Na Escola dos Saberes de Barbalha, encontrei-me com o escritor Batista de Lima, da Academia Cearense de Letras, que como eu, participava de um evento promovido pelo incansável agitador cultural Rosemberg Cariri. Na ocasião, Batista de Lima tomou conhecimento da biografia de Leandro Gomes de Barros, que lancei em 2015, no sesquicentenário de nascimento do ilustre poeta paraibano. No último dia 17/10, o livro foi assunto da sua coluna semanal no Caderno 3, do jornal Diário do Nordeste:
Leandro Gomes de Barros
XILOGRAVURA de Arievaldo Vianna
(Todos os direitos reservados)
Batista de
Lima: Leandro,
o Cordel e Arievaldo
BATISTA DE
LIMA
caderno3@diariodonordeste.com.br
•
Arievaldo Viana
publicou em 2014 o livro "Leandro Gomes de Barros - Vida e obra".
Ainda hoje distribui esse livro em feiras, congressos e encontros literários.
Até parece que na atualidade não importa a qualidade do livro, o difícil é
encontrar leitor. Nesse caso, Arievaldo apresenta uma biografia crítica do
mestre da Literatura de Cordel, para muitos o pioneiro desse gênero literário
no Nordeste.
Em 170 páginas das
Edições Fundação Sintaf, de Fortaleza, e da Queima-Bucha, de Mossoró, a vida e
a obra de Leandro Gomes de Barros são apresentadas ao leitor com o zelo de
pesquisador que não dispensa o mergulho em fontes primárias para trazer à tona
tudo que diz respeito ao biografado. Para Pedro Nunes Filho, que escreve as
orelhas do livro, Leandro Gomes de Barros é "o mais famoso cordelista do
Brasil". Já na apresentação do livro, Marco Haurélio o classifica como
"patriarca da literatura de cordel e autor de, pelo menos, vinte clássicos
incontestáveis do gênero". Isso comprova o respeito com que intelectuais
de nomeada ainda hoje reverenciam Leandro como um clássico do cordel.
É tanto que ele
transforma tragédias gregas em folhetos populares. Confronta o sagrado com o
profano sem apelos para sectarismos. Por isso que Gilmar de Carvalho lembra, no
Prefácio, que esse poeta, pioneiro do nosso cordel, transita da tradição oral
para os livros de cavalaria e para as tragédias gregas com a mesma
desenvoltura.
Isso prova que Leandro
Gomes de Barros era um homem de instrução. Acontece que muita coisa sobre ele e
dele não nos chegou até hoje por escrito.
A tradição oral às
vezes acrescenta, às vezes se omite a propósito desse famoso poeta. Foi por
isso que Arievaldo Viana teve que viajar pelo Nordeste, entrevistar familiares
do poeta e consultar arquivos credenciados do cordel como o da Casa Rui
Barbosa, no Rio de Janeiro. Foi a cartórios e a velhos cantadores que estiveram
próximos a Leandro durante seus últimos anos de vida.
Desse trabalho
incansável e demorado surge essa obra de resgate de uma personalidade em vias
de cair no ostracismo.
De acordo com a
pesquisa de Arievaldo Vianna, Leandro Gomes de Barros nasceu na fazenda
Melancia, em Pombal (PB), no dia 19 de novembro de 1865, e faleceu em Recife
(PE), em 04 de março de 1918. Seus principais cordéis são "A Vida de Cancão
de Fogo e seu Testamento", "Donzela Teodora", "Alonso e
Marina", "Sofrimentos de Alzira", "Soldado Jogador" e
"Meia-noite no Cabaré". Este foi inspirado em "Noite na
Taverna", de Álvares de Azevedo. Há entretanto muitos outros cordéis de
sua autoria, além de muitos de onde seu nome foi retirado e colocada outra
autoria.
Essa questão da
autoria dos cordéis é um problema para pesquisadores sobre o tema. Geralmente
quando o espólio de um poeta era vendido, seu comprador comprava também os
direitos sobre a obra e mudava a autoria do folheto. Talvez tenha sido Leandro
Gomes de Barros uma das maiores vítimas desse comércio. Afinal, sabe-se que
após sua morte, sua esposa, D. Venustiniana, vendeu todo seu patrimônio poético
a João Martins de Athayde. Daí por diante o novo proprietário, também poeta
popular, começou a colocar seu nome em algumas obras que foram de Leandro.
Da mesma forma sabe-se
que com o falecimento de João Martins de Athayde, anos depois, todo esse
material foi vendido por seus familiares a José Bernardo da Silva, de Juazeiro
do Norte, proprietário da Gráfica São Francisco e da Lira Nordestina. Só mais
recentemente a Casa Rui Barbosa vem tentando, através de seus pesquisadores,
organizar e catalogar essas obras dispersas e de autorias nem sempre
verdadeiras.
Acredita-se, pois, que
essa pesquisa de Arievaldo seja também uma contribuição para esse trabalho da
Fundação.
Nesse processo de
venda do patrimônio poético de famosos cordelistas pelos seus descendentes, há
razões inquestionáveis que norteiam esses comportamentos. No caso de Leandro
Gomes de Barros, constata-se que ao morrer com 53 anos, o poeta deixa a mulher
e os filhos numa situação financeira em que não possuíam nem casa própria. Por
toda a vida, o cordelista morou de aluguel. Vivia da renda dos seus folhetos.
Além disso Leandro era
boêmio e passava tempos fora de casa em viagens de venda do seu material
poético. Dona Vênus, e era assim que ele a chamava, quando se viu viúva tendo
que sobreviver com os filhos, o único bem que possuía era o espólio poético
deixado pelo marido. Assim, ao final da leitura desse livro de Arievaldo
Vianna, o leitor se sente confortável para concluir ter mantido contato com um
valoroso apanhado crítico e biográfico do pioneiro do cordel nordestino.
É uma obra de cunho
também didático porque possibilita conhecer o mais popular de nossos gêneros
literários. O cordel, no auge de sua evolução, chegou a ser a crônica principal
das populações sertanejas. Isso aconteceu por se configurar uma literatura de fácil
absorção pelos seus leitores e ouvintes e também por trazer às camadas
populares uma legião de mitos e as lendas que os cercavam. Assim, verifica-se
que Arievaldo, com essa publicação, presta uma enorme contribuição para os
estudos e para a preservação da cultura popular entre nós.
PUBLICADO no Diário
do Nordeste, Caderno 3, edição de 17.10.2017
A quem possa interessar:
o livro LEANDRO GOMES DE BARROS, VIDA E OBRA
custa R$ 30,00 e pode ser adquirido através deste e-mail: acordacordel@hotmail.com