O VOO DA MORTE
Na parede dos fundos da bodega
Na brancura da cal toda lavada
A rolinha que voava, encandeada,
Cai ferida, ensanguentada e cega.
Ouço a voz animada de um colega
De brinquedos, comigo na calçada:
— Já que nunca as mataste em caçada
Aproveita, come esta, vamos, pega!
Fui menino e não tive a mão certeira
Se algum dia atirei de baladeira
Não me lembro de acertar u’a pedrada.
Pego o pobre pássaro e considero:
— Hoje é quarta de Cinzas, eu não
quero.
Saio mudo, dali, não digo nada.
Arievaldo Vianna