sábado, 28 de janeiro de 2012

VAI COMENDO, RAIMUNDÃO

JUMENTO MELINDROSO,
NO TEATRO CHICO ANYSIO




Não sei porque razão me “odilhas” tanto...

...ou NÃO SEI PORQUE RAZÃO NÃO CRÊS EM MIM!



Eu gostaria de agradecer o jornal O POVO, em especial ao pessoal do Caderno VIDA & ARTE, por não ter colocado uma linha sequer, uma mísera informação, um reles lembrete sobre o lançamento de meu livro “O JUMENTO MELINDROSO DESAFIANDO A CIÊNCIA”, no Teatro Chico Anysio, criado e administrado pelo meu genial amigo Jáder Soares, um dos melhores humoristas do Ceará, excelente caráter e pessoa da minha mais alta estima. Falta de aviso não foi! Desde quarta-feira passada que eu e Jáder Soares mandamos releases, fizemos ligações para lá e para cá, etc & Cia. E não saiu nem uma nesga de informação sobre este lançamento. Cheguei a triste conclusão de que aquele O POVO me “odilha”!!! Ou melhor, me lembrei daquela linda canção do AGEPÊ:

“Ela não gosta de mim / Ela não gosta de mim / Ela não gosta de mim... porque? Ela não gosta de mim!”

Eu vou dizer o porquê! Ou “porque”... Ainda não me adaptei às novas regras da gramática e já estou a ponto de seguir o conselho do meu amigo Glauco Mattoso, invulgar sonetista, que optou pela forma clássica (ou arcaica) de como a língua era escrita no século XIX, antes dessas reformas e “acaralhações” gramaticais.

No dia 08 de setembro de 2010 o jornal O POVO, caderno VIDA & ARTE, publicou uma matéria sobre o CEGO ADERALDO. Que coisa linda! Que beleza, PUXA VIDA... QUE LEGAL!!! Só não foi melhor porque fizeram uma cagada das grandes! Pense na ruma!!! O diabo é que o sujeito que fez a matéria, um tal de Pedro Rocha, (pode não ter sido ele, de repente foi o pessoal do banco de imagens),  cismou de trocar a foto do famoso Cego Aderado pela célebre imagem do não menos famoso Cego Oliveira. Eu me aporrinhei, coberto (creio eu) da mais sacrossanta razão. Intempestivo que sou, munido da mais lídima indignação, aquela mesma que moveu o personagem bíblico JUDAS MACABEU contra a invasão estrangeira ao país de Israel, inventei de postar um comentário lá no site do jornal, que dizia mais ou menos o seguinte:

“Parabéns ao VIDA & ARTE por resgatar a figura de um ilustre menestrel cearense, gostaria apenas de lembrar que a foto em questão, que aparece na primeira página do suplemento impresso, é do genial CEGO OLIVEIRA e não do mestre ADERALDO. Tenho plena certeza de que, se fosse uma matéria sobre STEVIE WONDER, vocês jamais publicariam uma foto do RAY CHARLES em seu lugar.”

Duvido muito que trocassem a foto do GERALDO (do Fortaleza), pelo NEIMAR!

Foi a gota d´água, meu (O) POVO. A partir dessa negra data (não foi 11 de setembro, foi dia 08, hein?), o pessoal do VIDA & ARTE passou a me “odilhar” com todas as forças e “cercunstanças”! Pelejei pra sair uma notinha no dia em que fui homenageado na 57ª Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro de 2011, mas O POVO nem fé deu...  Nunca mais saiu nada sobre mim, nem de bem, nem de mal. Por mim tudo bem, nada de mal, afinal de contas já fui citado em revistas da França, Alemanha, Estados Unidos e jornais de todo o país, principalmente Goiás, Tocantins, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba nem se fala, tenho uma pasta “atufada” de recortes, onde meu modesto trabalho é divulgado em centenas de publicações. Mas O POVO precisa saber do que ando fazendo... ou não, como diria o grande filósofo Caetano Veloso. Fui entrevistado pelo GLOBO RURAL e ainda tive a petulância de ser consultor do programa “SALTO PARA O FUTURO” da TV Brasil, dentre outros. Sim, e já fui entrevistado diversas vezes na TV O POVO, graças ao meu amigo Odilon Camargo, cabra da peste, cearense da gema, que por desconte de pecado nasceu em São Paulo e ainda é parente do Zezé di Camargo. (Pabulagem véia besta, porém oportuna... Já leram o ECLESIASTES? "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade... Há tempo para tudo, nesse mundo, inclusive para ser besta, mané-de-cóca e papangu de quaresma");

