro. João Gomes de Faria
casara-se com uma prima pelo lado paterno, filha de Francisco Xavier. Seu
sogro, Francisco Xavier, viúvo e paralítico, residia próximo à sua casa, em
companhia de alguns escravos e de um filho de criação e afilhado. Passaram-se
os tempos e, um dia, inventa o afilhado de viajar - conhecer o mundo - como se
dizia. O velho fez tudo para dissuadi-lo, afeiçoado ao moleque que era "os
seus pés e suas mãos" e que ademais já possuía uma boa "semente"
de gado prosperada em cada ferro com os presentes do padrinho. De nada valeu a
insistência; o moleque tomou a benção, fez uns dinheiros pela venda de um gado
e ganhou as estradas. Tempos depois, numa manhã de domingo, aparece o afilhado
dizendo, meio desconfiado, que de viagem por perto, tinha cortado caminho para
visitar o padrinho e pedir para ele lhe botar a benção. Perguntou por João
Gomes e veio a saber que o mesmo, como de costume, tinha ido à missa e fazer
umas compras, devendo voltar à boca da noite. Zanzonou umas horas por ali,
enjeitou de novo em ficar na fazenda, recebeu a benção do velho e com elas uns
dinheiros de agrado, e foi-se... Horas depois, batem uns cabras armados que
malvadam, matam e roubam todo o dinheiro do velho Chico Xavier. Um escravo que
foi mandado depressa à rua, dizer da notícia, já deu com João Gomes no caminho
de volta à fazenda. Este tratou de esporar o cavalo e lá chegando diligenciou o
enterro do sogro e tratou de sindicar o acontecido. Indaga daqui e dali, tomou
conhecimento da visita do moleque e da preocupação que teve em tomar notícias
suas e da provável hora do regresso. Os quatro cabras chegaram depois para
matar e roubar o velho. João Gomes não trastejou: mandou mudar a sela para
outro animal e, em companhia de alguns homens da sua confiança, tomou o rastro
do moleque. Algumas léguas adiante, deu com o afilhado que interrogado, veio a
confessar ter guiado os bandidos até a fazenda do padrinho para depois
dividirem o saque. Tomada a notícia do rumo dos bandidos, ali mesmo matou o
moleque, continuando a perseguição do grupo, a que deu fim, um a um... . O
último deles - contavam os mais velhos - e que já era justamente o cabeça, três
anos depois é que foi justiçado já nos sertões do Piauí. João Gomes a esse
tempo andava em companhia de um seu afilhado, Manoel José, rapaz destemido e
melhor escopeteiro. No quebrar da barra de uma madrugada de inverno, deram com
o cangaceiro que vinha montado e trazendo o clavinote vestido por uma capa de
couro de carneiro. João Gomes tomou-lhe a frente e perguntou se ainda se
lembrava de um velho entrevado, de nome Francisco Xavier, por ele assassinado
no sertão das Espinharas. Dizem que o gesto de defesa que ensaiou o
"papouco" de um clavinote o fez terminar no outro mundo. João Gomes
mandou o afilhado cortar a orelha do bandido, a qual se foi juntar as outras
quatro que já possuía e fazia conservar, salgadas e enfiadas em um arame -
atestado da terrível vingança exercida contra os assassinos do seu sogro e
tio”.
Relógio que pertenceu à D. Josefa Xavier de Farias, tia de Leandro
e bisavó do escritor Pedro Nunes Filho
O
escritor Pedro Nunes Filho retratou os fatos transmitidos ao longo de gerações
pela sua família. A tradição oral é importante fonte histórica, porém é a mais
volátil e vulnerável a sofrer alterações no curso da história.
Já o escritor Juvenal Lamartine de Faria, por
ter vivido em época quase contemporânea aos fatos, merece atenção especial pela
narrativa do causo aqui citado. Juvenal foi advogado, jornalista, magistrado e político, além
de ser governador do Rio
Grande do Norte por dois anos e nove meses, sendo
destituído com o advento da Revolução
de 1930 comandada por Getúlio Vargas, que
depôs todos os governadores eleitos na época, inclusive os revolucionários.
Exilou-se na Europa,
retornando ao Estado do Rio Grande do Norte já no governo de Rafael
Fernandes Gurjão. Foi deputado
federal de 1906 a 1926 e também senador de 1927 a 1928.
