Aluno de escola pública leva ouro na
Olimpíada de Língua Portuguesa com cordel
Professor e aluno durante premiação |
Arquivo Pessoal
O dia-a-dia da pequena Bom Jesus, cidade distante cerca de 45
quilômetros de Natal (RN), foi a principal inspiração do poeta mirim Davi Lima,
de 11 anos, para escrever o cordel que ganhou medalha de ouro na final da
Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa, neste mês, em São Paulo.
O garoto foi o único representante potiguar a alcançar o
ouro, entre todas as categorias. O tema central era o local de origem de cada
participante. Ele foi uma das onze crianças que estudam na Escola Estadual
Natália Fonseca. Davi foi o vencedor na instituição, no município, no estado e,
por fim, chegou à semi-final e final, realizadas na região Sudeste.
O principal incentivador foi o professor João Soares Lopes,
que falou da competição para os alunos e incentivou a participação deles.
Apesar do incentivo da escola, a participação da família
também foi fundamental na formação do garoto. Desde os quatro anos de idade,
Davi sobe aos palcos junto com o pai, o poeta Jadson Lima, para recitar poesia
de cordel. A escrita veio depois, com seis ou sete anos, segundo ele mesmo
conta. O jovem faz parte de um grupo de poetas mirins que quer preservar a
cultura no interior do estado.
A poesia foi escrita no estilo "galope à beira-mar",
que contém estrofe de dez versos de onze sílabas. Apesar da tradição familiar,
que remete ainda a um tio-avô e ao seu bisavô, o menino garante que não faz
poesia por obrigação. O pai, Jadson Lima, corrobora.
Nos dez de galope lá no
meu lugar (Davi Lima)
Lá por detrás das árvores, vinha o sol
Iluminando a rua de minha casa
O astro esplendido quente feito brasa
Levantava no céu feito um farol
E o belo cantar de um rouxinol
Que eu acordei só pra escutar
E por alegria começou a cantar
Na caveira do boi ele fez o seu ninho
Comida trazia pro seu filhotinho
Nos dez de galope lá no meu lugar.
Vendo o sol nascer, botei uma veste
E tive a ideia de escrever em rima
E muito prazer eu sou Davi Lima
Sou de Bom Jesus, daqui do nordeste
Também sou poeta, Antônio é meu mestre
O poeta que sempre me faz inspirar
Com muita alegria eu vou retratar
O amor que tenho pelo meu sertão
E vou escrevendo com muita emoção
Meu lugar que amo, e sempre vou amar.
Perto de Natal, capital do estado
Se chama Bom Jesus, ô nome bonito
E por Frei Damião esse nome foi dito
De um povo ordeiro e bastante educado
Se fores pra lá ficarás encantado
Alegria nas rimas sempre irei botar
E na nossa feira comecei andar
Falei com os feirantes com grande harmonia
E vou caminhando com muita alegria
Essa que é a feira lá do meu lugar.
Saindo da feira eu fui lentamente
E para igreja agora estava indo
Olhei para mesma, alegre, sorrindo
E meus versos fluindo da alma, da mente
Com muito cansaço sentei no chão quente
Olhando a igreja comecei orar
Pedindo para Deus me abençoar
E sob o sol ardente segui minha jornada
Com Deus me guiando nessa caminhada
É a fé que me guia nesse meu lugar.
A água corria por baixo da ponte
E a brisa fria batia em meu rosto
De felicidade fiquei inteiro posto
Que de alegria aquilo era a fonte
Eu olhei atento para o horizonte
Vi que o sol estava pronto pra deitar
E na água fria eu fui me banhar
Olhei pro arrebol com concentração
Minha Bom Jesus é a inspiração
Deu fazer galope lá no meu lugar.