Prosas,
rimas, trocas: cearenses na Flip 2019 alargam olhares sobre a produção
literária do Estado
Por Diego Barbosa
Com a proximidade da
Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), de 10 a 14 de julho, o Verso
destaca a participação de cearenses neste que é um dos principais eventos no
segmento do País
Demarcar o lugar e
relevância da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) nesta altura do
campeonato é exercício redundante. Cravada no calendário cultural do País desde
2003 como um dos mais importantes eventos no segmento, a iniciativa torna a
charmosa e prestigiada cidade do litoral fluminense um inspirado polo de
encontros, tendo como pilar a troca sempre urgente de debates e fazeres no
campo das letras.
Nesta 17ª edição, as
características que, pouco a pouco, fizeram-na ganhar as vistas do público não
perdem o rumo. Pelo contrário: seguem rastro certo ao alargar as possibilidades
de conexão, sobretudo com a região em que o Ceará está inserido.
O grande homenageado
deste ano, Euclides da Cunha (1866-1909), é autor de uma das obras seminais da
literatura nacional, "Os Sertões", cuja paisagem narrativa, para além
de contar um relevante capítulo da história do Brasil, reverbera aspectos
intrínsecos à regionalidade encontrada aqui e em todo o Nordeste.
Guia Flip: pontos que
merecem destaque no principal evento literário do País
Pluralidade sentida
também, de modo intenso, nos cearenses que ocuparão os espaços da festa. De
malas prontas para vivenciar os dias de maratona literária, de 10 a 14 de
julho, cada um e cada uma tratará de oportunizar novas perspectivas de
apreciação e leitura das estéticas inseridas em contos, cordéis, poesias e
ficções. Há muito para se discutir e comentar.
A começar por Jarid
Arraes. Nascida no Cariri e radicada em São Paulo, foi confirmada como uma das
atrações oficiais da Flip ainda em maio, munida de destaque: é a primeira
mulher cordelista a integrar a seleta programação do evento.
Em entrevista recente
concedida ao Verso, a escritora juazeirense explicou que a curadora da festa,
Fernanda Diamant, queria uma "visão refrescante do sertão" pelos
olhos de alguém como a autora, conhecida por promover interseções entre a
literatura e temas como gênero e raça.
Exemplo presente em
"As Lendas de Dandara", "Heroínas Negras Brasileiras em 15
cordéis" e "Redemoinho em dia quente" - primeiro livro de contos
dela, publicado pelo selo Alfaguara, destaque na mesa que participará ao lado
de Carmen Maria Machado, no dia 13.
Independente
Estando pela primeira
vez na festa no ano passado, como apreciador, o também cearense Mailson Furtado
volta a transitar pelas ruas de Paraty, agora com a conceituada marca de ser o
mais recente vencedor do Prêmio Jabuti. Desta vez, o retorno promete: a convite
da Kindle Direct Publishing, plataforma da Amazon, o poeta estará na Casa Libre
& Santa Rita de Cássia no dia 13 para conversar sobre autopublicação no Dia
do autor independente.
Do município de Varjota, o ganhador
do Prêmio Jabuti Mailson Furtado falará no evento sobre literatura independente
| Foto: Helene Santos
"Além disso,
terei outros momentos em alguns espaços para conversa sobre poesia e literatura
independente", sublinha.
"Levarei na
bagagem minha experiência enquanto autor sertanejo de uma cidade do interior e
as possibilidades de se fazer e consumir arte por estas bandas; também os
caminhos necessários da independência editorial e a importância da pulsação
sertaneja".
Para o criador do
premiado “à cidade”, fica a oportunidade para o público de acompanhar de perto
os diferentes espaços de troca e afirmações sobre o fazer artístico no Brasil,
embora pondere: “Infelizmente, por inúmeras questões (geográficas, econômicas)
é um evento direcionado a quem pode ir, e não a quem deseja ir, coisas que
refletem nosso país marcado por desigualdades”.
Tradição
Quem igualmente está
se organizando para marcar presença na Flip são os irmãos Arievaldo e Klévisson
Viana. O primeiro estreou na festa como convidado especial da Flipinha, em
2014. Neste ano, por meio do convite de Maria Elisabeth Costa - chefe da
Divisão de Pesquisa do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) - ocupará um
espaço mantido pela instituição divulgando a literatura de cordel, reconhecida
como Patrimônio Cultural Brasileiro em setembro de 2018.