Observe que, na essência, as duas histórias se encontram, mas o texto
de Pedro Nunes Filho aponta para a origem do poeta Leandro Gomes de Barros que,
segundo o escritor, era seu parente, já que uma ancestral sua seria irmã de
Adelaide Maria de Jesus, mãe de Leandro, bem como do padre Vicente Xavier de
Farias, lembrando que o padre Vicente e Adelaide eram filhos de Manoel Xavier
de Farias e de Antônia Maria de Jesus.
Pedro Nunes, ao se referir aos avós do padre Vicente, só pode estar
falando dos avós paternos. Segundo ele, os pais de Manoel Xavier de Farias
seriam um português, cujo nome se ignora, e uma índia capturada a dentes de
cachorro, quando tinha 12 anos de idade. O português teria aprisionado a
selvagem e feito dela sua esposa, com quem constituíra numerosa família.
Unindo as duas histórias, pode-se concluir que o português a quem se
refere Pedro Nunes seria o mesmo Francisco Xavier de Farias assassinado pelos
cangaceiros da história de Juvenal Lamartine.
Embora se saiba que todo acontecimento que sobrevive ao tempo vira
história, este possui um fundo de verdade, e um estudo criterioso das origens
dessa família vai revelar as lendas por trás de cada versão.
Frei Hugo Fragoso, professor de História na
Universidade Católica de Salvador e autor do prefácio da obra Cariris Velhos, de Pedro Nunes Filho, ao
traçar a genealogia do autor, identifica que Pedro Nunes tinha uma ancestral
indígena, porém por linha diversa, já que Pedro era parente de Leandro Gomes de
Barros por descender de Josefa Xavier de Farias, que seria irmã de Adelaide,
mãe de Leandro. Josefa era casada com Bernardo Nunes da Rocha, filho de Antônio
Nunes da Rocha e de uma índia sucuru, batizada com o nome cristão de Tereza
Maria de Jesus. Assim se explica a confusão na história do parentesco entre o
autor de Guerreiro Togado e o poeta
paulistense.
Certidão de casamento de Leandro e Venustiniana.
Leandro sempre declarou que seu pai se chamava José Gomes de Barros Lima
Famílias Xavier, Faria (ou Farias), Alves
(ou Alvares), Gomes, Pereira e Monteiro
Simão
Gomes e Margarida de Faria formaram o casal mais antigo que gestou toda a
estirpe em referência, atingido pelo presente estudo. O sargento-mor José Gomes
de Farias, riquíssimo fazendeiro de origem portuguesa, filho de Simão Gomes,
foi proprietário do Arraial Queimado e dos sítios Almas e Caiçara de Baixo. As
informações constam de seu testamento datado de 30 de outubro de 1763. Após
formalidades iniciais, diz o documento:
“Declaro
que sou natural da freguesia de Nossa Senhora do Monte da Caparica, termo da
Almada filho legitimo de Simão Gomes e de sua molher Margarida de Faria.
Declaro que fui casado com Clara do Espirito Santo do qual matrimonio tivemos
cinco filhos, três já mortos e dois são vivos, os quaes vivos hum se chama José
Gomes de Faria, outro Miguel Gomes de Faria, hum sacerdote do habitto de São
Pedro e o outro também sacerdote do habitto do Santo Espirito e ambos auzentes
da minha companhia”.
Ao falecer, o sargento-mor José Gomes
de Faria deixou uma fortuna incalculável para seus filhos, ambos padres e sem
herdeiros diretos, José Gomes de Farias e Miguel Gomes de Farias. Ao falecer o
padre Miguel, o padre José Gomes herda toda sua fortuna, se constituindo em um
dos maiores latifundiários das ribeiras das Piranhas, rio do Peixe e
Espinharas.
Simão Gomes e Margarida de Faria eram também pais de João Gomes de
Faria, cuja esposa era Marianna Henrique de Faria. João Gomes e Marianna
Henrique tinham um filho chamado Francisco Xavier de Farias, que veio para o
Brasil, se estabeleceu em Recife, Pernambuco, e se casou com Manuella Alves da
Conceição no dia 14 de outubro de 1754, na freguesia de São Pedro, em Recife.
Manuella era filha de Domingos Alves Esteves e Joanna Araújo de Deos, casados
na vila de Viamão, freguesia de Santa Maria, em 12 de janeiro de 1711 –
informações constantes do processo de admissão para familiatura do Santo Ofício
de Francisco Xavier de Farias (o filho).
