O escritor Gilmar de Carvalho traz à lume mais uma importante contribuição para a história do cordel no Ceará, o livro 'A lira do poeta Expedito', onde trata da vida e obra de um dos maiores expoentes do gênero, Expedito Sebastião da Silva, que teve a vida inteira dedicada à lendária Tipografia São Francisco, de José Bernardo da Silva, rebatizada Lira Nordestina por sugestão de Patativa do Assaré.
Um dos aspectos mais interessantes da obra é o resgate de nove folhetos inéditos do autor, cujos direitos autorais foram negociados com o poeta Abraão Batista, grande amigo de Expedito.
Interessados em adquirir a obra poderão entrar em contato conosco através do e-mail acordacordel@hotmail.com. O livro de 176 páginas custa R$ 20,00 + despesas postais.
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TRAÇOS
BIOGRÁFICOS DE
EXPEDITO SEBASTIÃO DA SILVA
Por Arievaldo Vianna
Expedito Sebastião da Silva nasceu em Juazeiro do Norte-CE, em
20 de janeiro de 1928 (dia de São Sebastião) e viveu toda a sua vida na Meca do
Cariri, até falecer no dia 8 de agosto de 1997. Era filho de pais alagoanos,
romeiros do Padre Cícero que se fixaram em Juazeiro do Norte nas primeiras
décadas do século passado.
Além
de ser bom poeta exerceu com maestria o ofício de tipógrafo e revisor da
gráfica de José Bernardo da Silva, tendo assumido, com a morte deste, a
gerência da Tipografia São Francisco,
rebatizada nos anos 70 como Literatura de
Cordel José Bernardo da Silva e posteriormente como Lira Nordestina, denominação que permanece até hoje. Expedito
conhecia os títulos do catálogo da editora como a palma de sua mão, sobretudo
os clássicos que pertenceram ao espólio de João Martins de Athayde. Em função
disso, sabia exatamente o que devia ser reeditado e qual a tiragem mais
apropriada para cada título.
Depois
que dona Maria de Jesus da Silva Diniz, herdeira de José Bernardo e mãe do
conhecido xilógrafo Stênio Diniz, vendeu a sua propriedade literária para o
Governo do Estado Ceará, na gestão do Governador Gonzaga Mota, a Lira Nordestina passou a ser gerida pela
ABC (Academia Brasileira de Cordel). A escassez de papel e outras matérias
primas, a edição de folhetos de pouca saída comercial, a ingerência de pessoas
alheias ao universo do cordel e, sobretudo, a falta de agentes para revender
essa produção provocou praticamente um colapso na publicação de folhetos. O que
restou da Lira sobrevive desde meados da década de 1980 da xilogravura, graças
aos esforços de José Lourenço Gonzaga, Francorli e do próprio Stênio.
O
poeta Antônio Américo de Medeiros, que era um dos principais agentes da Lira Nordestina, na cidade de Patos-PB,
fazia compras de 5 a 10 mil folhetos em cada pedido. Em carta que me enviou no
distante ano de 2002, Américo afirma que ficou profundamente desgostoso com as
mudanças que ocorreram na editora. Ele fez um pedido minucioso, especificando
os títulos e a quantidade de folhetos que desejava, porém lhe enviaram um pacote
com títulos completamente diferentes da lista que havia solicitado. Segundo
ele, contendo muitos folhetos que praticamente não tinham saída.
Expedito,
que sabia bem o caminho das pedras, deve ter ficado muito desgostoso com essas
mudanças e mesmo sendo uma pessoa discreta e reservada, não conseguia esconder
o seu desalento com essa crise que quase decretou a morte do folheto de feira,
uma vez que a Lira era a maior editora nordestina do gênero. Com a decadência
do movimento editorial em Juazeiro do Norte, a figura do folheteiro
praticamente desapareceu. Hoje, a maioria dos autores fazem permutas e revendem
seus próprios folhetos.
Mesmo
sendo de origem camponesa, Expedito conseguiu frequentar a escola regularmente,
chegando a concluir a quarta série ginasial. Durante os anos escolares começou
a rascunhar seus primeiros poemas, o que acabou chamando a atenção de José
Bernardo da Silva, o grande editor de Juazeiro. Seu primeiro folheto,
intitulado “A moça que depois de morta dançou em São Paulo”, data de 1948. Por
essa época, o chefe da oficina tipográfica era o poeta e xilógrafo Damásio
Paulo da Silva, que incentiva o jovem Expedito a continuar produzindo.
Cuidadoso com a rima e, principalmente, com a métrica, Expedito costumava a
revisar a obra de outros poetas que imprimiam seus folhetos na “Lira”. Chegou a
receber elogios de Patativa do Assaré, que o comparou ao lendário João Martins
de Athayde. Seu romance Suplício de um
condenado, selecionado para esta Antologia, denota essa influência herdada
do mestre de Ingá do Bacamarte.