De repente, alguém pode perguntar: - QUEM DIABO É ARIEVALDO VIANA? Boa pergunta! Foi assim mesmo que HERIVELTO MARTINS reagiu quando ouviu a primeira pedra atirada por DALVA DE OLIVEIRA, composição de Ataulfo Alves. O Herivelto, da mini-série global disse exatamente isso: - Quem diabo é ATAULFO ALVES???!

Bom, mas voltemos a implicância do pessoal do VIDA & ARTE para com esse artista em questão... Em primeiro lugar, vocês vão me perguntar: - O que diabo é ODILHAR? De onde vem esse verbo? Explico:

Em Canindé existia uma senhora que era governanta da casa de um ex-prefeito que vivia às turras com um bajulador de plantão. O cara era uma espécie de “faz-tudo”. Trocava fralda de menino, pagava conta de luz, tirava bicho de pé, acendia a churrasqueira, assoprava o joelho da filha do alcaide quando ela caia da bicicleta, limpava a chaminé e quando alguém o chamava de puxa-saco ele respondia: - Quer bem que eu chame, né? O certo é que o rapaz implicava com a cozinheira e vice-versa. Ela, matuta legítima e carimbada na ‘aurela’, com certificado do IBAMA e do GREN-PEACE, possuía uma dentadura mas não gostava de usá-la. Em função disto, passou a andar com a dita dentadura pendurada num cordão e amarrada no pescoço. Mais um motivo para ser alvo de chacota e mangação por parte do agregado do prefeito, que não poupava os couros da miserável. Um dia, extenuada, cansada de tanta aporrinhação, ela resolveu abrir o verbo num dia em que o prefeito jantava com meia dúzia de correligionários importantes:
- Seu fulano, é demais, é demais, é demais...

- É demais o quê, dona Maria?

- É demais, é demais, é demais... a ‘prissiga’ desse rapaz com a minha pessoa. Não sei porque razão ele me “odilha” tanto”!

Gargalhada geral. E eu já saí dali compondo uma paródia, juntamente com os poetas J. Batista e Pedro Paulo Paulino:
Não sei porque razão me odilhas tanto / Não sei porque razão não crês em mim!!!
(Botem na melodia de DÚVIDA, de Augusto Calheiros)

E saiu também um cordel, que fiz em parceria com PETER PAN em plena assessoria de comunicação da prefeitura. Aquilo sim, era vida!

A PELEJA DE DONA ODILHA DO CASARÃO
COM SEU IRAQUE DO TUCUM

Fu-man-chu é um político
Das quebradas do sertão
Tem São Francisco das Chagas
Por santo de devoção
Porém parece que bebe
Ele nem dá nem recebe
Não acompanha o 'refrão'


Nesta última eleição
Candidatou-se a prefeito
Falou mais que camelô
Levou o povo com jeito
Era o único candidato
Que se socava no mato
Mais  a negrada do eito


Tinha um casal de assessores
Que vivia se arengando
Era um tal de 'Seu' Iraque
Que vivia fofocando
E Dona Odilha também
Esta valia por cem
Só vivia trabalhando


Odilha tinha a mania
De usar o lha-ga-lhá
Adorava a letra "L"
Gostava mais do "H"
O vernáculo em sua mão
Ganhou cada palavrão
De corar o "bê-a-bá"


Fu-man-chu, o tal político
Morava num casarão
Só recebendo visitas
Pessoas de posição
Odilha muito matuta
Com a velha roupa da luta
Entrava na discussão.


