No
Tempo da Lamparina
(Arievaldo
Viana em busca do tempo vivido)
Recebi
com o atraso costumeiro dos correios algumas semanas atrás o livro No Tempo da Lamparina, do grande amigo Arievaldo
Viana, o segundo de uma trilogia sobre suas memórias de infância, que se
iniciou com o Sertão em Desencanto. E
melhor forma não poderia ter escolhido o poeta para marcar a passagem do seu
cinqüentenário que a produção dessa trilogia, que a julgar pelos dois primeiros
volumes, já nos põe a esperar ansiosos pelo terceiro tomo.
Escacaviando
os caminhos das lembranças em busca do tempo vivido, tendo a luz da Lamparina como guia, nas brenhas mais
remotas da memória, o novo livro de Arievaldo Viana nos apresenta o reino encantado
do sertão de sua infância. Sertão saudoso, quase em extinção das ‘mulher séria
e dos homem trabalhador’ do cantar inconfundível de Luiz Gonzaga; além disso o
memorialista relata seu processo de formação como leitor de cordéis, os causos
de sua família, a sua difícil e dolorida migração para Fortaleza quando ainda
adolescente viria a encontrar o vasto mundo. E por fim, elenca os perfis de
poetas populares que construíram seu imaginário como: Lucas Evangelista,
Gonzaga Vieira, Alberto Porfírio e outros. Fazendo com isso do livro No Tempo da Lamparina um retrato
profundo do gosto de vida no sertão do Nordeste brasileiro nas décadas de 70,
80 e 90 no final do século XX.
Na
prosa do escritor assim como nos seus cordéis aprecio a clareza da linguagem e
a fluidez dos textos, e é claro, aprecio o senso de humor, à moda dos
cearenses, sempre associado à inteligência e refinado. Com esse trabalho
Arievaldo Viana firma-se de modo definitivo como um grande memorialista do
panteão sagrado de nossas letras alencarinas, ao lado de Gustavo Barroso, de
quem, diga-se de passagem, é leitor contumaz.
Bruno Paulino -
Escritor