Como dizia o compositor pernambucano Acyolli Neto, na canção Severina Cooper, em tempo de eleição o
negócio é chaleirar. A fórmula é antiga, vem dos tempos da República Velha,
como se pode ver na obra do poeta Leandro Gomes de Barros, autor, dentre
outros, dos poemas “O chaleira de berço” e “Ave-Maria da Eleição”. O termo chaleira
também era muito usado pelos cartunistas da época, como se pode ver nessa
charge acima, da autoria de Raul. A charge é do tempo da Ditadura Vargas e mostra um oportunista se adaptando aos novos ares da política brasileira.
Chegamos, enfim, ao Século XXI, com sua assombrosa modernidade, a magia do cinema em 3D, sondas espaciais vagando pelo Espaço Sideral, internautas viciados nas redes sociais, falando mal da vida alheia e caçando Pokémons, mas a velha e boa CHALEIRA continua fumegando sobre as chamas da política.
Chegamos, enfim, ao Século XXI, com sua assombrosa modernidade, a magia do cinema em 3D, sondas espaciais vagando pelo Espaço Sideral, internautas viciados nas redes sociais, falando mal da vida alheia e caçando Pokémons, mas a velha e boa CHALEIRA continua fumegando sobre as chamas da política.
Ave Maria da Eleição – Leandro Gomes de Barros.
No dia da eleição
O povo todo corria
Gritava a oposição
– Ave Maria!
Viam-se grupos de gente
Vendendo votos na praça
E a urna dos governistas
Cheia de graça
Uns a outros perguntavam:
— O senhor vota conosco? —
Um chaleira
respondeu:
— Este O Senhor é convosco
Eu via duas panelas
Com miúdos de dez bois
Cumprimentei-a, dizendo:
Bendita sois
Os eleitores
Das espadas dos alferes
Chegavam a se esconderem
Entre as mulheres
Os candidatos andavam
Com um ameaço bruto
Pois um voto para eles
É bendito fruto
Um mesário do Governo
Pegava a urna contente
E dizia — “Eu me gloreio
Do vosso ventre!”
(...)
O chaleira é também chamado de XELELÉU e até foi retratado magistralmente numa cantiga do saudoso Coronel Ludugero. De uns tempos para cá, tornou-se mais comum o termo BABÃO. Eis um cordel que fiz em parceria com o poeta Jota Batista tratando do assunto:
PERIPÉCIAS
DE UM BABÃO
O
chaleira, o puxa-saco,
O
corta-jaca, o babão
São
frutos do mesmo cacho
Sementes
do mesmo chão
São peças
do mesmo jogo
São
cinzas do mesmo fogo
Todos têm
pauta com o cão.
São
pedras da mesma trempe
São gente
da mesma laia
Pêlos do
mesmo sovaco
Atletas da
mesma raia
Tacos da
mesma sinuca
Varas da
mesma arapuca
São
piores que lacraia
Areia da
mesma praia
E praias
do mesmo mar
Tem a
mesma consciência
Das
quengas do lupanar
Tijolos do
mesmo muro
Ratos do
mesmo monturo
Redes do
mal balançar
Ninguém
pode se livrar
Das
astúcias de um babão
Porque é
capaz de tudo
Para
agradar ao patrão
Lambe
chão, escova bota
Só para
ver a derrota
De alguém
da repartição.
Todo local
de trabalho
Tem um
sujeito babão
Que vive
dependurado
Nos
testículos do patrão
Chama a
todos de colega
Mas na
hora da entrega
Delata até
um irmão...
É um
Coxinha da vida
É uma
arapuca armada
Pra ver o
chefe contente
Vive de
contar piada
O chefe
finge que ri
Sabendo
que aquele ali
E uma
barca furada.
É o
primeiro que chega
O
derradeiro que sai
Se o
patrão chama ele vem
Se o chefe
manda ele vai
Agrada os
superiores
Pra
bajular os “doutores”
A própria
mãe ele trai
(...)