Arievaldo Viana estará junto a outros
representantes do cordel no espaço mantido pelo Iphan, difundindo a tradição
local | Foto: Fernanda Siebra
"Além de mim, o
Iphan convidou os poetas Moreira de Acopiara, Klévisson Viana e outros autores
ligados ao cordel e à xilogravura", enumera.
"Conosco, estará a escritora,
antropóloga e professora aposentada da UFRJ, Luitgarde Oliveira Cavalcanti
Barros, uma autoridade sobre estudos do Messianismo no Nordeste. É claro que
falaremos da importância do patrono da feira, mas também nos debruçaremos sobre
outros autores que se ocuparam do tema Canudos", completa.
Arievaldo elucida ainda que, na
ocasião, seu último livro, "Os milagres de Antônio Conselheiro",
ganhará amplitude.
Klévisson Viana, por
sua vez, estreando por lá, tratará de dedicar falas envolvendo o cordel
deixando entrever um detalhe pertinente: "Creio que nossos autores terão
muito a acrescentar à Flip. No meu entendimento, nossa presença nada mais é que
o reconhecimento a essa grande contribuição que o Estado do Ceará tem dado para
as artes e letras do País e universalmente".
Além disso, não
dissocia a envergadura da festa com a necessidade de se pensar a literatura e a
sociedade na contemporaneidade. "Nesse momento que o Brasil padece de
tantos problemas sociais e políticos, é importante que façamos uma infusão na
nossa história, refaçamos caminhos, recuperemos um pouco da trajetória do nosso
povo e da nossa verdadeira identidade nacional", considera.
Ao estrear na Flip, Klévisson Viana,
autor de quase duas centenas de folhetos de cordel, atualizará temáticas nossas
| Foto: Erika Fonseca
Ainda na seara do
cordel, duas artistas do Crato, Anilda
Figueiredo e Dalinha Catunda, ligadas à Academia dos Cordelistas da cidade,
lançarão um folheto de peleja entre as duas.
O escritor,
jornalista, professor e cientista político Erivelto de Sousa também participará
da festa. Filho de nosso chão, lançará o livro "O Fantasma do Padre",
editado pela Autografia.
"A literatura e o
livro precisam de sempre mais espaço, e terão. Ler é sempre importante, pois
significa descobrir e revelar mundos, essência da vida", ressalta.
Com ênfase na ficção,
Erivelto de Sousa lançará "O Fantasma do Padre", romance ambientado
no interior do Ceará
Foto: Fabiane de Paula
Completando o time, o
cearense radicado no Mato Grosso, Felipe Holloway, ganhador do Prêmio Sesc de
Literatura neste ano na categoria Romance, estará no evento pelo estande do
Sesc. No total, o espaço terá cerca de 100 atrações, entre intervenções
artísticas, cafés literários, oficinas e exposições.
Fomento
Presidente da
Associação Cearense de Escritores (ACE), Silas Falcão organizou um grupo de 20
pessoas para a Flip do ano passado. Neste ano, contudo, por conta da crise
financeira de uma empresa aérea, não será possível repetir o feito.
Para ele, de modo a
fomentar a presença na Flip, há possibilidades a serem buscadas.
"Seria muito
aplaudida a colaboração das secretarias da cultura, do Estado e de Fortaleza,
quanto à participação mais efetiva da literatura cearense no evento. Até lá,
estamos analisando o aluguel de uma casa própria para esse segmento".
Que a vontade ressoe,
e ainda mais forte, porque temos muito a oferecer.
Serviço
17ª edição da Festa
Literária Internacional de Paraty (Flip)
De 10 a 14 de julho em
diferentes espaços da cidade de Paraty, Rio de Janeiro. Ingressos: R$ 55, cada
mesa. Mais informações pelo site oficial do evento.
Fonte: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/verso/prosas-rimas-trocas-cearenses-na-flip-2019-alargam-olhares-sobre-a-producao-literaria-do-estado-1.2116997
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