"Transformam o país inteiro num puteiro,
pois assim se ganha mais dinheiro..."
(O tempo não para - Cazuza)
PREGAÇÕES DE FREI
MANÉ MAGO NO DESERTO
Frei Mané Mago de Jurema e seus
discípulos peregrinavam pelo Sertão Central da Galiléia, rumo à terra dos
Monólitos, onde deveriam esperar a chegada do Cavaleiro da Esperança. Sua
marcha foi interceptada bruscamente por meia dúzia de Coxinhas e Fariseus,
todos com aspecto alucinado e espumando de ódio, parecendo estarem possuídos
por espíritos malignos.
Um dos Fariseus, que parecia liderar
o minguado grupo de gatos pingados, tremendo visivelmente os dedos e a boca,
adiantou-se da comitiva e bradou:
— Sabeis que não temos ladrão de
estimação e que desejamos ver todos os gatunos na cadeia! Com os poderes do
Sinédrio Curitibano, haveremos de ver o vosso chefe apodrecer detrás das
grades! Afinal de contas, a culpa é do PT! Desde que a serpente tentou a nossa
Mãe Eva no Jardim do Éden, desde quando o Criador resolveu mandar o Dilúvio,
desde quando a humanidade ergueu a Torre de Babel, a culpa é desse maldito
partido. Não duvido que tenham sido responsáveis pela extinção dos dinossauros!
Mestre Mané Mago retrucou,
simplesmente:
— Que tendes vós conosco? Que vos
importa o que fazemos ou deixamos de fazer? Vós que enfiastes as panelas no
rabo, por que não botam a viola no saco?
— No rabo? Disse um deles pálido de
raiva...
Frei Mané Mago, lembrando-se do Padre
João, de “O Auto da Compadecida”, sorriu e lhes disse:
— Desculpe, eu deveria ter dito
"na CAUDA". Deve-se respeito aos enfermos, mesmo que sejam da mais
baixa qualidade.
* * *
Os Fariseus ficaram a ponto de explodir
e começaram a dirigir toda sorte de imprecações contra Frei Mané Mago e seus
discípulos. Querendo pôr termo à infrutífera querela, o Mestre os repreendeu
brandamente:
— Acalmai-vos, meus irmãos. Jamais
ouvi algum de vós clamar pela prisão dos golpistas, dos vendilhões da pátria,
sobretudo do Cheira-Pó das Gerais ou de seu amigo dono do Helifanta.
— Helifanta? Que diabos é Helifanta? – Perguntou um dos
Coxinhas, ao que o mestre explicou prontamente:
— Então não sabíeis que está proibido
chamar o tal helicóptero da “esparrela” pelo nome daquele outro refrigerante.
Doravante o chamaremos de Helifanta, Helipepsi, Helipóptero e o que mais nos
vier à cabeça.
Os paneleiros se entreolharam
confusos. Alguns já demonstravam claros sinais de arrependimento, mas por
pudor, não tinham coragem de assumir. Apenas um deles disse timidamente:
— Saiba que já mandamos o GOLPISTA
para a China...
Outros, por serem totalmente néscios, teimavam
ainda com redobrado furor. Aos que se arrependeram, o Mestre aconselhou nesses termos:
— Diz a lenda que o PANELEIRO que
passar SETE DIAS calado, sem estrebuchar nas redes sociais, sem ofender o seu
próximo e sem repetir o discurso vazio que há muito perdeu a validade, será
perdoado por todas as cagadas que praticou.
* * *
Ora, bem sabia o Mestre que um
Paneleiro é incapaz de passar SETE MINUTOS em silêncio, quanto mais SETE DIAS.
Ao terminar sua prédica, Frei Mané Mago retomou o seu caminho, seguido por seus
discípulos, enquanto os Coxinhas tentavam arrebanhar outros gatos pingados para
sua diminuta caravana.
Ao se afastarem do local daquele
encontro indesejável, um discípulo de Frei Mané Mago adiantou-se e perguntou:
— Mestre, eles estão cegos? Estão
surdos? Estão loucos? Não percebem a desgraça que trouxeram sobre o nosso país.
O mestre suspirou e respondeu
desolado:
— Em verdade, em verdade vos digo: os
COXINHAS estão amando isso aí. A raiva deles era ver pobre andando de avião,
empregada doméstica falando em “meus direitos”, filho de preto na universidade... Ver pobre doente, sofrendo numa fila
de hospital, leva qualquer paneleiro a um orgasmo múltiplo. Ver pobre sendo enxotado,
maltratado e perseguido é um bálsamo, um colírio para os olhos de um Coxinha
Fascista.
— Será possível? Disse Frei Candonga. O Mestre prosseguiu:
— Lascado mesmo é o COXINHA POBRE, que não se reconhece como tal. Aquele que foi manipulado pela mídia e iludido pelo pato amarelo. Que continua teimando, que
ainda estrebucha porque não caiu a ficha... Aquele miserável que foi uma vez à Flórida,
outra ao Paraguai e já pensa que é rico. Usa roupa importada (de procedência duvidosa), anda de Hi-Lux (que comprou fiado) e mora de aluguel, na base
do VIVA O LUXO e MORRA O BUCHO!
Frei Cancão de Fogo não se conteve e o VERBO se fez látego:
— Esse merece pagar dobrado. Mas o COXA
verdadeiro, aliás aquele SOBRECOXA que tem pedigree
e bala na agulha, que possui dinheiro mal adquirido num banco da Suíça, esse gosta
mesmo é de ver o país do jeito que está... Trabalhador com direitos aviltados,
subtraídos e solapados. Aumento do preconceito contra negros, nordestinos,
homossexuais e outras minorias. Esse Fariseu não vai mais às ruas, não reclama
de nada, fechou-se em copas. Colhe os frutos de sua plantação: Abandono dos
programas sociais, venda das estatais. Enfim, os Três Poderes nadando na
podridão enquanto ele nada em rios de dinheiro.
Frei Mané Mago, ombros caídos, vista perdida na imensidão do horizonte, concluiu deste modo:
— Os papangus que vistes ainda há
pouco, é um substrato dessa raça que se julga superior. Meros idiotas que almejam
adentrar nesse panteão de mentiras. Pobres diabos iludidos pelo canto da Sereia
do Capitalismo. Em verdade, em verdade vos digo. É mais fácil uma baleia
adaptar-se às areias do Saara que um desses pobres paneleiros arrepender-se.
Acho até mais viável o Satanás ter piedade e compaixão pela humanidade, que um
desses admitir que está errado.
Extraído dos
manuscritos de Frei Cancão de Fogo do
Amor Divino
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