19 de novembro, dia da Bandeira nacional, é a data de aniversário do maior
poeta da Literatura de Cordel, Leandro
Gomes de Barros (1865) e também de meu bisavô Francisco de Assis de Souza — o Fitico do Castro —, que embora não
tenha se dedicado a esse ofício, também fazia os seus versinhos... testamentos de Judas e segundo alguns teria
escrito também A Onça da mão torta e O Boi Vermelhinho, dois cordéis que
tiveram certa repercussão no limiar do século XX, mas que circularam somente de
forma manuscrita em cadernos de família.
De
Leandro eu já falei bastante neste blog e estou prestes a lançar a sua
biografia pela Editora Coqueiro, do Recife. O projeto inicial previa, além da
biografia, uma Antologia Comentada do grande poeta. Estou tentando captar
recursos para executar essa idéia.
Voltemos
ao meu bisavô, figura que desejo homenagear nesta data dos 143 anos do seu
nascimento. O velho Fitico era um danado… Possuía uma pequena, porém ótima
biblioteca com livros editados no Brasil, Portugal e até Alemanha, quase todos
de temática sacra e gostava muito de escrever, em bom português e ótima
caligrafia. Olympio Viana (o Pai Viana da Cacimbinha), um de meus bisavós
maternos, também tinha esse hábito. Quanto ao Miguel do Castro dizem que também
era poeta de nomeada, pois quando estava moribundo ainda teve fôlego para
compor essa quadrinha para uma comadre que viera visitá-lo:
— Quatro
coisas me aborrecem,
Fora
faca que não corta...
Dormir
cedo, acordar tarde,
Mulher
feia e besta torta!
—
Pegue esta pra você, comadre! — Teria dito o enfermo.
Francisco
de Assis de Sousa nasceu no dia 19 de novembro de 1870 e casou-se com uma
sobrinha, Maria das Mercês Viana de Sousa, filha de sua irmã Francisca, mais
conhecida como ‘Mãe Souza’ e de Miguel Martins Viana. A moça era 14 anos mais
jovem, pois nascera no dia 18 de fevereiro de 1884. Ainda adolescente, Fitico
estudou na capital, nos bons tempos da Fortaleza descalça, quando chegou a
conhecer a famosa Marica Lessa (Maria Francisca de Paula Lessa), personagem que
inspirou Manoel de Oliveira Paiva em seu célebre romance Dona Guidinha do Poço. Já senil e amalucada, a velha ainda teimava
em protestar inocência no caso do assassinato do seu marido, o coronel Domingos
Victor Abreu, morto pelo escravo Corumbé, a mando da própria Marica Lessa e de
seu amante Senhorinho, segundo se dizia.
Fitico
foi contemporâneo e admirador do Padre Cícero Romão e protetor do Padre Azarias
Sobreira, o melhor e mais fidedigno biógrafo do patriarca do 'Joaseiro'.
Encontrando-o adoentado, ainda adolescente, a caminho do Convento de Canindé,
onde foi seminarista, Fitico prontificou-se a cuidar de sua saúde na Fazenda
Castro, de sua propriedade. No Castro, o jovem Azarias recebeu calorosa
acolhida durante meses, até recuperar-se e poder retornar aos estudos
religiosos, pois era esse o seu intento. Quando ordenou-se sacerdote, veio
celebrar uma missa na capelinha do Castro, erguida pelo meu bisavô, dedicada à
Jesus, Maria e José, capela na qual eu viria a me batizar pelas mãos do padre
Vital Elias, então vigário de Madalena. Ali também fiz a primeira comunhão que
me foi ministrada pelo Padre Nery Feitosa, escritor e historiador dedicado.
Minha
avó Alzira Viana de Sousa Viana (Lima, após o matrimônio) era leitora contumaz
dos clássicos do cordel e papai, Francisco Evaldo de Sousa Lima, um apaixonado
por cantoria que não aventurou-se pelo mundo com uma viola às costas porque a
família (meu avô, principalmente) não foi de acordo. Mas adquiriu um vasto
cabedal de livros e folhetos que decorava com grande facilidade e lia ou
declamava para os filhos sempre que tinha tempo. Dois de meus irmãos também
fazem versos com grande facilidade, são eles Klévisson e Itamar.
Casa do Fitico, construída por seu pai Miguel do Castro em 1851
Todos prestem atenção
Que agora eu vou contar
A história dum barbatão
Que aconteceu algum tempo
Aqui no nosso sertão,
Debaixo de um juazeiro
Minha mãe me disse um dia
Que eu ia ser cangaceiro
E eu prometi a ela
De nunca entrar em chiqueiro.
A vinte e sete do mês
Num dia de sexta-feira
Foi esta a primeira vez
Que houve um eclipse total
Em novecentos e seis.
O
FITICO E SUA FAMÍLIA
Nome:
Francisco de Assis de Souza
Nascimento:
19 de Nov de 1870
Morte:
22 de Abr de 1962
Pais:
Miguel José de Sousa e Francelina Paulino do Amor Divino
Irmãos:
Maria Joaquina do Espírito Santo (Mariazinha), Antonio José de Sousa, Francisca
de Sousa, Maria do Rosário de Sousa, Raquel de Sousa, Izabel de Sousa
(Zabilinha), Maria de Santana de Sousa, Joaquim José de Sousa (Quinca), José
Joaquim de Sousa (Dedé), Maria dos Reis de Sousa
Esposa:
Maria das Mercês Sousa Viana
Filhos:
Assis, Moça, Mariquinha, Francelina, Alice, Raimundinha, Álvaro, Zezinho,
Alzira, Luizinho, Zequinha e Carmelita.
Netos
e bisnetos: Uma infinidade, quase tão numerosos como os descendentes do
patriarca Abraão.
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