O casal Francisco Xavier de Farias e Manoella Alves da Conceição
tiveram cinco filhos homens: Joaquim Álvares de Farias, João Gomes de Farias,
Luís Álvares de Farias, Pedro Álvares de Alcantra e Francisco Xavier de Farias
(segundo do nome).
Em meados da década de 1770, sem que se possa precisar a data, faleceu
no sertão das Piranhas o padre José Gomes de Farias. Não possuindo herdeiros
descendentes nem ascendentes, seu espólio seria transferido a seus tios, João
Gomes de Farias e Manoel Gomes de Farias. Como já houvesse falecido João Gomes
e Manoel Gomes de Farias, o direito de herança se transferiu para seus filhos,
entre eles, Francisco Xavier de Farias. Após inventário dos bens, vieram tomar
posse do patrimônio nas terras do interior os filhos de Francisco Xavier de
Farias.
Entre as propriedades, estava uma grande fazenda chamada Pitombeira,
nas Espinharas, onde se fixaram inicialmente Joaquim Álvares de Farias, João
Gomes de Farias e Luís Álvares de Farias.
Aqui tem lugar o estudo minucioso e criterioso do grande Olavo de
Medeiros Filho, constante do seu livro Velhas
Famílias do Seridó.
Tratando das origens de Serra Negra do Norte, afirma Luis Câmara
Cascudo que “A tradição evoca uma grande sesmaria dada em 1670 aos Oliveira
Ledo na ribeira do Espinharas, Paraíba, estendendo-se, na indecisão dos
limites, pela Capitania do Rio Grande do Norte. Coube a João de Freiras da
Cunha o trecho correspondente ao futuro município. Falecendo o sesmeiro,
herdou-a seu irmão Domingos Freitas da Cunha que a vendeu por 600$000 a Manoel
Barbosa de Freitas, situando este uma fazenda no local. Doou-a ao sobrinho
Manoel Pereira Monteiro, fundador da povoação, grande lavrador e fazendeiro”.
Ainda sobre a origem da atual cidade de Serra Negra do Norte, assim se
expressou Juvenal Lamartine de Faria: “A cidade de Serra Negra do Norte nasceu
de uma fazenda de gado ali situada por meu 6º avô, Manoel Pereira Monteiro, que
a recebeu, por doação, de seu tio Manoel Barbosa de Freitas, cunhado dos
Oliveira Ledo, cobrindo duas léguas de terra pelo Rio Espinharas abaixo, com três léguas para o nascente e três
para o poente do mesmo rio”.
O coronel Manoel Pereira Monteiro, fundador da cidade de Serra Negra
do Norte, se casou com Teresa Tavares de Jesus, de cuja união nasceram cinco
filhos. Entre eles estava Manoel Pereira Monteiro (segundo do nome), que também
foi o único a deixar descendentes.
Manoel Pereira Monteiro II, nascido em 1725, se casou com Thereza
Maria da Conceição, com quem teve sete filhos, sendo dois homens e cinco
mulheres.
Das cinco filhas do capitão Manoel Pereira Monteiro II, três se
casaram com filhos de Francisco Xavier de Farias: Antônia Maria do Espírito
Santo com João Gomes de Farias; Maria José do Nascimento com Joaquim Álvares de
Farias, no dia 25 de novembro de 1794, na Fazenda Conceição, no Seridó; e Anna
Maria de Jesus com Luís Álvares de Faria, no dia 6 de outubro de 1795, na
capela de Nossa Senhora do Ó, em Serra Negra do Norte. Olavo de Medeiros
detalha toda a genealogia desta família com base em farta documentação
eclesiástica que foi bem preservada na matriz do Seridó.
Quanto aos demais filhos de Francisco Xavier de Farias, Pedro Alves de
Alcantra se casou com Francisca Maria, cuja origem não foi possível apurar; e
Francisco Xavier de Farias II se casou com Josefa Pereira de Magalhães, no dia
29 de novembro de 1780, na matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Josefa era
filha de Antônio Pereira Magalhães e Mariana Vieira da Silva, registro
constante do processo de familiatura do Santo Ofício (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/9699). Em
vários registros de casamentos de seus filhos, Josefa Pereira de Magalhães
aparece com o nome de Josefa Maria da Conceição ou Josefa Maria do Espírito
Santo. Isto é reflexo da fragilidade do nome em uma época em que não existia
registro civil sob tutela do Estado. Estes documentos, trazidos à luz por esta
pesquisa, deixam por terra a versão ventilada no causo de Pedro Nunes Filho, de
que Francisco Xavier de Farias (segundo do nome) seria casado com uma índia, de
cuja união teria provindo a família do poeta Leandro Gomes de Barros.