Fu-man-chu tinha lhe dado
Uma bela dentadura
Ela não se acostumava
Pois achava a bicha dura
E vivia abandonada
Num cordão dependurada
No pescoço ou na cintura


Mesmo assim de boca funda
Odilha era bem feliz
Fazia doce de leite
Chá de boldo e de raiz
Pra ganhar a  eleição
No alpendre do casarão
Amarrou uma perdiz.


Odilha tava cantando
No riacho do Iguaçu
Quando apareceu o cabra
Pulando igual um timbu
Com olhar muito enxerido
Perguntou por seu marido
Tava feito o sururu.


Tinha o cabra a venta torta
E um fungado sem fim
As pernas tortas também
E o bafo de "butiquim"
De tal modo que a figura
Desse cabra na pintura
Era igual um guaxinim


Tinha o olho de sonhim
A força de um vitelo
No alpendre do casarão
Nunca perdeu um duelo
Chamando-a de minha filha
Desafiou D. Odilha
Para cantar um martelo


Odilha disse: eu num canto
Cum cabra desconhecido
Porque pode ser um preso
Que anda aqui foragido
Além do mais tu "higia"
Se vier cum putaria
Eu vou chamar meu marido


Iraque, muito espantado
De raiva ficou vermelho
E disse: - Odilha, você
Tem que escutar meu conselho
Ela disse: - Tanto faz
Que amizade assim pra trás
É milhó até perdê-lho.

E não meta seu bedelho
Pois sou muié de familha
Se tu ainda insisti-lho
Vou chamar a minha tilha
Que é irmã do meu palho
Vá a casa do caralho
Saia já da minha trilha


Iraque nesse momento
Quis pegar no seu gogó
E D. Odilha se armou
Pegando logo um cipó
E lhe disse: seu canalha
Deste lugar você salha
Senão fica mais pilhó!

Seu Iraque então botou
Uma linda cara feia
E respondeu: d. Odilha
Vou puxar suas urêia
Hoje a senhora perdeu
Pois um cara cumo eu
Num se pega de parêia.


Ela disse: coma arêlha
E rebolou o entulho
Uma mão cheia de terra
Trazia em um embrulho
Depois do preto acertar
Odilha foi se queixar
Ao seu chefe Fu-man-chulho.

E disse: chefe, hoje quaje
Eu perdia o meu istilho
Mande esse cabra nojento
Sem empalho cumê milho
Não vou perder meu conceito
Pois cabra assim sem respeito
É a coisa que eu mais odilho!


Eu sou irmã do Mozalho
Que é pessoa que brilha
E eu num sei porque élho
Que seu Iraque me odilha
Sempre votei no sinhôlho
Num tuléro esse baitôlho
Pela luz que me alumilha.


Fu-man-chulho, me acredite
É verdade o que lhe falho
Esse bicho me persegue
Desde o miado de malho
Mas eu num perdi o gás
Pois ele morre e num faz
Eu calar o meu badalho.


Nisto chegou Andrezinho
Advogado de Odilha
Dizendo assim: companheiros
Seu Iraque é umas pilha
Aquilo é um bilifutes
E além do mais a Cut's
Tratou do caso em Brasilha


Mas Iraque não é doido
Para cometer besteira
Com ordem de Fu-man-chu
Largou os pés na carreira
Dizendo: Ninguém caçoe
E pra Vila Campos foi
Contratar Broca Silveira


Eu resolvo é na peixeira
Diz Broca determinado
Eu num aliso baitôla,
Rapariga, nem soldado
Já sou dela um inimigo
Garanto que lhe aprissigo
Ela vai cumê tampado


Andrezinha retrucou
Eu num sei nem quem é Broca's
Eu nem bebos alhuares
E nem como tapiócas
Nem tampouco solto traques
Vá dizer a esse Iraques
Que tome na suas locas!

