Glauber Rocha e a literatura de cordel: uma relação intertextual
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/livros/glauber-rocha-e-a-literatura-de-cordel-uma-relacao-intertextual
Rodrigo Elias
O cinema de Glauber Rocha pode ser caracterizado de várias maneiras, menos como algo simplório. Assim também acontece com a cultura popular. No livro de Sylvia Nemer, a análise dos filmes “Deus e o diabo na terra do sol” (1964) e O dragão da maldade contra o santo guerreiro” (1969) leva em consideração a literatura nordestina de cordel, com toda a mitologia do cangaço. Em trabalho que lhe rendeu o Prêmio Casa de Rui Barbosa, a autora destrincha a “estética da fome” de Glauber, mostrando que o cineasta não “representava” simplesmente a violência da condição social (e natural) à qual esteve (e está) submetida parte considerável dos brasileiros do Nordeste. Ao contrário, ele conseguiu desenvolver, através do seu discurso cinematográfico, uma linguagem da violência, presente na apropriação que ele faz da cultura popular do cordel e na representação dos personagens, das situações e falas na tela grande. A abordagem, com marcante ancoragem teórica, torna o livro de interesse preferencialmente para especialistas.