Luís Álvares de Farias (ou Alves), cuja história já foi esmiuçada em
capítulo anterior, era proprietário dos sítios Arraial Queimado e Arraial do
Paulista, um por herança do padre José Gomes de Farias e outro por compra feita
ao capitão José Félix Machado. Após se casar com Anna Maria de Jesus, em 1795,
veio residir definitivamente no sítio Arraial Queimado. De seu casamento,
nasceram sete filhos: dois homens e cinco mulheres.
Seu irmão, João Gomes de Farias, permaneceu no Rio Grande do Norte. Do
seu casamento com Antônia Maria do Espírito Santo, nasceram nove filhos: sete
homens e duas mulheres. Entre os homens, estava João Gomes de Farias Júnior
(major João Gomes).
No dia 6 de agosto de 1818, se casaram na matriz de Nossa Senhora do
Bom Sucesso João Gomes de Farias Júnior e sua prima, Joanna Maria da Conceição.
Ela, filha de Luís Alves de Farias; e ele, de João Gomes de Farias.
O major João Gomes de Farias Júnior fixou residência no sítio Saco do
André, em Paulista. Importante documento resgatado por esta pesquisa é a
escritura de doação feita por sua viúva, dona Joanna Maria da Conceição a seu
filho Leandro Gomes Mariz, após a morte do major João Gomes em 31 de março de
1870. Ela doa metade da casa e das terras do sítio Saco do André.
Este documento comprova que a versão de Juvenal Lamartine está situada
corretamente, todavia pecou o ilustre potiguar ao afirmar que João Gomes de
Farias Júnior seria genro de Francisco Xavier de Farias. Era, em verdade, seu
sobrinho, casado com uma prima, filha de seu outro tio Luís Alves de Farias. O
major João Gomes teria feito vingança pela morte de seu tio. O erro de Pedro
Nunes, no entanto, foi afirmar que Francisco Xavier de Farias era português e
casado com uma índia.
O cotejo das duas versões, não obstante possa parecer um alheamento da
história, ou um relato enfadonho, foi escolhido para ilustrar a genealogia do
poeta Leandro Gomes de Barros, e mostrar os caminhos da família Xavier de
Farias (ou Faria), Gomes, Álvares (ou Alves), até chegar ao sertão do Rio
Grande do Norte e Paraíba.
Francisco Xavier de Farias, vítima do assassinato que gerou a epopeia
da vingança do major João Gomes, era pai de Manoel Xavier de Farias (casado com
Antônia Maria de Jesus). Entre os filhos desta união, destacam-se o famoso
padre Vicente Xavier de Farias e dona Adelaide Maria de Jesus (ou Adelaide
Xavier de Farias), mãe do grande mestre do cordel.
Conforme todas as fontes apresentadas, a família de Leandro chegou a
Paulista depois que seu bisavô e os irmãos dele vieram de Pernambuco e se
uniram com outra família na cidade de Serra Negra do Norte. Eles eram herdeiros
de grandes porções de terras em Paulista, o que atraiu seu bisavô a se fixar
nestas terras. Estas famílias formam a base da população de Paulista.
Como já demonstrado em capítulo anterior, Luís Alves de Farias foi
dono de quase todas as terras que formam o atual município de Paulista, e sua
descendência, juntamente com as dos seus irmãos João Gomes de Farias e
Francisco Xavier de Farias, povoaram esta região, demonstrando que, do ponto de
vista genealógico, sempre estivemos mais ligados ao município de Serra Negra do
Norte do que a Pombal. Com este último, a ligação sempre foi meramente
político-administrava, e que praticamente não exerceu influência na formação da
sociedade paulistense.
Observemos que a gênese do tronco familiar que irradiou esta família
por todo o sertão não passa pela vila de Pombal, a não ser pela ligação
meramente política da povoação de Paulista para com aquela vila.
Dentre as diversas propriedades, estava parte dos sítios Queimado e
Caiçara de Baixo, ou Melancias, herdados pelo avô de Leandro, Manoel Xavier de
Farias e seus irmãos, entre eles João Gomes Xavier de Farias, cujo inventário
se deu em 1857. Entre os bens arrolados, está a propriedade do sítio Queimado,
possuída em comum com outros herdeiros.