Disse Broca: vá pra lá
Que você num tem mais saldo
Eu sou lá da Vila Campos
Sou primo do Zerivaldo
E o cabra que é home
Diabo de bolo num come
Tijolim nem bebe caldo



Home come é rapadura
Feijão, farinha e toicim
E essa tal de d. Odilha
É porca igual bacurim
Escarra, tosse e espirra
E eu tô tomando birra
Ela num serve pra mim


E Broca, puxando a faca
Franziu o couro da testa
E disse a André, se arrede
Se num quisé prová desta
Seu baitôla fedorento
Tu és pior que jumento
Arrimidêia mas num presta


Mas d. Odilha, culpada
Nessa briga deu cavaco
Iraque então descobriu
Da rival o ponto fraco
Escondeu-lhe a dentadura
Depois deu-lhe rapadura
Fez um papel de macaco

Ninguém mais se entendia
Naquele grande boró
A pobre da d. Odilha
Chorava de fazer dó
E limitou-se a dizer
Eu num quero nem sabê
Lha-ga-lhá e lho-go-lhó.


Depois disso d. Odilha
Dançou um lindo can-can
Pôs a chapa num cordão
Eu vô mimbora aminhã,.
E para incerrá, meu filho
Eu vô trabalhá no sitilho
Do sanfoneiro AMAZAN!


Chegando lá no tal sítio

Odilha rogou-lhe praga-lha

Disse a mão que apedreja-lha

É a mesma que afaga-lha

Leão é quem dá esturro

E quem nasce pra ser burro

Vai morrer é na cangalha



Comandante Fu-man-chulho

Não quis ficar do meu lado?

Vou pegar um cururulho

Deixo todo costurado

E digo sem ter engano

Daqui para o fim do ano

O seu mandato é cassado



Que praga traiçoeira

Oh! Que coisa pra dar certo

Fu-man-chu que se julgava

Sagaz, ladino e esperto

Enfrentou a sina dura

E hoje, da prefeitura

Não pode passar nem perto



Odilha ficou feliz

Seu coração tá vingado

A Câmara se rebelou

E Fu-man-chu foi cassado

Hoje é político de araque

E seu secretário Iraque

Também tá desempregado



FIM


Isso posto, e tendo a questão devidamente esclarecida, gostaria de agradecer, mais uma vez, ao pessoal do VIDA & ARTE, com a mesma sinceridade de um JOÃO GALAMARTE e do PEDRO MALAZARTES por não fazer parte dessa ARTE.

Verdade seja dita, eu não sou muito de puxar brasa para minha sardinha, de vender a própria mãe para aparecer na mídia ou como diria o Gonzaguinha, 'botar a bunda na janela para alguém passar a mão nela' . Quem me conhece de perto sabe disso... Mas livro é como se fosse filho. E pelos filhos da gente, é natural que a gente tome as dores. Porque tanta indiferença com o pobre do JUMENTO? O jornal impresso ainda é a melhor forma de se divulgar um lançamento de livro (por pior que seja) e meus esforços foram baldados por conta (creio eu) dessa pendenga irrisória. Fica o dito pelo não dito!

Não poderia terminar esse texto sem citar meu ilustre amigo ELY AGUIAR, que por sua vez parafraseou o nosso ilustre humorista CHICO ANYSIO: - VAI CUMENDO, RAIMUNDÃO!
Finalmente, como dizia o grande poeta ZÉ MARCOLINO (o inesquecível autor de "Sala de reboco") -  O SANTO QUE NÃO ME AJUDA, PODE CAIR DA PAREDE!

SAUDADE da minha amiga ELEUDA DE CARVALHO!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

ACORDA CORDEL NOS STATES

ACORDA CORDEL compõe a web da Library of Congress, Washington
O blog ACORDA CORDEL  foi incluído em um novo projeto de arquivo de web, Brazil Cordel Literature Online (BCLO), patrocinado pela Library of Congress, Washington. 19 sites foram selecionados por membros da equipe que se reuniram em 30 de novembro no Rio de Janeiro.
 
