Shakespeare no traço do paraense J. Bosco
Shakespeare e Arievaldo Viana, por Jô Oliveira
SHAKESPEARE NUMA
RELEITURA POPULAR
Desde criança
tenho muito interesse e curiosidade pela obra de William Shakespeare, o
renomado dramaturgo inglês, cujo nascimento ocorreu a 450 anos! Isso me levou a
verter algumas de suas obras para a linguagem da poética popular. A adaptação
de clássicos da literatura universal para a Literatura de Cordel não é uma
novidade. Leandro Gomes de Barros, considerado um pioneiro nesse gênero,
ocupou-se de livros como As mil e uma
noites, História de Carlos Magno, Donzela Teodora e outros textos em prosa,
de forte apelo popular, para extrair inspiração para seus folhetos. Há quem
diga que, em sentido inverso, Willian Shakespeare aproveitou-se de matrizes
populares, textos que circulavam em folhas soltas, para extrair assunto para
suas peças magistrais.
O dramaturgo
cearense José Mapurunga, ao analisar a minha adaptação de Macbeth, disse o
seguinte: “Muitos enredos das maravilhosas peças teatrais de Shakespeare foram
colhidos em cordéis vendidos nas feiras européias no século XVI. Eram enredos
simples, escritos a maioria das vezes em prosa, que ganharam sangue, carne e
nervos nas reflexões sobre a natureza humana tecidas por um dos mais geniais
autores de todos os tempos. Daí, causa-me um certo espanto serem poucos os
textos de Shakespeare que retornaram ao cordel feito no Brasil, acrescentados
dos elementos que induzem às pessoas a refletirem sobre os maus passos que
possam dar sob a influência de pensamentos destruidores.”
Em Sonho
de uma noite de verão o grande dramaturgo inglês mistura elementos da
mitologia grega e da fábula, dando um ‘toque de Midas’ com a sua genialidade, o
que faz de seu texto uma obra sempre visitada e própria para releituras. A
presença de personagens com poderes mágicos como a Rainha das Fadas, Oberon, o
Rei dos Elfos e o atrapalhado Puck dão um toque de encantamento à história que
ainda hoje fascina pessoas de todas as idades. Os desencontros iniciais entre
os dois casais culmina em um final feliz, coisa que não é comum na obra desse
autor. Eu gosto de histórias com final feliz. Quando o ilustrador Jô Oliveira
propôs a adaptação de algumas obras de Shakespeare para um formato
infanto-juvenil, achei que essa fosse uma das peças mais adequadas para esse
público.
De antemão
asseguro que essa adaptação prima pela fidelidade ao original do bardo
britânico, com o mérito de renovar a linguagem para um estilo brasileiro por
excelência, a Literatura de Cordel, através de 40 sextilhas (estrofes de seis
versos de sete sílabas) a modalidade mais recorrente nesse gênero poético. No
cordel, a rima e a métrica emprestam um ritmo a narrativa tornando-a muito
agradável quando lida em voz alta. Que venham novas adaptações, pois
Shakespeare bem que o merece. E o público leitor, principalmente das escolas,
tem muito a ganhar com isso.