Possuo uma infinidade de outros
ascendentes, mas num resumo, a árvore genealógica de Leandro Gomes de Barros,
ou Xavier de Farias pode ser assim descrita:
Seus
pais:
José
Gomes do Nascimento Lima (paraibano)
Adelaide
Maria da Conceição (paraibana)
Avós
maternos:
Manoel
Xavier de Farias (paraibano)
Antônia
Maria de Jesus (paraibana)
Bisavós
maternos:
Francisco
Xavier de Farias II (pernambucano)
Josefa
Pereira de Magalhães ou Maria da Conceição (paraibana)
Trisavós
maternos:
Francisco
Xavier de Farias (português)
Manuela
Alves da Conceição (pernambucana)
Tetravós
maternos:
João
Gomes de Faria (português)
Mariana
Henrique de Faria (portuguesa)
Quintos
avós maternos:
Simão
Gomes (português)
Margarida
de Faria (portuguesa)
Folhetos raros do 'Rei da Poesia Sertaneja'
Em 18 de maio de 2018, foi publicada no Diário Oficial do
Estado da Paraíba a lei nº 11.126, de 17 de maio de 2018. Esta lei reconhece o
município de Paulista como “Patrimônio Cultural do Cordel”, pelo aniversário de
100 anos da morte de Leandro Gomes de Barros, nascido no sítio Melancias,
município de Paulista. Reconhece com o mesmo título a cidade de Pombal, que
política e geograficamente polarizava a região ao tempo do nascimento do mestre
do cordel. O projeto foi idealizado pelos deputados Tião Gomes e Julys Roberto.
(Do livro O ARRAIAL QUEIMADO DO PAULISTA)
REFERÊNCIAS:
CRUZ, Cornélio Ferreira da. Família Formiga. 1ª ed. Patos, PB: 2012.
________________________. Famílias do Sertão Paraibano. 2ª
ed. Patos, PB: 2017.
FARIAS, Juvenal Lamartine de. Velhos Costumes do meu Sertão. 2ª
ed. Natal: Fundação José Augusto, 1996.
NUNES FILHO, Pedro. Guerreiro Togado, Fatos Históricos da Alagoa do
Monteiro.
Recife: Editora FacForm, 2011.
VIANA, Arievaldo. Leandro Gomes de Barros, o mestre da literatura
de cordel: vida e obra. 1ª ed. Mossoró, RN: Editora Queima Bucha, 2014.
Arquivo Histórico Ultramarino –
Documentos Avulsos da Paraíba.
Arquivo da Paróquia de São Miguel
(Ipojuca – PE).
Acervo do Cartório de Registro
Civil de Vitória de Santo Antão – PE.
Acervo do Cartório de Registro
Civil do 1º Distrito de Jaboatão – PE.
Arquivo da Paróquia de Nossa
Senhora do Ó (Serra Negra do Norte – PB).
Acervo do Cartório I Ofício de
Notas “Cel. João Queiroga” (Pombal – PB).
Acervo do Cartório “Guiomar
Tavares Formiga” (Pombal – PB).
Arquivo da Paróquia de Nossa
Senhora do Bom Sucesso (Pombal – PB).
Acervos dos Cartórios da 1ª e 2ª
Varas do Fórum “Promotor Francisco Nelson da Nóbrega” (Pombal – PB).
Arquivos do Tribunal do Santo
Ofício:
http://genealogiafb.blogspot.com.br/2016/10/habilitacoes-cargos-do-santo-oficio-ii_31.html.
Arquivos particulares de Cristina
Nóbrega.
Biografia de Leandro escrita por Arievaldo Vianna
em 12 anos de árdua pesquisa
Muito interessante a matéria de Guttemberg Pereira. Infelizmente ele informa que Rachel Aleixo faleceu em 1926 em Guarabira. Ela faleceu em 1918 e sua filha Djenane em 1919, conforme certidões lavradas no cartório do registro de pessoas naturais de Guarabira. O túmulo de Rachel e filha está preservado e foi recentemente restaurado pela prefeitura da cidade. O prefeito Zenóbio Toscano atendeu a um pedido deste humilde pesquisador.