A Biblioteca do Congresso tem arquivado sites desde 2000. Você pode ver as coleções da Biblioteca arquivadas em:

Eis a relação dos links selecionados:

Literature de Cordel - Web Resources

http://www.camarabrasileira.com/cordel.htm External Link
http://www.zehonorio.blogspot.com/ External Link
http://www.teatrodecordel.com.br/ External Link
http://www.cordelonline.com.br/ External Link
http://www.soutomaior.eti.br/mario/dicf.htm External Link
http://www.jessierquirino.com.br/ External Link
http://cordelonline.zip.net/index.html External Link
http://mundocordel.blogspot.com External Link
http://cordeldesaia.blogspot.com External Link
http://www.ablc.com.br External Link
http://cordelparaiba.blogspot.com External Link
http://www.acordacordel.blogspot.com External Link
http://oficinadecordel.blogspot.com External Link
http://barretocordel.wordpress.com External Link
http://cecordel.com External Link
http://cecordel.blogspot.com External Link
http://marcohaurelio.blogspot.com External Link
http://varnecicordel.blogspot.com External Link
http://cantinhodadalinha.blogspot.com External Link
http://ncordel.blogspot.com External Link
http://rosarioecordel.blogspot.com External Link
http://cordelirando.blogspot.com External Link
http://allancordelista.blogspot.com External Link
http://www.projetomvc.blogspot.com External Link

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ARIEVALDO NO TEATRO CHICO ANYSIO

Jáder Soares (Zebrinha) e Arievaldo Viana

LANÇAMENTO DE “O JUMENTO MELINDROSO”
NESTE SÁBADO, 28/01, NO TEATRO CHICO ANYSIO

Finalmente o ‘Jumento Melindroso’ saiu na tão esperada versão livro infanto-juvenil, com o selo da Editora PREMIUS, patrocínio da Fundação Sintaf e apoio cultural da AAFEC e do SINTAF-CE. O lançamento oficial acontecerá no próximo sábado, dia 28 de janeiro, durante o PROGRAMA DO ZEBRINHA, no Teatro Chico Anysio, a partir das 19h30. O caso, tido como verídico se passa no final do século XIX, quando ainda governava o imperador D. Pedro II, em pleno Sertão Central do Ceará. Trata-se da história de um astucioso jumento que afronta os saberes acadêmicos de dois renomados cientistas europeus.

O livro saiu com tiragem inicial de 2 mil exemplares e está sendo comercializado a R$ 15,00. Texto e ilustrações do autor, que contou com a colaboração de EDUARDO AZEVEDO na composição de algumas cenas.


PROMOÇÃO – Este lançamento, no TEATRO CHICO ANYSIO, tem uma promoção especialíssima. Quem adquirir o ingresso para o Programa do Zebrinha ganhará, automaticamente, um exemplar autografado da obra.
A primeira pessoa a adquirir o ingresso ganhará também uma passagem de jumento (no lombo do melindroso) de Quixadá a Paris (só de ida, hein?)

TRECHOS:

Quando Dom Pedro II
Enviou ao Ceará
A Comissão Científica,
Seguiram pra Quixadá
Uns franceses cientistas
Dois meteorologistas
Sondar o tempo por lá...

O velho açude do Cedro
Se encontrava em construção
Pois a seca dos dois setes
Quase aniquila o sertão;
Dom Pedro, muito sisudo,
Mandou fazer um estudo
Daquela situação.

De posse da previsão
Daquele grupo perito,
Podia se precaver
Contra o fenômeno maldito
De víveres municiado
Como já fez no passado
Um Faraó do Egito*.

E lá se foram os franceses
Jean Pierre e Raimundo,
Que era Raymond, na verdade,
Um cientista profundo
Doutor em astronomia
E em Meteorologia
Era o mais sábio do mundo.

Seguindo então um conselho
Que dera o Imperador
Ao chegar em Quixadá
Raymond, o sábio doutor
Foi ao coronel Cazuza
Com sua fala confusa
Conduzindo um tradutor.

É própria da nossa gente
A boa hospitalidade!
E o Coronel Cazuza
Diante da sumidade
Recebeu a Comissão
Com as honras de sultão
E grande amabilidade.

(...)

