Post - Ferrocarril BHO
motorneiro (nº 1) e o condutor (nº 2), transportando elegantes passageiros, no
início do século XX.
No meu livro O BAÚ DA GAIATICE eu apresento algumas ‘pérolas
filosóficas’ pertencentes ao adagiário do Filósofo da Praça Azul, personagem
criado na década de 1980 pelo poeta Gonzaga Vieira. O Filósofo tinha coluna
fixa na revista TRAMELA, um fanzine que eu publicava no início da minha
atividade como cartunista, um periódico meio artesanal feito com nanquim,
letrasete e máquina de escrever, com tiragem de até 300 exemplares feitos em Xerox.
Uma dessas tiradas diz o seguinte:
“Neste mundo velho tudo é
passageiro, menos motorista e trocador”.
O jornalista Eduardo de Paula,
criador do blog SUMIDOIRO’S (http://sumidoiro.wordpress.com)
desenvolveu essa página, principalmente, para resgatar a história de seus
antepassados, a família SOUZA VIANNA de Minas Gerais. Curiosamente, sou
descendente por parte de pai e mãe da família Souza Vianna de Quixeramobim, daí
o interesse em manter contato com Eduardo, para saber se havia algum grau de
parentesco entre os dois ramos familiares. Chegamos a conclusão que ambas as
famílias (ou ambos os troncos) tem raízes na cidade de Vianna do Castelo, em
Portugal (ou seria em Viena, na Áustria?) Bom, ele é que o genealogista e sabe
mais do que eu.
Ao deparar com a máxima do Filósofo da Praça Azul ele alertou-me que
nos idos das primeiras décadas do século XX o ditado já existia, porém
referia-se a CONDUTOR e MOTORNEIRO, empregados do transporte de bondes. Eis
aqui trechos de um brilhante artigo que escreveu sobre o tema:
PEGANDO BONDE
♦ Nem tudo é passageiro…
Assim não pode! Andam jogando poeira na história, dizendo que “na vida
tudo é passageiro, menos o motorista e o trocador.” Nada disso! Inverdade do
tamanho de um bonde(1). E os personagens são outros, de um tempo em que todo
mundo andava na linha, ou nos trilhos.
Ouve-se com frequência o antigo dito de forma errada, referindo-se a
motorista e trocador, mas não era assim. Quem movimentava o bonde chamava-se
motorneiro, porque acionava o motor, usando uma manivela apropriada. Quem
comandava as partidas era o condutor, através de um apito. Os pontos principais
de embarque e desembarque ficavam nos chamados abrigos, que eram coberturas em alvenaria,
onde haviam espaços destinados a pequeno comércio de jornais, cigarros,
bilhetes de loteria, balas, bombons e outras miudezas. As demais paradas, no
percurso das linhas, eram assinaladas por uma faixa branca pintada nos postes.
Para descer, os passageiros faziam a solicitação puxando uma cordinha, que
acionava uma sineta.
O condutor percorria o veículo, de ponta a ponta, sobre dois estribos
laterais, agarrado aos balaustres(2). Cobrava as passagens pré-pagas − ou
passes − e as picotava com um perfurador, mas também recebia em espécie. Logo
em seguida, puxava uma alça, que ficava conectada a um contador de números de
passageiros, denominado relógio. Havia também o fiscal, que aparecia de vez em
quando, fazendo o controle de usuários em uma ficha. O bonde não possuía
buzina, o alerta era feito através de um sino, acionado com o pé. Na pacata
Belo Horizonte, era preciso ter cuidado para não ser atropelado por um bonde,
que voava a vinte ou, às vezes, a absurdos trinta quilômetros por hora, nesse
caso infringindo a lei.(3)
No fim da linha, tudo tinha que ser invertido. O motorneiro trocava
seu posto de comando para a outra extremidade. Também alternava-se de lado o
cabo conector de energia − denominado lança −, existente sobre o teto do bonde,
em cuja extremidade havia um contato, que corria ao logo do fio eletrificado.
Os encostos dos bancos eram girados a cada viagem, para o passageiro andar
sempre de frente. Recolhiam-se os estribos de um lado e a guarda protetora −
trava de contramão − era baixada, fechando o acesso. Na lateral em uso,
fazia-se o inverso. As providências de isolar um lado eram muito importantes,
porque os postes que levavam os fios eletrificados ficavam no centro das ruas
e, geralmente, o lado esquerdo do veículo corria junto a eles. Uma topada num
poste poderia se fatal ao passageiro.
Além dos serviços inerentes à função, muitos condutores presenteavam
os passageiros com belas coreografias nos estribos ou quando saltavam do bonde
andando, com uma alavanca na mão (chave), para deslocar os trilhos nos
entroncamentos das linhas. Tudo rápido e no ritmo certo, porque o bonde não
podia atrasar. Evidentemente, quando o condutor era negro, a exibição ganhava
colorido, pois é sabido que os afro-descendentes têm a dança no sangue. Não há
dúvida que trabalho pesado era o do condutor, mas quem ganhava mais era o
motorneiro. Segundo os maliciosos, havia consequência: quando o condutor registrava
as passagens e o “relógio” soava din-din, a melodia queria dizer: “- Din-din,
dois pro relógio; din-din, um pra mim…”
Foi por tudo isso e mais alguma coisa que alguém mais inspirado
filosofou:
“Na vida tudo é passageiro, menos o condutor e o motorneiro.”
(...)
VER POSTAGEM COMPLETA AQUI: http://sumidoiro.wordpress.com/
Por e-mail, o amigo Eduardo de Paula mandou oportunos esclarecimentos sobre as origens européias da família VIANNA:
ResponderExcluirArievaldo:
Vi seu Blog. Legal! Muito obrigado.
Quando vi seu retrato, pensei: "- Tem a marca dos Viannas nas feições." Se você vier a Minas e disser que parente dos Viannas daqui, ninguém vai duvidar.
Quanto aos Viannas na Áustria, é pouco provável. Dizem que é possível que o nome tenha origem céltica, porque os celtas também habitaram Vianna do Castelo, 2000 mil anos antes de Cristo. O nome Vianna, então, pode ter vindo da cidade de Vienne, na França, capital dos povos conhecidos por Allobroges, um povo de origem céltica. Vienne ainda existe e fica do vale do Isère.
Acho interessante, sim, publicar alguma coisa sobre os seus Viannas.
Um abraço do
Eduardo.