sexta-feira, 28 de julho de 2017

II FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO



II FEIRA DO CORDEL CORDEL BRASILEIRO
De 17 a 20 de agosto, na CAIXA CULTURAL Fortaleza

Homenageados:


Ilustração: JÔ OLIVEIRA

Cego Aderaldo – 50 anos de morte
Aderaldo Ferreira de Araújo
(* 24 de junho de 1878 + 29 de junho de 1967)

No dia 29 de julho de 2017, completaram-se 50 anos do desaparecimento daquele que é considerado um dos mais importantes poetas populares nordestinos, Aderaldo Ferreira de Araújo - o famoso Cego Aderaldo. Nascido no Crato, veio morar muito jovem na cidade de Quixadá, depois de ficar órfão de pai, empregando-se na estrada de ferro. Cegou aos 18 anos. Trabalhava abastecendo uma caldeira, quando tomou um copo de água fria e os olhos estalaram imediatamente, fazendo com que perdesse a visão pelo resto da vida. Comprou então seu primeiro instrumento e descobriu que sabia fazer versos. Achava humilhante ter que pedir esmolas por isso exerceu diversas profissões: além de cantador foi comerciante e exibia filmes, num cinematógrafo que lhe fora presenteado por Ademar de Barros, ex-governador de São Paulo.



Gonçalo Ferreira – 80 anos

Cearense da cidade de Ipu, o poeta, contista e ensaísta Gonçalo Ferreira da Silva nasceu no dia 20 de dezembro de 1937. Aos quatorze anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde, em 1963, publicou, pela Editora da Revista Rural Fluminense, o primeiro livro: Um resto de razão, coletânea de contos regionais do Nordeste. Em 1978 iniciou a sua produção de literatura de cordel, quando, ao realizar estudos sobre cultura popular, na Fundação Casa de Rui Barbosa, conheceu o pesquisador Sebastião Nunes Batista e, em companhia dele, passou a freqüentar a Feira de São Cristóvão. Muito exigente com a forma, tem estrofes primorosas em seus mais de 200 trabalhos já publicados. Também escreveu livros em prosa, um deles uma biografia romanceada do cangaceiro Lampião.
É fundador e atual presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC, situada no bairro de Santa Tereza.


Caricatura de Válber Benevides


Arievaldo Vianna – 50 anos
Arievaldo Vianna Lima – 18 de setembro de 1967

Nascido aos 18 de setembro de 1967, na fazenda Ouro Preto, Sertão Central do Ceará, o escritor Arievaldo Vianna foi criado à luz de lamparina, em contato permanente com as cacimbas dos saberes do povo Nordestino. Foi alfabetizado em meados da década de 1970, graças ao valioso auxílio da Literatura de Cordel.
Estreou na imprensa em 1982 no Jornal de Canindé e logo em seguida passou a publicar os seus trabalhos no Caderno de Domingo do jornal O POVO, de Fortaleza. A partir da década de 1980 vem publicando diversos folhetos, alguns em parceria com Gonzaga Vieira, Klévisson Vianna, Manoel Monteiro, Marco Haurélio, Evaristo Geraldo, Rouxinol do Rinaré, Pedro Paulo Paulino, Jota Batista e Sílvio Roberto Santos. De lá para cá são dezenas de livros, de temática diversa, e mais de 120 folhetos de cordel já publicados. É também xilogravador, chargista e ilustrador. Participou, ao lado de Dominguinhos, Assis Ângelo e Sinval Sá, de um documentário da TV Câmara de Brasília, sobre o Centenário de Luiz Gonzaga.
É criador do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, que utiliza a poesia popular como ferramenta paradidática. Tem percorrido o Brasil realizando palestras, oficinas e recitais para estudantes, educadores e amantes da poesia popular nordestina. Foi eleito em 2000 para a cadeira de número 40 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, cujo patrono é o poeta João Melchíades Ferreira (1869 – 1933). Conquistou o premio Domingos Olimpio de Literatura, promovido pela Prefeitura de Sobral-CE, com uma adaptação do romance Luzia Homem para o cordel. Foi redator e consultor de uma série de programas sobre Literatura de Cordel exibida pela TV ESCOLA (Programa Salto para o futuro). Tem vários livros adotados em programas governamentais, como o PNBE, do Ministério da Educação.


Bule-Bule e Klévisson Viana, organizador da II FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO


Mestre Bule-Bule – 70 anos
Antônio Ribeiro da Conceição, 22 de outubro de 1947

Um dos mestres da cultura popular nordestina mais renomados do Brasil. Antônio Ribeiro da Conceição, nome artístico Bule-Bule, nascido em 22 de outubro de 1947, na Cidade de Antônio Cardoso no Estado da Bahia, vem de uma região onde as influências culturais do sertão e do recôncavo baiano se misturam e contribuíram decisivamente para o arcabouço artístico deste grande poeta. Esta figura emblemática da cultura popular, também é um excelente cordelista, com mais de 100 títulos publicados, um exímio sambador e tiraneiro, e um forrozeiro de grande valor, tendo todas estas virtudes comprovadas em seus oito discos e dois DVDs gravados em mais de 45 anos de carreira.
Ao longo da sua trajetória Bule-Bule fez shows e concedeu palestras nos quatro cantos deste Brasil e do mundo. Já dividiu o palco com figuras renomadas como Gilberto Gil, Beth Carvalho, Gabriel o Pensador e Tom Zé, ou em apresentações nos Estados Unidos, na Alemanha, na Espanha e em Portugal. Em 2008 Bule Bule foi condecorado com a maior premiação brasileira para a Cultura, a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura.