Breve nas melhores livrarias de Fortaleza. Pedidos para: acordacordel@ig.com.br

SERVIÇO:

Programa do Zebrinha

Apresentação do Humorista Jader Soares e convidados
Convidado da Semana: ARIEVALDO VIANA - Poeta popular, chargista e escritor
Horario - 19:30
Local: Teatro Chico Anysio (Av. Universidade, 2175, Benfica)
Ingressos: R$ 20,00 (Inteira) e R$ 10,00 (Meia) – Vendas no local -

ATENÇÃO! O INGRESSO DÁ DIREITO A UM EXEMPLAR AUTOGRAFADO DO LIVRO!
Inf. (85) 3252 3741 - 9991 0460



DADOS BIOGRÁFICOS DO AUTOR:

ARIEVALDO VIANA - foi um “menino véi malino e fiote”. Nasceu no Sertão Central do Ceará e foi criado com feijão de corda, queijo de coalho, cuscuz e rapadura, à luz de lamparina e bebendo água de pote. Foi alfabetizado em meados da década de 1970, graças ao valioso auxílio da Literatura de Cordel. Muito cedo descobriu a vocação poética mas só começou a publicar seus livros e folhetos no final da década de 1990, quando lançou O Baú da Gaiatice e uma caixa de folhetos com 10 títulos chamada Coleção Cancão de Fogo, sucesso imediato de vendas e de crítica, verdadeiro ponto de partida para o renascimento desse gênero poético, que estava praticamente desaparecido com o fechamento das grandes editoras de cordel.

Através do Projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, que utiliza a poesia popular como ferramenta paradidática, ARIEVALDO tem percorrido diversos estados brasileiros (quase todos do Nordeste, além de Tocantins, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul) realizando palestras, oficinas e recitais para estudantes, educadores e amantes da poesia popular nordestina.

Foi eleito em 2000 para a cadeira de número 40 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, cujo patrono é o poeta João Melchíades Ferreira (1869  1933), um dos pioneiros desse gênero, ex-combatente da Guerra de Canudos, personagem do romance A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e autor do célebre romance O valente Zé Garcia, considerado por Câmara Cascudo a mais autêntica descrição do modo de vida do povo nordestino no século XIX. Em 2002 conquistou o premio Domingos Olimpio de Literatura, promovido pela Prefeitura de Sobral-CE, com uma adaptação do romance Luzia Homem para o cordel. Tem vários livros publicados, alguns dos quais adotados pelo MEC através do PNBE (Programa Nacional da Biblioteca Escolar).

Já escreveu e publicou mais de 100 livretos de cordel e vários livros, em diversos gêneros literários, com predominância do cordel e da literatura infanto-juvenil.


ORDEM CRONOLÓGICA DOS LIVROS


1986 – Canindé da Lenda a Realidade – Quadrinhos

1999 – O Baú da Gaiatice – Editora Varal

2002 – São Francisco de Canindé na Literatura de Cordel – Edições Livro Técnico

2003 – A Mala da Cobra – Almanaque da Molecagem Cearense (inédito)

2003 – A moça que namorou com o bode, em parceria com Klévisson Viana (HQ)

2005 – Acorda Cordel na Sala de Aula – Editora Queima-Bucha, Mossoró-RN

2006 – A Raposa e o Cancão – Coleção Baião das Letras – SEDUC/CE (Reeditado pela Editora IMEPH, foi selecionado para o PNBE 2007)

2007 – O Pavão Misterioso (livro infanto-juvenil ilustrador por Jô Oliveira) – Editora IMEPH

2007 – O Bicho Folharal (Infanto-juvenil em cordel) – Editora IMEPH

2008 – Padre Cícero, o Santo do Povo – Edições Demócrito Rocha (Foi destaque na Feira de Bologna-Itália e recebeu selo de ALTAMENTE RECOMENDÁVEL da FNLIJ)

2008 – A ambição de Macbeth e a maldade feminina – Editora Cortez (PNBE 2009)

2009 – Dona Baratinha e seu casório atrapalhado – Edições Demócrito Rocha

2010 – João de Calais e sua amada Constança – Album de HQ em cordel – Editora FTD (PNBE 2012)

