Dizem que o poeta Luiz Campos, grande expoente da cantoria, recentemente falecido, tinha um irmão que elegeu-se vereador por Mossoró. Chamava-se Vicente e era chegado a uma farra. Quem me repassou o episódio em questão foi o poeta Kydelmir Dantas, durante agradável libação no ‘Sêbado’ de Mossoró. O Sêbado é uma mistura de bar e sebo de livros e discos que funciona preferencialmente aos sábados, daí a originalidade de seu nome. O vereador fora convidado para um animado leilão de Santa Luzia, padroeira de Mossoró e aboletou-se numa mesa disposto a comer e beber do bom e do melhor. Toda vez que um adversário dava um lance no leilão ele dobrava a oferta, só para inflacionar.
Ao arrematar uma grade de cerveja e uma galinha cheia a preço exorbitante, o padre ficou deveras animado com a sua generosidade e até aconselhou algumas paroquianas solteiras e de procedência duvidosa a fazer companhia a Vicente, prevendo, com sobrada razão, que a presença feminina seria um poderoso estímulo para abertura desregrada das torneiras de sua generosidade. Não deu outra! Animado pela presença das meninas, Vicente gastou o que tinha e o que não tinha. No final da festa, estava devendo mais de cinco mil reais à paróquia, tudo devidamente anotado pelo vigário numa caderneta. Ao ser apresentada a ‘dolorosa’, Vicente não se fez de rogado e sacou imediatamente de seu talão de cheques do Banco do Brasil, arredondando a cifra para R$ 6 mil. Datou, assinou e entregou ao sacerdote, que não cabia em si de tanta felicidade.
No dia seguinte, por volta das 10 e meia da manhã, via-se o padre caminhar visivelmente nervoso e agitado rumo à casa de Vicente. Ao bater na porta deparou com uma cena previsível… Calças penduradas nos armadores, calcinhas femininas espalhadas pelo chão e o Vicente de ressaca, só de cueca numa rede, com uma de suas paroquianas. O padre foi direto ao assunto:
- Vicente, rapaz, como é que você faz uma coisa dessa criatura?! Isso é um completo absurdo!
- O que foi, padre? Num tô lhe entendendo… Num foi o sinhô mesmo que me apresentou as meninas?!
- Eu lá tô falando de menina, rapaz... Tô falando é da conta de ontem!
- Eu num lhe dei o cheque, home de Deus?
- Deu… mas deu um cheque cruzado, predatado para o ano que vem e NOMINAL à Santa Luzia! O que é que eu faço com o diabo desse cheque???
Vicente bocejou, espreguiçou-se na fianga, enquanto a jovem que o acompanhava fugia enrolada no lençol para o banheiro, com cerimônia do vigário. O malandro demorava-se na resposta. O padre insistiu:
- Me diga, homem de Deus, o que diabo eu vou fazer com a porra desse cheque?
Vicente deu-lhe uma resposta fulminante:
Vicente deu-lhe uma resposta fulminante:
- Imprastifique!… Imprastifique senão o senhor perde!
(Do livro SERTÃO GAIATO, de Arievaldo Viana)
COMENTE! VOTE NA MELHOR ILUSTRAÇÃO PARA ESSE 'CAUSO'
Cabôco! Bem que dizem que... "Quem conta um conto, aumenta um ponto"... Esse causo foi contado por Zé Lezin, jóviu? E o poeta Luiz Campos nem teve irmãos!
ResponderExcluirMas que fixcou bom... Ficou. Eu num vou mentir pra ir pro inferno branquinho.
(Kydelmir Dantas - Mossoró-RN)