Como
já foi dito, nos últimos anos de sua existência, Expedito mostrava-se triste
com a visível decadência da literatura de cordel e da Lira Nordestina, empresa à qual dedicou toda a sua vida. A Lira continua decadente, mas o cordel
ganhou um novo alento com o surgimento de novas editoras como a Coqueiro, de
Recife; a Queima-Bucha, de Mossoró, e a Tupynanquim, de Fortaleza.
Na
opinião do pesquisador Marco Haurélio, “foi um poeta imaginoso e de
versificação correta. Expedito Sebastião da Silva foi para a Tipografia são
Francisco o que Delarme Monteiro foi para a gráfica de Athayde ou que Manoel
D'Almeida representou, mesmo à distância, para a Luzeiro. ou seja, a cabeça
poética”.
Fontes consultadas:
Almeida, Átila de / Sobrinho, José
Alves. Dicionário Bio-Bibliográfico de Repentistas e Poetas de Bancada –
Editora Universitária, João Pessoa-PB, 1978.
Carvalho, Gilmar de. A Lira do Poeta Expedito, Expressão
Gráfica, 2012.
Kunze, Martine, Expedito Sebastião da
Silva, antologia da Hedra
____________ Expedito Sebastião da
Silva, Poeta-Artesão de Juazeiro do Norte, Cadernos do IPESC, vol. 4. Juazeiro
do Norte, Edições IPESC/URCA 1997.
Lopes, José Ribamar (org.) Literatura de Cordel (Antologia), 3ª
Edição. Fortaleza, Banco do Nordeste do Brasil, 1994.
Melo, Rosilene Alves de. Arcanos do verso: trajetórias da literatura
de cordel, editora 7 Letras, Rio de Janeiro, 2010.
Pimentel, Altino – Francisco das
Chagas Baptista, Antologia da Hedra.
Sarno, Geraldo – Cadernos do Sertão
Vianna, Arievaldo – Acorda Cordel na Sala de Aula. 2ª
edição, Editora Queima-Bucha/Tupynanquim Editora, Mossoró-RN – Fortaleza-CE,
2010.
Correspondência entre Arievaldo
Vianna e o poeta Antônio Américo de Medeiros
Áudios: Entrevistas com Vidal Santos
e Stênio Diniz.
Dentre
as obras de Expedito Sebastião da Silva, destacamos as seguintes:
- A Bruxa da Meia-Noite ou o Reino da
Maldição
- A marcha dos cabeludos e os usos de
hoje em dia
- A opinião dos romeiros sobre a
canonização do Padre Cícero
- Adriano e Joaninha
- As aventuras de Lulu na capital de
São Paulo
- As diabruras de Pedro Malazartes
- Cacilda e Leôncio
- Calvário de uma mãe (ou O amor de
Albertina)
- Em defesa do Padre Cícero – O
Apóstolo do Nordeste
- Estória de Paulino e Madalena
- História de São Pedro e o homem
orgulhoso
- Mundoca o desordeiro e o Negrão Não
Teme Nada
- O divórcio de Zé da Lasca
- O encontro de Tancredo com
Tiradentes no céu
- O lobo do Amazonas ou Lindomar e
Jacira
- O negrão do Pajeú
- O prêmio da inocência
- O Sesquicentenário do Padre Cícero
Romão Batista
- O Mártires da Santa Fé ou Delmiro e
Dorotéia
-
Os milagres do Padre Cícero
- Peleja de Pinto do Teixeira
com Joaquim Mofumbão
- Retirada?
- São Miguel profetiza o fim do mundo
encarnado numa menina em Planaltina, Brasília.
- Suplício de um condenado
- Trechos da vida completa de
Lampião.
Poeta imaginoso e de versificação correta, Expedito Sebastião da Silva foi para a Tipografia são Francisco o que Delarme Monteiro foi para a gráfica de Athayde ou que Manoel D'Almeida representou, mesmo à distância, para a Luzeiro. ou seja, a cabeça poética. antologia mais que oportuna esta organizada por Gilmar de Carvalho.
ResponderExcluirÉ verdade, Marco. Antes de Expedito, que exercia essa função na Tipografia São Francisco era o poeta Damásio Paulo da Silva. No livro de Gilmar, Expedito recorda (em depoimento) que Damásio tinha problemas conjugais muito fortes e isso influenciava o seu temperamento, fazendo com que fosse um tanto brusco. A verdade é que ele deixou Juazeiro, após uma briga com a mulher e nunca mais retornou. Acho que Damásio não se afastou completamente do cordel pois no início da década de 1960 passava um vendedor ambulante na casa dos meus avós também chamado Damásio Paulo, que revendia os folhetos de José Bernardo. Acredito tratar-se da mesma pessoa.
ResponderExcluirEm tempo: Gilmar mandou um exemplar para você, vou postar pelo correio na próxima semana.
ResponderExcluirLIVROS E CORDÉIS À VENDA:
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