2011 – A peleja de Chapeuzinho Vermelho com o lobo mau – Editora Globo Livros

2011 – Luiz Gonzaga – O embaixador do sertão - Coleção “do Nordeste para o mundo”, com ilustrações de Rafael Limaverde

2011 – O Coelho e o Jabuti – Globo Livros

2012 - O Jumento Melindroso desafiando a ciência - Editora Prêmius

A SAIR:

2012 - João Bocó e o Ganso de Ouro - Editora Globo

2012 – Leandro Gomes de Barros – Vida & Obra (biografia e antologia)

2012 – O tronco do ipê em cordel (adaptação da obra de José de Alencar)

2012 – Antologia poética de Arievaldo Viana – Editora Queima-Bucha de Mossoró

2012 – Luzia Homem em cordel (trabalho vencedor do prêmio Domingos Olimpio de Literatura em 2002, sairá no formato livro em versão revista e ampliada).

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

JANUÁRIO E SEUS OITO BAIXOS

Januário e Santana tocando para os filhos dançarem

Januário e sua sanfona de oito baixos - texto de Leo Rugero

Esse texto está disponível num site inteiramente dedicado à sanfona de oito baixos.

Pouco sabemos a respeito de Seu Januário, pai de Luiz Gonzaga e “vovô do baião”. José Januário dos Santos nasceu em Floresta, sertão de Pernambuco, no dia 25 de setembro de 1888, ano da Abolição da Escravatura. Alguns dizem que Januário não teria nascido em Floresta, mas em algum outro município dos arredores. Também não se sabe, ao certo, em que ano Januário chegou à Fazenda Araripe, nas terras pertences ao Coronel Manuel Aires de Alencar, filho de Gauder Maximiliano Alencar de Araripe, o Barão de Exu. Pelo que conta a história oral, esta palavra homônima do orixá africano, é uma corruptela de Ansú (?), grupo indígena que habitava a Serra do Araripe. Daí o nome daquele latifúndio pertencente ao Barão ter sido posteriormente batizado de Exu.
Januário trabalhava como agricultor e na confecção de couro. Não se sabe como Januário teria aprendido a tocar e afinar sanfona de oito baixos.
Teria sido sozinho, isolado no sertão pernambucano? Alguns dizem que ele teria conhecido um mascate judeu na Chapada do Araripe.*
Nas recordações de infância de Luiz Gonzaga, seu pai aparece como um sanfoneiro respeitado das redondezas. De forma mítica, Januário é apontado como o pioneiro da sanfona nordestina. Com certeza, haviam outros sanfoneiros, com seus solos de sanfona que talvez tenham sido levados para sempre no vento que sopra nas catingas, a espera de que alguma fotografia ou lembrança familiar seja encontrada para que a história possa ser reescrita. Se sabemos algo mais sobre Januário, isso se deve à Luiz Gonzaga. Graças às letras e narrativas de Gonzaga, conhecemos tão bem certos personagens e detalhes daquela região que muito provavelmente estariam esquecidos, ou, ao menos, escondidos por trás da espessa mato do cerrado.
A atuação profissional de Januário no contexto fonográfico foi errática, tendo ocorrido em 1955, na gravadora RCA-Victor, quando gravou dois discos de 78 rotações, acompanhado de sua prole. No selo dos discos, o velho sanfoneiro era apresentado como “Januário, seus filhos e sua sanfona de oito baixos”. Nestas gravações, podemos ouvir a “sanfona abençoada”, tal como se refere Luiz Gonzaga no xote “Januário vai tocar”. A letra autobiográfica, discursa sobre o papel social do sanfoneiro nos bailes interioranos e reforça a relação deste instrumento com o passado rural e as populações menos favorecidas economicamente: “a cidade te acha ruim, mas eu não acho".

Ai, ai, sanfona de oito baixos,
Do tempo que eu tocava na beira do riacho.
Ai, ai, sanfona de oito baixos,
A cidade te acha ruim, mas eu não acho

Lá na Taboca, no Baixio, lá no Granito,
Quando um cabra dá o grito: - Januário vai tocar!
Acaba feira, acaba jogo, acaba tudo,
Zé Carvalho Carrancudo tira a cota pra dançar.

