quarta-feira, 23 de abril de 2014

450 anos do bardo bretão


Shakespeare no traço do paraense J. Bosco 

Shakespeare e Arievaldo Viana, por Jô Oliveira

SHAKESPEARE NUMA RELEITURA POPULAR

Desde criança tenho muito interesse e curiosidade pela obra de William Shakespeare, o renomado dramaturgo inglês, cujo nascimento ocorreu a 450 anos! Isso me levou a verter algumas de suas obras para a linguagem da poética popular. A adaptação de clássicos da literatura universal para a Literatura de Cordel não é uma novidade. Leandro Gomes de Barros, considerado um pioneiro nesse gênero, ocupou-se de livros como As mil e uma noites, História de Carlos Magno, Donzela Teodora e outros textos em prosa, de forte apelo popular, para extrair inspiração para seus folhetos. Há quem diga que, em sentido inverso, Willian Shakespeare aproveitou-se de matrizes populares, textos que circulavam em folhas soltas, para extrair assunto para suas peças magistrais.

O dramaturgo cearense José Mapurunga, ao analisar a minha adaptação de Macbeth, disse o seguinte: “Muitos enredos das maravilhosas peças teatrais de Shakespeare foram colhidos em cordéis vendidos nas feiras européias no século XVI. Eram enredos simples, escritos a maioria das vezes em prosa, que ganharam sangue, carne e nervos nas reflexões sobre a natureza humana tecidas por um dos mais geniais autores de todos os tempos. Daí, causa-me um certo espanto serem poucos os textos de Shakespeare que retornaram ao cordel feito no Brasil, acrescentados dos elementos que induzem às pessoas a refletirem sobre os maus passos que possam dar sob a influência de pensamentos destruidores.”
Em Sonho de uma noite de verão o grande dramaturgo inglês mistura elementos da mitologia grega e da fábula, dando um ‘toque de Midas’ com a sua genialidade, o que faz de seu texto uma obra sempre visitada e própria para releituras. A presença de personagens com poderes mágicos como a Rainha das Fadas, Oberon, o Rei dos Elfos e o atrapalhado Puck dão um toque de encantamento à história que ainda hoje fascina pessoas de todas as idades. Os desencontros iniciais entre os dois casais culmina em um final feliz, coisa que não é comum na obra desse autor. Eu gosto de histórias com final feliz. Quando o ilustrador Jô Oliveira propôs a adaptação de algumas obras de Shakespeare para um formato infanto-juvenil, achei que essa fosse uma das peças mais adequadas para esse público.

De antemão asseguro que essa adaptação prima pela fidelidade ao original do bardo britânico, com o mérito de renovar a linguagem para um estilo brasileiro por excelência, a Literatura de Cordel, através de 40 sextilhas (estrofes de seis versos de sete sílabas) a modalidade mais recorrente nesse gênero poético. No cordel, a rima e a métrica emprestam um ritmo a narrativa tornando-a muito agradável quando lida em voz alta. Que venham novas adaptações, pois Shakespeare bem que o merece. E o público leitor, principalmente das escolas, tem muito a ganhar com isso.

Arievaldo Viana


P.S - Adaptamos a pedido da Editora Pallas, Othelo, o mouro de Veneza, vertido para o cordel e ilustrado por Jô Oliveira. Temos também, já quase concluída, uma adaptação de Hamlet, o príncipe da Dinamarca.


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