Rosemberg
Cariry lança livro
sobre Cego Aderaldo
sobre Cego Aderaldo
O cineasta e pesquisador da cultura popular
Rosemberg Cariry lançou no último dia 22 de dezembro o livro "Cego Aderaldo - o homem,
o poeta e o mito", às 18h, dentro da programação do Pequeno Encontro de
Violeiros e Repentistas do Sertão Central, na Casa de Saberes Cego Aderaldo, em
Quixadá (CE). A obra sucedeu a realização do documentário "Cego Aderaldo -
o cantador e o mito" (2012), que foi exibido antes, às 16h, no mesmo
evento. Após a exibição, o cineasta participou de um bate-papo com o público.
O livro de Rosemberg contempla 10 anos de pesquisa
sobre vida e obra do poeta e cantador cearense Cego Aderaldo (1878-1967),
nascido no Crato. Editada pela Casa de Saberes Cego Aderaldo e Secretaria da
Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), a publicação (Interarte) traz 87
recortes ou "sequências de vida" de Aderaldo, divididas em três atos
ao longo de pesadas 780 páginas.
Além do lançamento em Quixadá, Rosemberg Cariry
também vai lançar o livro na Escola de Saberes de Barbalha (CE), no próximo dia
28.
Diretor de filmes como "Corisco &
Dadá" (1996), "Patativa do Assaré - Ave ou poesia" (2007) e,
mais recentemente, "Pobres Diabos" (lançado em 2013 no circuito
nacional de festivais e somente este ano nas salas comerciais do País), Cariry
explica, em entrevista por e-mail, que a publicação terá, apesar da dimensão
robusta (quase 800 páginas e mil fotos de época), distribuição gratuita para
instituições culturais, escolas e universidades.
"Essa é uma edição popular. Mas uma pequena
quantia de livros será separada para a venda a pesquisadores, como forma de
permitir o acesso nacional à obra, que interessa a muitos estudiosos",
situa.
O cineasta destaca que, pelo interesse em torno do
livro, ainda antes do lançamento, já está sendo pensada uma segunda edição,
"a cores e com capa dura", detalha.
Rosemberg Cariry recapitula que a ideia de levantar
a publicação surgiu bem antes do lançamento do documentário. Ele conta que há
21 anos, na França, ouvia um disco ("Folk Songs", 1981) do trio
Egberto Gismoni, Jean Garbarek e Charles Haden, incluindo a faixa "Cego
Aderaldo".
"Já havia também a homenagem feita pelo Baden
Powell, Nara Leão e Cirino, entre outros. Então eu me perguntei: por que o
Ceará resolveu esquecer esse grande artista? A partir daí dediquei-me às pesquisas
e a juntar documentos e depoimentos para realizar o filme. Estou
contente", revela.
Com o lançamento de "Cego Aderaldo - o homem, o
poeta e o mito", Rosemberg Cariry se diz com a "missão cumprida"
e enfatiza que o Ceará volta a valorizar um artista popular de
"extraordinária grandeza. Mais do que uma pessoa histórica revelada em sua
biografia, temos também a importante dimensão do mito", observa.
Percurso
Indagado se o plano era lançar o livro em paralelo
ao documentário, há cinco anos, Rosemberg confirma que havia, sim, essa
expectativa. Mas o plano original não vingou e o filme já traz uma reputação
consolidada.
"Foi lançado em vários festivais (a exemplo do
Cine Ceará em 2012), (e ainda) terá exibição nacional, através da TV Brasil, no
próximo ano", adianta o diretor.
Nas resenhas do próprio filme, os textos dão conta
do trabalho do cineasta em contornar fontes "imprecisas" (algumas
histórias só tinham registro pela oralidade das fontes) para levantar a
pesquisa minuciosa sobre a trajetória do Cego Aderaldo.
Sobre essa checagem, ele explica que "havia a
própria memória do Cego Aderaldo, organizada e publicada pelo escritor Eduardo
Campos. Também muitos acervos jornalísticos, além de artigos e ensaios com
referências que vão de Leonardo Mota a Rachel de Queiroz, de Rogaciano Leite a
Câmara Cascudo, de Zélito Magalhães a Cláudio Portela, de Geraldo Amâncio a
Oswald Barroso, cada um contribuindo ao seu modo", especifica.
Ele complementa que "também a oralidade foi de
grande importância, sobretudo as indicações e memórias de dona Nair de Oliveira
Brito (viúva de Mário Aderaldo) e do historiador João Eudes Cavalcante Costa,
entre tantos outros. Talvez por isso três páginas do livro são apenas de
agradecimentos às minhas fontes", destaca o cineasta.
Futuro
Rosemberg Cariry reconhece que, embora tenha
entregue uma obra de longo fôlego a respeito de Cego Aderaldo, a riqueza do
mito e a intrigante biografia do homem (ele adquiriu deficiência visual no
curso da vida, mas não se entregou às limitações do bloqueio) ainda pedem novos
olhares de pesquisadores e de interessados em geral pela cultura popular.
"O Cego Aderaldo não é apenas um fenômeno da
força, do heroísmo e da cultura da gente cearense, ele é também um lugar para
se pensar esse País imenso, contraditório e desigual. Através dele é possível
pensar e vislumbrar o Brasil profundo, ao mesmo tempo original e herdeiro
universal de culturas e povos", reflete Cariry.
Fonte: Diário do Nordeste
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