ResponderExcluirCaro José Paulo, realmente um dado equivocado pelo qual peço minhas escusas. Devo ter bebido na fonte errada. Até mesmo Arievaldo Viana, em sua célebre biografia, nos dá a data de 1921. Registros que merecem reparos futuros. As pesquisas se complementam.
ResponderExcluirA genealogia do poeta Leandro surgiu no bojo da grande pesquisa do Arraial Queimado, lançado no ultimo mês de setembro. Foram dez anos de uma pesquisa minuciosa, navegando por um mar de poeira em arquivos precários, resgatando documentos que se pensava perdidos. Em paralelo a esta pesquisa, eu montava uma grande árvore genealógica da minha família. O bisavô de Leandro, Francisco Xavier de Farias é meu 6º avô na linha paterna, irmão do meu 6º avô na linha materna, Luiz Alves de Farias, figura de maior relevância histórica para o Arraial Queimado. Sou muito feliz por ter conseguido lançar luz sobre muitos dados e fatos outrora desconhecidos. Ainda busco aprofundar este trabalho que tem muito a melhorar.
ResponderExcluirJosé Paulo Ribeiro é um pesquisador amigo dos documentos e da verdade. A minha biografia não é "célebre" amigo Guttemberg, é um esforço de um historiador diletante e quando foi publicada esses dados garimpados por José Paulo ainda não tinham vindo à tona. Se eu soubesse dessas datas da morte de Rachel e Djenane, certamente haveria corrigido os meus apontamentos.
ResponderExcluirOs dados sobre o óbito de Rachel só vieram à tona no final de 2015.História sempre é uma busca constante.
ExcluirVerdade, José Paulo. Uma nota publicada no Diário de Pernambuco, em 1912, atesta que a data de aniversário de Leandro é realmente 19 de novembro. O ano de nascimento ainda não ficou comprovado, embora a maioria dos pesquisadores apontem o ano de 1865. Apenas a Certidão de Óbito, feita por Esaú Eloy, remete a 1860. Chagas Batista, compadre, amigo e editor de Leandro fala em 1868, no seu indispensável CANTADORES E POETAS POPULARES, de 1930. Consegui um exemplar dessa obra graças ao saudoso Altymar Pimentel, a quem fui apresentado por seu tio Paulo Nunes Batista.
ResponderExcluirEstou fascinada pelos relatos históricos. Moro no Rio Grande do Norte e meu Tretavô chamava-se Delmiro Xavier de Farias, este filho de Joaquim Gomes Xavier de Farias. Será que é coincidência ou tem fundamento a minha ideia de achar que pertenço a família Xavier de Farias narrada aqui.
ResponderExcluirÉ possível. Quem pode lhe dar boas pistas é o escritor Guttemberg Pereira.
ExcluirHerminia Xavier de Farias, Leandro Gomes de Barros, Antonia Xavier de Farias, Candida, José Xavier de Farias, Daniel Gomes da Nobrega (meu bisavô), Adonias Xavier de Farias, Camilo Xavier de Farias ?
ResponderExcluirPor quê Leandro colocaria em sua certidão de casamento que o pai chamava-se José Crahtt Gomes de Barros Lima.
E a propósito, encontrei seu nome no livro "Sesmeiros da Paraíba", dois números de inscrições como sesmeiro. Estou a "caça" desses dados há 10 anos.
Que tal investigar?
Cristina, Leandro mudou seu próprio nome e também o nome de seu pai. Hoje, tenho farta documentação. Leandro tinha 7 irmãos e nenhum deles se chamava Daniel, nem Cândida. Leandro era Gomes mas nunca foi Nóbrega. O pai de Leandro nunca possuiu sesmaria nenhuma. Aliás, o sistema de sesmarias nem estava mais em vigência na sua época. Francisca Luzia nunca foi cangaceira, era uma mulher comum, casada com Gabriel Gomes dos Anjos e mãe de família normal. Tudo isto vai estar em outro livro que preparo.
ExcluirOs irmãos de Leandro eram Cordulina, Maria, Antônia, Hermínia, Manoel, Camilo, Adonias.
ExcluirQuem foi Francisca Luzia? Tida como cangaceira.
ResponderExcluirsei que era filha de Francisco Xavier de Farias
Perfeito. A história se conta assim: com documentos concretos e informações orais passadas ao longo da gerações. Sempre vão surgir divergências que, quando comprovadas, apenas enriquece o trabalho do pesquisador que teve a coragem de mergulhar nas informações sem.tomar fôlego.
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