sexta-feira, 18 de novembro de 2011

DIA DO CORDELISTA

Desenho: Arievaldo Viana


19 de novembro é o DIA DO CORDELISTA. A data foi criada em homenagem ao pioneiro LEANDRO GOMES DE BARROS, nascido no dia 19 de novembro de 1865.

Leandro Gomes de Barros nasceu em 1865, na Fazenda Melancia, município de Pombal, Estado da Paraíba. A Fazenda pertencia aos seus avós maternos Manuel Xavier de Farias e sua mulher Dona Antônia Xavier de Farias, por quem Leandro foi criado após a morte de seu pai, José Gomes de Barros Lima. Manuel e Antônia eram pais de dona Adelaide, mãe de Leandro e do Padre Vicente Xavier de Farias, que nasceu na mesma fazenda em 1822. Ordenado sacerdote, aos 24 anos de idade mudou-se para o Teixeira em 1846, tendo permanecido ali durante 61 anos. Faleceu em 13 de dezembro de 1907, com 85 anos de idade. Leandro foi para companhia do  Pe. Vicente, vigário da Vila do Teixeira, permanecendo naquela localidade até os 15 anos de idade, quando resolveu mudar-se para Pernambuco.

No Teixeira, Leandro conviveu com violeiros da estatura de Inácio da Catingueira, Romano da Mãe d'Água, Bernardo Nogueira, Ungulino Nunes da Costa e Nicandro Nunes da Costa. Por eles nutriu admiração e deles adquiriu o estro da poesia popular. De Teixeira mudou-se para Vitória de Santo Antão e de lá para o Recife, onde viveu na rua Motocolombó, nº 87, em Afogados.

Leandro era casado com Dona Venustiniana Eulália de Barros, união da qual nasceram 04 filhos, três mulheres e um rapaz. A mais velha, Raquel Aleixo de Barros Batista  (1894-1921) casou-se com o poeta Pedro Batista (1890-1938). Os outros filhos eram Esaú Eloy, Julieta (ou Gilvanetta) e Herodias.

Sobre Leandro, Luiz da Câmara Cascudo in Vaqueiros e Cantadores nos dá o seguinte depoimento (pág. 264 - edições de ouro):

"Nasceu e morreu na Paraíba, viajando pelo Nordeste. Viveu exclusivamente de escrever versos populares inventando desafios entre cantadores, arquitetando romances, narrando as aventuras de Antônio Silvino, comentando fatos, fazendo sátiras. Fecundo e sempre novo, original e espirituoso, é o responsável por 80% da glória dos cantadores atuais. Publicou cerca de mil folhetos, tirando deles dez mil edições. Esse inesgotável manancial correu ininterrupto enquanto Leandro viveu. É ainda o mais lido dos escritores populares. Escreveu para sertanejos e matutos, cantadores, cangaceiros, almocreves, comboieiro, feirantes e vaqueiros. É lido nas feiras, nas fazendas, sob as oiticicas nas horas do "rancho", no oitão das casas pobres, soletrado com amor e admirado com fanatismo. Seus romances, histórias românticas em versos, são decoradas pelos cantadores. Assim Alonso e Marina, O Boi Misterioso, João da Cruz, Rosa e Lino de Alencar, O Príncipe e a Fada, o satírico Cancão de Fogo, espécie de Palavras Cínicas, de Forjaz de Sampaio, a Órfã Abandonada, etc constituem literatura indispensável para os olhos sertanejos do nordeste. Não sei se ele chegou a medir-se com algum cantador. Conheci-o na capital paraibana. Baixo, grosso, de olhos claros, o bigodão espesso, cabeça redonda, meio corcovado, risonho, contador de anedotas, tendo a fala cantada e lenta do nortista, parecia mais um fazendeiro que um poeta, pleno de alegria, de graça e de oportunidade.

Quando a desgraça quer vir

Não manda avisar ninguém,

Não quer saber se um vai mal

E nem se outro vai bem,

E não procura saber

Que idade Fulano tem.



Não especula se é branco,

Se é preto, rico, ou se é pobre,

Se é de origem de escravo

Ou se é de linhagem nobre!

É como o sol quando nasce

O que acha na terra, cobre!



Um dia, quando se fizer a colheita do folclore poético, reaparecerá o humilde Leandro Gomes de Barros, vivendo de fazer versos, espalhando uma onda sonora de entusiasmo e de alacridade na face triste do sertão." O poeta João Martins de Ataíde, que comprou os direitos autorais de Leandro a Venustiniana Eulália de Barros, escreveu o seguinte no folheto A Pranteada Morte de Leandro Gomes de Barros:


Poeta como Leandro

Inda o Brasil não criou,

Por ser um dos escritores

Que mais livros registrou,

Canções, não se sabe quantas,

Foram seiscentas e tantas

As obras que publicou.



No dia de sua morte

O céu mostrou-se azulado,

No visual horizonte

Um círculo subdourado

Amostrava no poente

Que o poeta eminente

Já havia se transportado.


ATENÇÃO! A reprodução desse texto ou imagem só poderá
ser realizada se a fonte e o autor forem citados.

Texto: ARIEVALDO VIANA
 (In "Leandro Gomes de Barros - Vida & Obra", biografia inédita do grande poeta paraibano)

6 comentários:

  1. CANCÃO DE FOGO é um personagem picaresco criado por LEANDRO GOMES DE BARROS. Costumo usar esse pseudonimo porque às vezes meu avô me chamava desse jeito, quando eu era criança.

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  2. Quem instituiu a data 19 de novembro como Dia do Cordelista? Onde está registrado?

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    1. Boa pergunta. Foi por iniciativa do CECORDEL, Centro de Cordelistas do Nordeste, que a data foi instituída, salvo engano pela Assembléia Legislativa do Estado do Ceará. Portanto, uma data que só vale para o povo cearense.

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  3. O Dia do Poeta Cordelista nasceu através de ante-projeto do Cecordel,
    encaminhado em 2002 ao vereador Nelson Martins(PT). Ele apresentou na Câmara Municipal o projeto e essa por unanimidade instituiu a Lei Municipal N° 0190/2002, decretado no Art. 1°: fica criado o "Dia do Poeta Cordelista" a comemorar no dia 04 de março. A data deu-se em virtude do dia 19 ser comemorado a proclamação da República, o que forçaria passar despercebido. Nelson Martins ao ser eleito Deputado Estadual, dentre seus projetos culturais, apresentou esse projeto aquela casa legislativa que estadualizou através da LEI Nº 13.375, de 25.09.03 (DO 30.09.03). O Cecordel promoveu no transcurso dos últimos anos, na Banca do Cordel, comemorações a essa data significante ao cordelista. Este ano lamentamos ter passado em branco, talvez em virtude do impacto da apreensão da Banca do Cordel, pela EMLURB. Mas a Banca logo estará de volta para promover, divulgar e incentivar a produção literária dos poetas. Por outro lado é importante salientar que o Dia do Poeta Cordelista não é do Cecordel, é de todos os poetas populares. Precisamos contar com o apoio de todos, principalmente da Editora Tupinanquim, etc, para no próximo ano fazermos uma bonita festa e assim sucessivamente. Leia mais no http://www.cecordel.com.br/

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