Outra música gravada por Januário é o solo instrumental “Calango do Irineu”, que pode nos revelar um pouco da técnica e do estilo pessoal de Januário. Neste baião, está presente a 7a menor da escala maior, tão característica da música trazida por Luiz Gonzaga. Também estão as 3as paralelas e consecutivas, segundo o maestro Guerra-Peixe, uma reminiscência do gymel, uma técnica de harmonização medieval surgida na Inglaterra tão presente na música brasileira. Acima de tudo, nesta música encontramos aquele “tempero” que torna peculiar o estilo nordestino de tocar sanfona, que é facilmente perceptível ao primeiro toque, embora difícil de ser descrito em palavras.
Alguns anos antes, em 1950, Januário seria apresentado ao grande público, através do disco e do rádio, por seu filho, Luiz Gonzaga e o parceiro Humberto Teixeira, com o xote “Respeita Januário”. Numa narrativa metalingüística, Gonzaga descreve seu deslocamento de Exu, foragido de uma briga, da qual foi ameaçado de morte, e a longa epopéia que culmina com o retorno ao berço natal, já consagrado como Rei do Baião no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Escrito com tinturas épicas de uma saga nordestina, o relato de Gonzaga tornou-se maior e mais real do que a história literal, onde personagens ganham vida em diálogos que teriam sido inventados, mas que acabaram tomando vida própria e se eternizando de forma mítica na imaginação popular. Muito provavelmente, pela primeira vez, na história da canção popular urbana, se versava sobre a sanfona de oito baixos e o papel social do sanfoneiro no sertão nordestino. Outro aspecto salientado pela letra desta canção é a relação de constante recusa e desafio entre pai e filho que permeia a transmissão da herança cultural, que não é ensinada, mas é aprendida.
No ano de 1952, Luiz Gonzaga reuniu seu pai e seus irmãos, formando o conjunto “Os Sete Gonzagas”, que realizou apresentações inesquecíveis nas rádios Tupi, Tamoio e Nacional. Por sorte, estas gravações foram registradas em áudio, e podemos ouvir as performance de Januário ao vivo.
No entanto, Januário poderia ser aquele personagem da letra de Gilberto Gil para a melodia “Lamento Sertanejo” de Dominguinhos. Avesso à cidade grande, “por ser de lá do sertão, lá do roçado, lá do interior do mato, da catinga e do roçado”. Januário não se adaptou ao sitio dos Gonzaga em Santa Cruz da Serra, no Rio de Janeiro. Preferiu voltar a Serra do Araripe, entre a catinga e o roçado, na lavoura, tocando sanfona de oito baixos na beira do riacho.
No entanto, a despeito de sua atuação profissional em música ter sido tão breve e fugaz, sua herança foi transmitida através dos filhos; Luiz Gonzaga, Zé Gonzaga, Severino Januário e Chiquinha Gonzaga. Através deles, a música do velho Januário foi ressignificada ao contexto fonográfico, se entranhando na alma nordestina, como se fizesse parte da paisagem sertaneja, traduzindo em contornos melódicos a poética do sertão.




Januário veio a falecer aos 90 anos, em 11 de junho de 1978, em Exu. Salve Januário, pai de Luiz Gonzaga e pioneiro da sanfona de oito baixos na região Nordeste.
* A respeito dessa pergunta do autor LÉO RUGERO eu gostaria de informar que no final do século XIX o sanfoneiro IRINEU ARAÚJO  pai de Edmundo, João, Nelson e Mário Araújo já difundia o fole de oito baixos na região de Quixeramobim-CE, tocando inclusive polcas e xotes que apareceram posteriormente no repertório dos filhos de Januário. Logo se vê que Januário, sendo um sanfoneiro respeitado e afinador, pode haver criado uma escola, mas não foi exatamente o pioneiro no manuseio desse instrumento aqui no Nordeste brasileiro. Quando Januário passou a se interessar pelo instrumento com certeza já havia outros sanfoneiros em atividade no interior de Pernambuco e no Cariri cearense, pois a ligação de Januário e seus filhos com o Crato era muito forte.