Zé Maria de Fortaleza – 60 anos de viola
José Maria do Nascimento, 7 de agosto de 1945

Zé Maria de Fortaleza é o nome artístico de José Maria do Nascimento, nascido em Aracoiaba-CE, em 7 de agosto de 1945. É cantador, repentista, músico, ator e cordelista. Membro da Academia Brasileira da Literatura de Cordel (ABLC), cadeira nº 24, que tem como patrono o poeta Francisco Sales Areda. Vice-presidente da Academia Brasileira de Cordel (ABC), filiado à Ordem dos Músicos do Brasil, à União dos Compositores Cearenses (UCC), à Associação dos Cantadores do Nordeste (ACN), à Sociedade dos Amigos da Arte (SOAMA), e vice-presidente da Associação de Escritores Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará (AESTROFE). Cursou Teoria Musical no Conservatório de Música Alberto Nepomuceno; recebeu certificado dos cursos Influência afro na cultura brasileira e História da música popular brasileira.


Vem há muitos anos ministrando cursos, palestras e oficinas sobre a literatura de cordel, em vários estados brasileiros. Tem dezenas de cordéis publicados e 3 livros: Gramática em cordel (Editora IMEPH), A lenda do vaga-lume (Escala Educacional – SP), Fragmentos da literatura popular cearense, em parceria com Dr. Antônio Ferreira. Zé Maria tem ainda 10 CDs gravados e 3 DVDs. Apresenta semanalmente o programa Canta Brasil, na Rádio Cidade-AM, 860, em Fortaleza-CE.

terça-feira, 25 de julho de 2017

TOLERÂNCIA MIL



Com a aproximação do meu cinquentenário de nascimento e 35 anos de carreira como poeta cordelista e ilustrador, resolvi retirar da gaveta alguns folhetos inéditos, dentre os quais "O sonho de Carlos Magno (32 páginas), "A Sina do Enforcado" (32 páginas) e "Kalunga, O homem mais tolerante do mundo", folheto de apenas 08 páginas, que sairão em breve pela Editora Queima-Bucha, de Mossoró-RN. Outros lançamentos estão previstos pela Editora Imeph. Três folhetos são lançados também pela Cordelaria Flor da Serra, do poeta Paiva Neves. São eles: "O Antigo Testamento, segundo Zé Limeira", "Artimanhas de João Grilo" e "Carmélia e Sebastião", romance escrito em parceria com o poeta Evaristo Geraldo. Também estão no prelo os livros "O Besouro" (Contos) e "O Livro das Crônicas - Volume II de Memórias".

É ainda nossa intenção inaugurar duas CORDELTECAS, cujo acervo pretendo doar. Uma homenageando minha avó Alzira de Sousa Lima, em Madalena-CE ou Quixeramobim-CE; e uma outra em Canindé-CE homenageando o meu primeiro parceiro na Literatura de Cordel, o saudoso poeta José Maria Gonzaga Vieira, o popular Gonzaga de Canindé, falecido este ano. No dia 20 de setembro, Gonzaga completaria 71 anos de idade. A implantação das CORDELTECAS depende de entendimentos com autoridades desses municípios que ficarão responsáveis pela guarda do acervo.

Selo comemorativo - presente do amigo Jô Oliveira



A seguir, alguns trechos de KALUNGA:


KALUNGA, O homem mais tolerante do mundo

Autor: Arievaldo Vianna



Kalunga foi um cristão
Que já nasceu educado...
Ter paciência de Jó
É seu maior predicado
Nem parece aquele outro
Que dizem ser tão zangado.

Ele não xinga os vizinhos
Todo domingo comunga
Se ouve pergunta besta
Paciente não resmunga
Se alguém pisa o seu calo
Ele não grita nem funga!

No tempo que era menino
Escanchado num jumento
Na cangalha do animal
Machucou seu instrumento
Mas saiu resignado
A procura de ungüento.

Kalunga nunca brigou
Com os filhos do vizinho
Na escola era um aluno
Famoso por seu alinho
E tratava os seus colegas
Com respeito e com carinho.

Se uma pergunta tola
Alguém faz, por imprudência
E persiste perguntando
Com a maior insistência
O Kalunga explica tudo
Com perfeita paciência.

O Kalunga nunca soube
O que é ignorância
Não maltrata o semelhante
E só age em consonância
Com as leis do bem viver
É um mestre da tolerância.


Certa feita, pelas ruas,
Ele levava na mão
Um copo de mel contendo
Duas bandas de limão
Perguntaram pra que era
Diz ele: - Para o pulmão.

Nada de espremer na vista
Nem se mostrar revoltado
Kalunga deu a receita
Ao curioso abusado...
Saíram os dois satisfeitos
Cada qual para o seu lado.

No trânsito, um motoqueiro
Sem luva e sem capacete
Arranca o retrovisor
Do seu veículo, um Kadete,
E ainda desceu brigando
Na mão trazendo um porrete.

Mas logo baixou a arma
E ficou mais moderado
Vendo tanta mansidão
Do seu Kalunga, coitado,
Que lhe abraçou sorrindo
Dizendo: - Estás perdoado!

Esse Kalunga é tão fino
Nada do mundo o emperra
Seu peito só tem bondade
E toda beleza encerra
Deu aulas de etiqueta
Aos príncipes da Inglaterra.

Se anda com esposa
Pelas ruas, passeando,
E encontra algum gaiato
Sua amada paquerando
Kalunga faz que não vê

Sai contente, assobiando.

(...)